ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
OUTUBRO, TERÇA  07    CAMPO GRANDE 27º

Capital

Com apenas 1,4 quilômetro, ciclovia na Mato Grosso leva o "nada a lugar nenhum"

“Acaba na Ceará”, diz pedreiro, que queria ligação até o Centro; não há previsão de ampliar trajeto

Por Aline dos Santos e Gabi Cenciarelli | 07/10/2025 12:14
Com apenas 1,4 quilômetro, ciclovia na Mato Grosso leva o "nada a lugar nenhum"
Ciclovia na Avenida Mato Grosso não leva ao Centro da cidade. (Foto: Juliano Almeida)

Com apenas 1,4 quilômetro, a ciclovia implantada pela Plaenge como contrapartida por construção de edifício em Campo Grande chama a atenção pelo trajeto: leva o nada a lugar nenhum.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

A Plaenge está construindo uma ciclovia de 1,4 quilômetro na Avenida Mato Grosso, em Campo Grande, como contrapartida pela construção de um edifício de alto padrão. O trajeto, que vai do cruzamento com a Rua Ceará até a rotatória da Via Parque, tem gerado críticas por não se conectar a pontos importantes da cidade. Ciclistas reclamam da falta de continuidade do percurso, que não chega ao Centro nem ao Parque dos Poderes. A obra, com previsão de conclusão para 30 de dezembro, teve seu traçado definido pela Agetran. A empresa afirma que o projeto integra o plano de mobilidade urbana da cidade e foi executado preservando todas as árvores existentes no local.

O começo é no início no cruzamento da Avenida Mato Grosso com a Rua Ceará. Percorridos os 1.400 metros, a ciclovia termina cerca de 20 metros antes da rotatória com a Via Parque. Portanto, quem esperava chegar ao Centro da cidade ou ao Parque dos Poderes vê seu plano frustrado.

“Porque aqui acaba, né? Seria bom se tivesse continuação”, afirma o pedreiro Luciano de Oliveira Brito, 52 anos, diante do término da ciclovia na Ceará. No fim da tarde de segunda-feira (dia 6), Luciano seguia do Parque dos Poderes para o bairro São Conrado. No caminho, faz atalhos para aproveitar os poucos trechos com faixa exclusiva para as bicicletas.

Com apenas 1,4 quilômetro, ciclovia na Mato Grosso leva o "nada a lugar nenhum"
Luciano seguia do Parque dos Poderes para o Bairro São Conrado. (Foto: Juliano Almeida)

“Não dá para ir só pela ciclovia”, diz o pedreiro, que sai da Mato Grosso e vai até a Avenida Afonso Pena para se conectar com outra ciclovia. Os caminhos cortados motivam crítica. “Concordo que é coisa para ‘inglês ver’. Não conecta com lugar nenhum”, diz Luciano.

Para o pedreiro Sidney Pinheiro de Sousa, 40 anos, o prolongamento do trajeto traria mais segurança para quem passa pela Avenida Mato Grosso, que tem bastante fluxo, principalmente no fim da tarde.

“Está num local perfeito, precisava por causa desse trânsito, que é muito cheio. Dá para ir tranquilo. Só que o problema é que ela acaba na Ceará. Se fosse mais para baixo um pouco, seria melhor. Se for para ir ao Centro, por exemplo, já não dá. Tem que cair por dentro do trânsito e fica bem difícil”, afirma Sidney.

Com apenas 1,4 quilômetro, ciclovia na Mato Grosso leva o "nada a lugar nenhum"
 "Se for para ir ao Centro, por exemplo, já não dá", diz Sidney sobre a ciclovia. (Foto: Juliano Almeida)

No local, há marcas de galhos podados para abrir caminho. “Gosto das árvores porque elas dão uma respiração melhor para a gente. Mas é uma coisa ou outra. De todo jeito, a ciclovia ajuda bastante, porque esse horário aqui é muito pesado. A gente quer chegar em casa tranquilo”, destaca Sidney.

Pintor de prédio, Raimundo Júnior, 33 anos, tem a bicicleta como meio de transporte. “Agora, estou andando uns 2,5 quilômetros por dia porque trabalho aqui no Parque do Sóter. Mas já cheguei a pedalar até 16 quilômetros, indo para lugares mais longe, tipo a Cafezais”.

