Associações mostram que empoderamento feminino vai muito além do Dia da Mulher
Mais do que bloco de Carnaval e campanha de respeito, grupos feministas debatem política públicas
Nos últimos anos, grupos de trabalho formados por mulheres foram ganhando espaço em Campo Grande na promoção de debates e até decisões políticas que impactam diretamente na vida de cada uma. Elas efetivamente fazem "barulho" pela ocupação de espaços e direitos de fala.
O Grupo de Trabalho Akilombar do MNU/MS (Movimento Negro Unificado de Mato Grosso do Sul) faz parte disso e iniciou as atividades enquanto coletivo, em outubro de 2022. Na época, a servidora da Justiça Federal Kelly Cristina Alves Massuda e a companheira dela, Camila Maiara, já atuavam de forma independente em diálogos com quilombolas, com estudantes da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) e algumas rodas de conversa.
"Hoje somos um grupo de trabalho dentro do Movimento Negro Unificado de Mato Grosso do Sul, pertencente ao MNU nacional, um movimento que fará 45 anos, em 18 de junho, e que fez o enfrentamento da ditadura militar pela defesa de pessoas negras e luta pela igualdade racial", explica Kelly. A funcionária pública complementa dizendo que a organização do povo preto em coletivo é necessária para a união de forças na luta contra o racismo e pela igualdade racial. "Também precisamos de acolhimento e afetos em especial, compreender o que são esses afetos e como eles podem se construir", acrescenta.
Juntas, elas moveram diversas provocações para organização e, hoje, já são mais de dez pessoas engajadas em fazer o movimento acontecer. "Temos diversas ações, dentre formações políticas, reuniões de acolhimento e eventos que buscam levar a pauta da igualdade racial e do antirracismo para as ruas e para a cena cultural e de lazer da cidade".
O Farofa com Dendê, o bloquinho antirracista foi criado pelo Akilombar do MNU/MS. O grupo dividiu com o Cordão Valu o último dia do Carnaval. "Fomos convidados por ela para fazer uma intervenção e trazer a pauta antirracista para o carnaval da cidade e foi lindo e muito potente, uma construção coletiva feita a muitas mãos, muito trabalho e empenho de militantes".
Kelly acredita que pessoas pretas podem se amar, se acolher e construir juntas o quilombo para se fortalecer e lutar pelo olhar para as humanidades e vidas. "Lutar pelas questões raciais é lutar pela vida, é parte do meu existir todos os dias, tanto quanto ser mulher. Não é romântico, nem fácil, nem lindo todos os dias. Mas é necessário e num país como o Brasil, machista e racista, que nos mata pela cor e por ser mulher, não é uma escolha, mas a única possibilidade de viver. Transformar o luto em luta todos os dias é o que me alimenta e motiva, não apenas por mim, mas porque é a única alternativa possível para viver sendo quem eu sou, uma mulher negra".
Para participar do movimento é necessário entrar em contato pelo instagram @mnu.ms.gta, ficar atento às reuniões de acolhimento, que servem para apresentar os valores e princípios do grupo, bem como às regras e, caso a pessoa tenha interesse, fazer a filiação ao movimento.
Neste ano, o MNU pretende manter as reuniões de acolhimento e formação política. Organizar o núcleo de base para estudos das masculinidades negras, permanecer levando o Farofa com Dendê "para as ruas da cidade em tantos outros locais possíveis, dentre outras ações que o coletivo dialogar enquanto pertinentes a nossa luta".
Na Capital, também existe a Associação Elas Podem, que nasceu em 2020, como coletivo. Um grupo de cinco cofundadoras conseguiu conquistar lugar de destaque na cidade, trazendo à tona diversos debates através das redes sociais, ações presenciais, campanhas, oficinas, intervenções e conteúdo audiovisual.
"Promover essa discussão das mulheres na política é desafiador, ainda mais na política que é muito machista, que só pensa nas experiências dos homens. Precisamos adentrar com nossas demandas e reivindicações, porque muitas vezes somos silenciosas. Mas é preciso se manter firme. É uma motivação do grupo que se fortalece e dos resultados que vemos na prática do nosso trabalho", explica uma das fundadoras, a administradora Aimê Barbosa Martins Bast, 33 anos.
O objetivo é construir uma sociedade melhor, mais justa e igualitária. "Principalmente por conta das experiências compartilhas, de dor, opressão, mas também a sororidade, afeto e acolhimento que encontramos umas nas outras. É uma busca por uma transformação social", ressalta.
Do grupo de cinco mulheres, elas se transformaram em uma multidão. Além de promoverem a liberdade e o respeito durante a folia, com intervenções de conscientização sobre respeito no Carnaval, elas fazem outras ações pela Capital.
"Esse ano daremos continuidade às ações de educação menstrual junto a escolas e comunidades, vamos promover mais ações de prevenção e combate à violência contra meninas e mulheres, além de nos mobilizar em razão de demandas e garantia de direitos das mulheres", acrescenta Aimê.
Para participar das ações basta ser voluntária ou se associar, sem nenhum custo. Para isso é preciso preencher uma ficha de associação que permite que a Associação Elas Podem apresente projetos e participe das reuniões de deliberação.
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