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O fim de uma era: Fahd Jamil se entrega e Jamil Name morre

Fahd Jamil, conhecido como o “Rei da Fronteira” e Jamil Name, o “Velho”, foram alvos da Operação Omertà

Geisy Garnes | 31/12/2021 08:57
Fahd Jamil, conhecido como o “Rei da Fronteira” e Jamil Name, o “Velho”, juntos foram os nomes poderosos em MS (Foto: Arquivo)
Fahd Jamil, conhecido como o “Rei da Fronteira” e Jamil Name, o “Velho”, juntos foram os nomes poderosos em MS (Foto: Arquivo)

Por décadas, o nome Jamil foi sinônimo de poder em Mato Grosso do Sul. Enquanto, Fahd Jamil controlava a fronteira do Estado com o Paraguai, Jamil Name retinha o domínio do jogo do bicho em Campo Grande. Em 2021, os dois “reinados” foram interrompidos, prisão e morte colocaram fim a uma era de domínio.

Fahd Jamil, conhecido como o “Rei da Fronteira” e Jamil Name, o “Velho”, foram alvos da Operação Omertà, que em 2019, pela primeira vez, comprovou a existência de um grupo de extermínio em Mato Grosso do Sul.

A história começou em setembro daquele ano, quando um dos nomes mais conhecidos de Campo Grande foi preso por liderar o grupo de assassinos. Ao lado do filho, Jamilzinho, Name foi acusado de pelo menos sete assassinatos, corrupção e associação criminosa, além de ser apontado como o chefe do jogo do bicho na cidade.

Por alguns dias, o Instituto Penal de Campo Grande foi a “casa” de Name. Mas os riscos de manter alguém tão poderoso em um presídio estadual foram considerados e ele, mandado para a Penitenciária Federal de Campo Grande. Lá, foi acusado de organizar um atentado contra os agentes responsáveis por sua prisão e uma nova mudança foi feita. Ele passou a habitar o presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Já antes disso, no entanto, a ligação de Jamil Name com Fahd Jamil era de conhecimento popular. Sempre foram amigos próximos, ao ponto de o “Rei da Fronteira” ser o padrinho do filho do empresário, também preso na operação, Jamil Name Filho.

Foto do fim de 2017 mostra Jamil Name, o filho Jamilzinho e o Fahd Jamil, em festa de Réveillon (Foto: Arquivo de família/Direto das Ruas)
Foto do fim de 2017 mostra Jamil Name, o filho Jamilzinho e o Fahd Jamil, em festa de Réveillon (Foto: Arquivo de família/Direto das Ruas)

Pelo menos um dos crimes imputado a pai e filho está diretamente ligado a essa relação com Fahd Jamil: o assassinato do sargento aposentado da PM (Polícia Militar), Ilson Figueiredo, 62 anos.

Para a força-tarefa responsável pela operação, o homicídio foi vingança pela morte de Daniel Alvarez George, o “Danielito”, filho de “Fuad” que sumiu em maio de 2011, aos 43 anos, e foi dado como morto em janeiro de 2020. Foi por esse crime, além do suporte que o “Rei da Fronteira” dava para as ações criminosas do comparsa, que ele acabou alvo das investigações.

Segundo a polícia, ao lado de Claudio Rodrigues de Souza, vulgo “Meia Água”, e Alberto Aparecido Roberto Nogueira, o “Betão”, Ilson Figueiredo foi apontado como autor da execução de Daniel. Os três homens foram mortos em 2015, 2016 e 2018, respectivamente.

Diante dos indícios, em junho de 2020, ocorre a terceira fase da Omertà. Também é expedido, então, mandado de prisão para “Fuad” pelos crimes de organização criminosa, tráfico de arma de fogo, obstrução de Justiça, corrupção e homicídio. Além dele, o filho Flavio Correa Jamil Georges, conhecido como “Flavinho”, se tornou procurado pela polícia.

Foram dez meses de buscas. A notícia era que o “Rei da Fronteira” estava no Paraguai, vivendo entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, fronteira onde manteve negócios há décadas. Os conflitos pelo controle do tráfico na região, no entanto, também atingiram Fahd e ele começou a ser ameaçado de morte pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).

Equipes do Garras no Aeroporto Santa Maria, à espera da Fahad Jamil Georges (Foto: Henrique Kawaminami)
Equipes do Garras no Aeroporto Santa Maria, à espera da Fahad Jamil Georges (Foto: Henrique Kawaminami)
Aeronave com Fahd Jamil sendo levado para dentro de hangar, no dia 19 de abril (Foto: Henrique Kawaminami)
Aeronave com Fahd Jamil sendo levado para dentro de hangar, no dia 19 de abril (Foto: Henrique Kawaminami)

Foram o risco de morte na fronteira e a saúde debilitada que fizeram o inimaginável acontecer. No dia 19 de abril, Fahd Jamil se entregou ao Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros). Ao lado de um dos filhos, chegou à Capital de avião e foi recebido pelas equipes no Aeroporto Santa Maria, na zona rural da cidade.

Foram 51 dias na cela do Garras até conseguir prisão domiciliar. Neste tempo, precisou de cuidados especiais, como presença de enfermeira, e chegou até a passar por uma cirurgia de emergência no coração. Só então foi liberado para responder ao processo em liberdade.

À esquerda, foto de Fahd Jamil em casamento na década de 1980 e à direita, "Fuad" em audiência por videoconferência, já em prisão domiciliar (Fotos: Reprodução)
À esquerda, foto de Fahd Jamil em casamento na década de 1980 e à direita, "Fuad" em audiência por videoconferência, já em prisão domiciliar (Fotos: Reprodução)

Enquanto isso, a defesa de Jamil Name travava uma verdadeira batalha na Justiça para conseguir o mesmo benefício. Nesta época, o empresário estava internado com covid-19. Ele deu entrada no dia 31 de maio e seu quadro de saúde, que já apresentava diversas alterações, piorava a cada dia com o vírus.

No dia 27 de junho, Name encerrou de vez sua trajetória na Terra. Fahd Jamil não foi ao funeral do amigo de uma vida.

Jamil Name na foto da identidade, aos 42 anos. Ele morreu com 82 anos. (Foto: Reprodução de processo)
Jamil Name na foto da identidade, aos 42 anos. Ele morreu com 82 anos. (Foto: Reprodução de processo)

O fim da era de Name e Fahd chegou, mas a quantidade de pessoas no velório do empresário, que foi sepultado ao som aplauso de policiais e da música Mercedita, e os elogios ao "Rei da Fronteiro" mostram a importância dos dois personagens contraditórios, que marcaram a história de Mato Grosso do Sul.

Já detido, Fahd recebeu cartas de apoio assinadas por nada menos que o prefeito de Ponta Porã, Hélio Peluffo Filho, e o presidente da Câmara de Vereadores, Rafael Modesto Carvalho Rojas, ambos do PSDB. Era uma tentativa de pressionar o Judiciário e deixá-lo "sair da cadeia".

No documento enviado à Justiça ele foi considerado como "importante equilíbrio” à região fronteiriça Brasil/Paraguai, “pelos bons relacionamentos que mantém com forças policiais do Brasil e do Paraguai”.

Réu em 13 processos, Name ganhou o direito de ser considerado inocente. Fahd aguarda pelas decisões dos juízes sobre os crime pelo qual está envolvido.

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