Catadores reclamam de ação violenta durante interdição
Os relatos no lixão de Campo Grande são de pessoas assustadas, surpreendidas pela ação da Polícia Militar hoje pela manhã, durante interdição do local.
A impressão é de que os catadores da região não imaginavam que os policiais garantiriam o fechamento do espaço, mesmo que na base da força.
Há 10 anos Josilene de Souza Medina trabalha no lixão. “Aquilo lá é o nosso sustento, tenho 5 filhos”, protesta a mulher de 30 anos.
Ela conta que a PM “jogou gás e passou a dar tiros”, o que revoltou as pessoas que estavam no local. Segundo ela, todos saíram correndo, “mas a Polícia continuou dando tiros. Tinha mulher grávida, crianças”, protesta.
Os catadores resolveram interditar trecho da rodovia que dá acesso ao lixão para impedir a chegada de mais policiais, o que intensificou o conflitou.
Em meio a muita gente falando ao mesmo tempo, uma mulher dizia que pai de 76 anos também estava ferido. As crianças, nervosas, gritavam sobre muita gente sangrando.
Milton Bezerra da Silva era um dos feridos, levou um tiro de raspão na nuca. “Não vi muito bem o que aconteceu. Eu estava de costas. A gente se reuniu para negociar e eles já começaram a atirar”, garante.
O catador de 40 anos diz ter visto “muitas bombas de efeito moral e barulho dos tiros”.
Elaine de Souza, 22 anos, classifica de “terrível” as cenas desta manhã. “A gente tentava acordo para não desocupar, mas eles não deixaram a gente entrar”, conta.
A mesma versão tem Rosemeire Bezerra da Silva, 33 anos. “A gente tentava conversar, mas todo mundo chegou atirando”.
A frente da operação, o major Adilson Macedo, do 10º Batalhão, garante que não houve excessos. Ele diz que a tropa chegou por volta das 8 horas e por quase 4 horas negociou a interdição pacífica do lixão, sem sucesso. “Eles queriam algo que não seria concedido nem aqui e nem agora: impedir o fechamento do lixão.”, justifica.
Mas também fala que tudo estava "muito confuso e o grupo não definiu lideranças para negociação" com a PM, o que levou ao confronto.
Sobre o uso de bombas de efeito moral e balas de borracha, o major garante que não houve outra saída, principalmente, depois do bloqueio da BR 262. “Houve solicitação para o desbloqueio. Não foi acatada a ordem para retirada da rodovia e nós avisamos que teríamos de usar a força”.