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Capital

Autoridades culpam leis brandas por criminalidade que perdura há anos

Luana Rodrigues | 11/02/2016 15:39
No bairro, moradores não se identificam, mas dizem que bairro está tomado pelo tráfico. (Foto: Marcos Ermínio)
No bairro, moradores não se identificam, mas dizem que bairro está tomado pelo tráfico. (Foto: Marcos Ermínio)

Entre a lei do silêncio imposta veladamente aos moradores e a ineficácia das leis, é o crime quem impera em pontos do Tiradentes, bairro na região leste de Campo Grande conhecido por abrigar, em algumas de suas ruas e becos, traficantes de drogas. Quem vive ali inevitavelmente conhece até detalhes da rotina dos criminosos, enquanto autoridades policiais culpam a fragilidade da legislação para não liquidar o problema.

O Campo Grande News mostrou, com base em depoimento de moradores, que a situação no bairro já se arrasta há 20 anos. “Na maioria das vezes nós prendemos os suspeitos com pouca quantidade de drogas, sabemos que ele está comercializando, mas ele nega, diz que é para consumo. Nesse caso, não é possível autuá-lo por tráfico, apenas pelo porte da drogas e, para isso, a pena não é prisão, ou seja, ele volta para o bairro”, afirma o capitão Felipe Soares Malhada, subcomandante da 6ª Companhia da Polícia Militar, responsável pela segurança no Tiradentes.

Conforme o capitão, o crime de tráfico de entorpecentes é um dos mais complicados de serem combatidos por conta da justificativa “é para consumo”. Ainda segundo o militar, outro problema é que, assim como dizem moradores da região, o comando do tráfico usa adolescentes e até crianças para fazerem o comércio das drogas. “Nesses casos, fica ainda mais difícil de punir”, diz Malhada.

Questionada sobre as ações no Tiradentes, a PM afirma ainda, por meio da assessoria de imprensa, que faz o policiamento ostensivo e preventivo no bairro. “Constantemente são feitas operações, são presos traficantes, apreendidas drogas, tudo encaminhado para a delegacia, no entanto, a PM não é onipresente e não trabalha sozinha, o serviço de investigação é essencial”, justifica a corporação.

O serviço de investigação, citado pela Polícia Militar, é de responsabilidade da Polícia Civil. Instalada no Tiradentes, é a Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico) que tem a obrigação de combater o tráfico em toda cidade, mas nem no bairro o trabalho tem tido efeito.

Segundo o delegado titular da Denar, Rodrigo Guiraldelli Yassaka, a falha está na lei. “Nós conhecemos o problema do Tiradentes e em toda cidade. Vamos lá, prendemos os criminosos, na maioria das vezes em flagrante, mas no outro dia a Justiça solta. Não é da polícia que isso tem que ser cobrado e sim do Judiciário, do Ministério Público”, analisa.

Apesar de dizer que conhece o problema e que atua no bairro Tiradentes, a polícia não tem dados, por exemplo, de quantos foram presos na região neste ano ou mês, nem da quantidade de operações realizadas ali. A explicação do delegado para a criminalidade, que há mais de 20 anos se arrasta pela região, está em uma lei que protege bandidos. “Há uma política de protecionismo a usuários, por exemplo. Enquanto existir isso, o tráfico não vai acabar. Porque é o usuário que o mantém e, contra este, praticamente não existe punição”, disse.

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