Com apenas 1,4 quilômetro, ciclovia na Mato Grosso leva o "nada a lugar nenhum"
Raimundo tem a bicicleta como meio de transporte. (Foto: Juliano Almeida)

Ele destaca que falta a ciclovia da Avenida Mato Grosso chegar ao Centro, mas se mostra otimista. “Eu acho que mais para frente eles vão melhorar”.

A ciclovia é uma compensação da Plaenge ao município pela construção do Edifício Artheo, localizado na Rua Euclides da Cunha, no Jardim dos Estados. Os apartamentos são de alto padrão.

Com apenas 1,4 quilômetro, ciclovia na Mato Grosso leva o "nada a lugar nenhum"
A ciclovia é compensação da Plaenge por prédio no Jardim dos Estados. (Foto: Reprodução)

O quadro atual da obra, conforme avaliado por engenheiro ouvido pelo Campo Grande News, indica que o pavimento teve solo compactado, aplicação de cascalho (a bica corrida, mistura de pedras de vários tamanhos) e pintura com o piche. Em geral, a próxima etapa é a aplicação da massa asfáltica. Na sequência, é preciso fazer a sinalização vertical e horizontal, além da pintura do meio-fio.

O piche está no ponto mais perto da Rua Ceará. No restante do traçado, o caminho é marcado com estacas e cascalho. Perto da rotatória com a Via Parque, à direita, há uma outra ciclovia, mas elas não se conectam.

Com apenas 1,4 quilômetro, ciclovia na Mato Grosso leva o "nada a lugar nenhum"
Obra não se conecta com a ciclovia da Via Parque. (Foto: Marcos Maluf)

De acordo com a Plaenge, a aplicação de piche faz parte do processo técnico de pavimentação. O material é utilizado para impermeabilizar o solo, com maior durabilidade e aderência das camadas seguintes.

Após o piche, será feita a pintura de ligação e, em seguida, a aplicação do CBUQ (concreto betuminoso usinado a quente), conhecido popularmente como asfalto. A previsão é de que a ciclovia fique pronta no dia 30 de dezembro.

Com apenas 1,4 quilômetro, ciclovia na Mato Grosso leva o "nada a lugar nenhum"
Trecho da ciclovia que está em obras na Avenida Mato Grosso. (Foto: Juliano Almeida)
Com apenas 1,4 quilômetro, ciclovia na Mato Grosso leva o "nada a lugar nenhum"
Trecho da ciclovia ainda coberto só com cascalho no canteiro da Mato Grosso. (Foto: Marcos Maluf)

A empresa não divulgou o custo da obra de contrapartida pela construção do prédio. “O orçamento ainda está em fase de consolidação e será divulgado assim que for finalizado”.

Recentemente, a prefeitura informou que vai pagar R$ 1,6 milhão por ciclovia de 2,4 km no Parque Novos Estados. Neste caso, a obra é pública.

E o trajeto? – Sobre a extensão e local da ciclovia, a Plaenge afirma que o traçado foi previamente definido pela Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito). Após essa etapa, os projetos executivos foram aprovados na agência e na Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviço Público).

“A iniciativa integra o plano de mobilidade urbana da cidade, contribuindo para a ampliação da malha cicloviária, oferecendo alternativas sustentáveis de deslocamento, mais segurança e melhor qualidade de vida aos usuários”, informa a empresa.

Com apenas 1,4 quilômetro, ciclovia na Mato Grosso leva o "nada a lugar nenhum"
Trecho de ciclovia na Avenida Mato Grosso com a Rua Ceará. (Foto: Juliano Almeida)

A reportagem questionou a Prefeitura de Campo Grande se há projeto para prolongar a ciclovia, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.

Quanto ao impacto ao meio ambiente, a Plaenge informa que não houve a remoção de árvores. “O projeto da ciclovia, incluindo seu traçado e execução, foi desenvolvido de forma a preservar todos os indivíduos arbóreos existentes. Portanto, nenhum exemplar foi ou será removido para a realização da obra”.

Com apenas 1,4 quilômetro, ciclovia na Mato Grosso leva o "nada a lugar nenhum"
Àrvore com galho podado no traçado da ciclovia. (Foto: Juliano Almeida)

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.