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Cidades

Rap indígena, Manoel de Barros e Pantanal: veja como MS já apareceu no Enem

Conflitos por terras, turismo e até reportagem jornalística já foram temas relacionados ao Estado no Enem

Por Lucas Mamédio | 03/11/2024 08:13
Questão do Enem de 2023 sobre o grupo de rap indígena Brô MCs (Foto: Reprodução)
Questão do Enem de 2023 sobre o grupo de rap indígena Brô MCs (Foto: Reprodução)

O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) terá sua primeira etapa realizada neste domingo (3) em todo país. Em Mato Grosso do Sul são 51.199 inscritos e, nenhum deles, como não poderia ser diferente, sabe exatamente o teor das questões que irá encontrar pela frente.

Porém, olhando para trás, é possível ver que Mato Grosso do Sul já apareceu nas questões do exame de várias formas. São temas que vão desde a poesia de Manoel de Barros até a biodiversidade do Pantanal.

A questão de destaque mais recente envolvendo Mato Grosso do Sul foi sobre o grupo de rap indígena Brô MCs, o mais antigo grupo de rap indígena do Brasil, que surgiu em 2009 na aldeia Jaguapiru, em Dourados.

O Brô MCs, o mais antigo grupo de rap indígena do Brasil, surgiu em 2009 na aldeia Jaguapiru, em Dourados, e se destacou por unir a cultura urbana contemporânea ao ativismo indígena. O enunciado destacou que o grupo foi influenciado pelo rap que ouviu no rádio e não apenas popularizou o gênero entre os jovens indígenas, mas também promoveu a luta por causas importantes, como a demarcação de terras. Fundamentado pelo texto, a questão queria saber o que revela o rap dos povos indígenas revela.

Em 2013, por exemplo, uma questão explorou a poesia de Manoel de Barros. A questão era sobre o poema “O menino que carregava água na peneira”, onde autor convida o leitor a desconstruir a lógica cotidiana. A resposta correta para a questão proposta era que, na visão do menino, “a lógica e o senso comum não são determinantes” (alternativa D). Esta interpretação revelaria a valorização da imaginação e da criatividade, características centrais na obra de Barros, que se opõem ao pragmatismo da vida moderna.

Apesar da utilização do poeta como tema em 2013, anos depois, em 2019, a revista Piauí teve acesso a documentos que mostraram que o MEC censurou usar Manoel novamente. A censura foi acerca de uma questão que citava o verso “No descomeço era o verbo”, do poema "O Livro das Ignorãças", que foi retirada sob a alegação de que feriria sentimentos religiosos.

Na época, educadores, como o professor Rossine Benício, criticaram a atitude, argumentando que a arte e a literatura são fundamentais para o desenvolvimento do pensamento crítico. Manoel de Barros é um dos poetas mais citados em exames. A censura não se limitou a ele, afetando também outros escritores e temas considerados polêmicos, refletindo um movimento mais amplo de restrição ideológica no ensino.

Questão do Enem de 2018 que sobre o pajubá (Foto: Reprodução)
Questão do Enem de 2018 que sobre o pajubá (Foto: Reprodução)

Outra polêmica que envolve Mato Grosso do Sul e o Enem foi utilização, no exame de 2018, de uma reportagem de um jornal local, escrita pelo jornalista Guilherme Cavalcante, sobre o pajubá, reconhecido como um “dialeto” utilizado pela comunidade LGBTQIA+.

A questão dizia que o dialeto emerge como um elemento de patrimônio linguístico, especialmente por sua consolidação em objetos formais de registro, como o dicionário Aurélio.

A questão foi duramente criticada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu entorno. “Uma questão de prova que entra na dialética, na linguagem secreta de travesti, não tem nada a ver, não mede conhecimento nenhum. A não ser obrigar para que no futuro a garotada se interesse mais por esse assunto. Temos que fazer com que o Enem cobre conhecimentos úteis", disse o capitão reformado em entrevista ao vivo ao apresentador José Luiz Datena no Brasil Urgente, da Band.

O Pantanal, que tanto sofre em 2024 com o fogo, apareceu em questões de 2010 e 2019. O exame enfatizou a dinâmica ambiental do Pantanal, caracterizada pelo regime de cheias e secas. A resposta correta na questão de 2010, que abordava o regime hídrico do Pantanal, reforçava a importância desse ciclo natural para a fertilidade da região.

Além das questões ambientais, os conflitos relacionados às terras indígenas também foram foco em questões do Enem. A questão de 2012 destacou os guarani-kaiowá e os desafios que enfrentam devido à perda de suas terras tradicionais para a agropecuária, sublinhando a importância da demarcação de terras para a preservação cultural e ambiental.

A questão mais antiga encontrada pela reportagem usando Mato Grosso do Sul como tema é de 1998 e fala sobre a posse de terras no Estado, ilustrando a tensão entre proprietários rurais e trabalhadores sem terra. A pergunta usa depoimento de um integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que destaca a necessidade de uma distribuição mais equitativa, argumentando que "a terra é para quem trabalha nela e não para quem a acumula como bem material."

O Enem também já abordou o turismo sustentável em regiões como Bonito. A questão de 2017 enfatizava a importância de práticas que minimizam os impactos ambientais, destacando que o turismo deve ser um aliado na conservação dos recursos naturais.

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