Chefe de milícia no RJ é testemunha de defesa em júri de jovem fuzilado em MS
Defesa do ex-guarda municipal Marcelo Rios convocou "Orlando Curicica", também preso no RJ, para testemunhar
A defesa do ex-guarda municipal Marcelo Rios convocou o ex-policial militar Orlando de Oliveira de Araújo, o "Orlando Curicica", para prestar depoimento no processo em que Rios é réu por matar o estudante Matheus Coutinho Xavier. O testemunho será feito por meio de videoconferência.
"Orlando Curicica" é considerado líder de milícia atuante na zona oeste do Rio de Janeiro. No ano passado, foi condenado a 25 anos de prisão, apontado como mandante da execução de Carlos Alexandre Pereira Maria, o “Cabeça”, líder comunitário na região de Jacarepaguá.
O pedido de inclusão de "Orlando Curicica" foi feito pelos advogados Márcio Widal, Luiz Renê Gonçalves do Amaral e Nayara Andrade, no dia 10 de julho, sendo protocolado para avaliação do juiz da 2ª Vara do Tribunal.
No documento, consta que a defesa de Marcelo Rios não conseguiu localizar Carlos Freitas, testemunha inicialmente convocada. Com base no artigo 451, III, do CPP (Código de Processo Penal), que autoriza a substituição quando a pessoa listada inicialmente não é localizada.
O pedido foi deferido pelo juiz ontem, que também encaminhou intimação à Penitenciária Federal de Mossoró (RN) para que compareça, no dia 18 de julho, às 13h, na sala de videoconferência do estabelecimento penal para prestar depoimento.
O presídio é o mesmo onde estão Jamil Name Filho e Marcelo Rios, ambos réus do processo da morte de Matheus Coutinho. O terceiro acusado, o policial civil aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, conhecido como Vlad, já foi transferido para Campo Grande, por conta do julgamento, a ser realizado dos dias 17 a 20 de julho.
A reportagem entrou em contato com a defesa de Marcelo Rios para saber qual será a participação de “Orlando Curicica” como defesa, mas não obteve retorno. Os advogados informaram apenas que irão justificar a relevância da testemunha durante o julgamento.
Rio – De acordo com Ministério Público do Rio de Janeiro, "Orlando Curicica" atuava como líder de milícia na região de Curicica, zona norte da cidade.
O crime aconteceu no dia 8 de abril de 2018. Carlos Alexandre Pereira Maria, conhecido como Alexandre Cabeça, foi morto com três tiros, quando estava em bar, em Jacarepaguá. A vítima era líder comunitário e colaborador informal do vereador Marcelo Siciliano, coletando demanda dos moradores para que o parlamentar passasse para os órgãos competentes.
Na denuncia do MPRJ, os quatro executores teriam recebido de R$ 500 a R$ 1.250,00 para matar Alexandre Cabeça.
Conforme investigação, "Orlando Curicica", em parceira com Diogo Maia dos Santos, mandou matar a vítima como queima de arquivo, pelo fato de ele ter divulgado em redes sociais que Santos era responsável pela morte de homem conhecido como “Carrapa”.
Em agosto de 2022, o ex-PM foi condenado por homicídio triplamente qualificado, "cometido mediante pagamento ou promessa de recompensa, por perigo e com impossibilidade de defesa da vítima". Desde 2017, estava preso e, em 2018, foi transferido da Penitenciária de Bangu para o Presídio Federal de Mossoró.
Em 2018, "Orlando Curicica" foi acusado de ter participado do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Segundo o jornal O Dia, a informação veio do policial Rodrigo Jorge Ferreira, o "Ferreirinha", e foi apontada pela advogada do policial, Camila Moreira Nogueira, como sendo falsa.
Na investigação, o ex-policial militar acusou o grupo chamado de Escritório do Crime de estar envolvido no assassinato. Os depoimentos de "Orlando Curicica", que se tornou peça-chave no caso, mudaram o foco das investigações e também serviram para fundamentar o pedido de federalização do caso.
Julgamento - Conforme a tese do MPMS, o acadêmico de Direito foi vítima de atentando que teria como alvo o pai, porque Paulo Roberto Xavier era desafeto do grupo comandado por Jamil Name, o “Velho”, e Jamilzinho.
O atentado aconteceu por volta das 18h do dia 9 de abril de 2019, uma terça-feira, na frente de casa de Paulo e Matheus Xavier, no Jardim Bela Vista, bairro nobre da Capital. A investigação apurou que o jovem foi morto por engano, pois estava manobrando o carro do pai. O rapaz foi atingido com sete tiros e o disparo fatal foi na base do crânio.
Jamil Name teve o nome excluído do processo depois de sua morte, em maio de 2020, vítima de covid-19. O processo foi desmembrado para outros dois réus, por estarem foragidos: José Moreira Freire, o “Zezinho”, e Juanil Miranda Lima.
Os dois, segundo a acusação, seriam os pistoleiros, responsáveis pela execução. “Zezinho”, que foi morto em troca de tiros com a Polícia Militar em Mossoró (RN), em dezembro de 2020, também teve nome excluído.
Juanil Miranda ainda está foragido e, neste caso, a Justiça determinou a suspensão dos trâmites até que ele seja recapturado.