Com cruzes fincadas em canteiro de avenida, mulheres pedem fim do feminicídio
Nas estacas, fotos das vítimas que perderam a vida para o crime, entre elas a da jornalista Vanessa Ricarte

Com cruzes fincadas em canteiro da avenida Afonso Pena, mulheres se juntaram para pedir o fim do feminicídio e o direito de existir, trabalhar e amar sem opressão ou medo. Ao todo, 35 pessoas participaram do ato no cruzamento da avenida com a Rua 25 de Dezembro.
RESUMO
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Mulheres protestaram em Campo Grande com cruzes fincadas em canteiro de avenida, simbolizando vítimas de feminicídio, incluindo a jornalista Vanessa Ricarte e a empresária Mirieli Santos. O ato, realizado no Dia da Mulher, destaca a luta diária contra a opressão e o medo. A antropóloga Priscila Anzoategui enfatizou a necessidade de transformar a angústia em força, mencionando o assassinato de oito mulheres em menos de três meses, incluindo três indígenas. Maria Cristina Ataide, do Fórum Permanente Pela Vida das Mulheres e Crianças de MS, criticou a ineficácia das políticas públicas e a falta de voz para as vítimas e suas famílias. Adriane Quilombola, sobrevivente da violência doméstica, ressaltou a importância de lutar pela existência e valorização das mulheres, denunciando o descaso e o machismo estrutural presentes no país.
Nas cruzes, fotos das mulheres que perderam a vida em 2025, vítimas da violência, entre elas, a da jornalista Vanessa Ricarte e da empresária Mirieli Santos, assassinadas em fevereiro deste ano.
A ação, feita no Dia Internacional da Mulher, é um lembrete da luta que o gênero trava diariamente e os direitos que são esquecidos. A antropóloga Priscila Anzoategui destaca que o objetivo é transformar a angústia em força.
“Vamos marchar em repúdio a todas as mulheres vítimas do feminicídio. Em menos de três meses 8 mulheres já foram assassinadas.Entre elas três eram indígenas e essa pauta também tem que ter visibilidade”.
Segundo ela, a Casa da Mulher Indígena que será construída em Dourados não pode ficar com a administração exclusiva da gestão municipal. “O relatório que elaboramos sobre a Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande com várias recomendações tem que ser utilizado como alerta para outras casas”.
O Relatório de 300 páginas foi feito em 2020 e já apontava falhas e a necessidade de melhorias na rede de atendimento às mulheres no local. O documento foi elaborado por cinco pesquisadoras. Saiba mais sobre o assunto aqui.
A produtora de audiovisual, Elis Regina acha importante que as mulheres saibam que a luta é constante contra o feminicídio e que isso tem ainda ainda peso no Dia das Mulheres.
“Esse dia é importante, mas acho que a gente tem que ter a consciência e a clareza de que todos os dias são dias de luta. Vivemos em um País que mata mulheres todos os dias. Não é fácil ser mulher nesse aqui, é muito machismo e descaso mesmo com todas as leis, vemos o que está acontecendo em Mato Grosso do Sul. É uma data de comemoração mas a luta é diária dessas mulheres que sofrem caladas, que têm medo do machismo estrutural que vivemos”
Maria Cristina Ataide, membro do MCRIA (Fórum Permanente Pela Vida das Mulheres e Crianças de Mato Grosso do Sul) ressalta que as cruzes e ver como as mulheres tiveram a vida ceifada entristece demais.
“Você fica assim indignada é uma rede e um monte de gente ganhando dinheiro dizendo que estão aprimorando as políticas para as mulheres. Até quando? É preciso que todas as mulheres digam chega e se juntem, se fortaleçam e cobrem das instituições para que elas funcionem”, disse. Maria acrescenta que as vítimas e as famílias têm que ter voz.
Ela frisa que durante a inauguração da 4ª Vara de Violência Doméstica contra a Mulher, realizada nesta sexta-feira (7), em Campo Grande, mulheres foram impedidas de entrar no prédio por estarem com cartazes de protesto.
Além da jornalista Vanessa Ricarte e da empresária Mirieli Santos, as cruzes pediam justiça por Juliana Dominguez, que faleceu no dia 18 de fevereiro; Emiliana Mendes, morta no dia dia 24 de de fevereiro; Karina Corim, em 4 de fevereiro; Aline Rodrigues, dia 1º de fevereiro, Gabriela Araújo Barbosa, 10 de fevereiro; e Gisele Cristina, dia 1º de março.
Pelos dados da Polícia Civil, Aline Rodrigues, amiga de Karina e que morreu em Caarapó, vítima do ex da amiga, não foi enquadrado como feminicídio, mas como homicídio doloso. Mesmo assim, foi lembrada no protesto.

Adriane Quilombola é uma das sobreviventes da violência doméstica. Ela estava presente no ato na Avenida e ressalta que os homens precisam deixar as mulheres existirem.
“Aprendi que a gente tem que lutar para sobreviver. É muito difícil quando você vê as políticas para as mulheres sendo destruídas e desmontadas a cada ano que passa", afirmou. Adriane diz que a resistência encontrada pelas mulheres na delegacia desestimulam a vítima a denunciar a violência. "Questionam 'quem vai pagar a pensão?' ou 'você tem certeza que quer seu marido preso?'", exemplificou.

Para ela isso mostra que é necessário atos de protesto que mostrem que a vida das mulheres têm valor.
“É um ato de vida e pela vida das mulheres. É necessário dizer que queremos viver, trabalhar e existir porque quem carrega as finanças de nossas casas somos nós, nós que educamos e carregamos a economia. Para isso nós servimos mas quando precisamos não somos atendidas”.
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