Por mês, quase 15 mil buscam rede de saúde em MS com diagnóstico de obesidade
Estado fica bem acima da médica nacional de obesidade e colocou em consulta pública política de cuidados
Thainara Holanda enfrenta a obesidade desde criança. Quando a balança lhe mostrou 178 quilos e os exames apontavam para uma pré-diabetes aos 27 anos, ela encarou a gravidade do problema de saúde e decidiu tratá-lo a fundo.
"Meus pés começaram a inchar, tive depressão, ansiedade, não ia para outros lugares fora o trabalho", conta. Hoje, ela está com 28 anos, é coordenadora de call center e o tratamento escolhido já deu resultado: perdeu 50 quilos.
Depois de tanta dieta "maluca", segundo ela, o que realmente funcionou foi ser acompanhada por nutrólogo, nutricionista, psicólogo e personal trainer, para perder peso sem ter que se submeter a uma cirurgia bariátrica. A operação para reduzir o estômago não era uma opção que ela desejava.
Acima da média - Em 2023, mesmo ano em que Thainara começou a tentar o tratamento contra a obesidade já classificada como mórbida, 152.522 pessoas foram diagnosticadas com a doença em Mato Grosso do Sul. Em 2024, o número de novos registros já ultrapassa os 67 mil até 15 de maio, média de quase 15 mil pessoas por mês.
Os dados são do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, que reúne dados apenas dos atendimentos na rede de atenção primária do SUS (Sistema Único de Saúde), e foram apurados pela SES (Secretaria Estadual de Saúde). Como a quantidade não soma quem é atendido na rede particular ou quem nunca buscou ajuda para lidar com a obesidade, o número pode ser bem maior.
Estudo sobre morte decorrente de obesidade, feito por pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Chile a partir de dados de 2019, já colocou o Estado na liderança desses casos. A SES informou que não há atualização em relação a esse indicador, ainda. "O dado refere-se a um artigo publicado, com uma metodologia específica. Portanto, só poderemos responder quando nova pesquisa for publicada", justificou a pasta.
Os números atuais da obesidade em Mato Grosso seguem bastante preocupantes. "Nossa média estadual está acima do Centro-Oeste e acima da nacional", confirma o gerente de Atenção à Saúde das Pessoas com Sobrepeso e Obesidade da SES e também presidente da Associação Sul-mato-grossense de Nutrição, Anderson Holsbach.
Caminho - Até 26 de maio, a SES vai deixar aberta para consulta e sugestões uma LCSO (Linha de Cuidado da Pessoa com Sobrepeso e Obesidade), como resposta aos índices de obesidade no Estado. Ela indica todo o caminho que o paciente percorre para tratar o problema, listando o que o poder público deve oferecer para isso, e de que forma.
Anderson explica qual é esse trajeto, hoje: o paciente recebe o diagnóstico num posto de saúde, faz exame de IMC (Índice de Massa Corporal) e depois é encaminhado para grupos de promoção à saúde e terapêuticos. "Se houver uma redução do peso de 5% a 10% já é considerado satisfatório, mas ele deverá seguir o tratamento", afirma.
O gerente da SES defende que a solução para reverter os números, é envolver diversas áreas, assim como está sendo o tratamento de Thainara.
"Precisamos prezar pela educação e redução do consumo de alimentos ultraprocessados, entender a cadeia produtiva de alimentos, envolver Secretarias de Saúde, Esporte e Lazer, enfim, pensando tudo isso num único movimento", diz Anderson.
Bariátrica - A redução de estômago, ainda falando da rede pública, é considerada somente em casos de obesidade mórbida – quando o resultado do IMC é igual ou maior do que 40. É preciso ter indicação médica.
Em Campo Grande, segundo a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), há 64 pacientes esperando para agendar bariátricas pelo SUS no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul e para o Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, na Capital. Outros 28 aguardam pela primeira entre as demais consultas que antecedem a operação.
No início deste mês, a SES anunciou que iniciará mutirão pelo programa MS Saúde, para desafogar a lista de espera por esse procedimento em todo o Estado.
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