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Capital

Com decisão que proíbe acesso ao lixão, catadores organizam protesto

Luana Rodrigues | 21/02/2016 13:55
Julianderson Castro Afonso, 31 anos, diz que dinheiro do trabalho no lixão é sustento da família. (Foto: Marcos Ermínio)
Julianderson Castro Afonso, 31 anos, diz que dinheiro do trabalho no lixão é sustento da família. (Foto: Marcos Ermínio)
Marcio de Lima Gomes, 37 anos, reclama que a construção da UTR(Usina de Triagem de Resíduos), apesar de aprovada, ainda não foi finalizada. (Foto: Marcos Ermínio)
Marcio de Lima Gomes, 37 anos, reclama que a construção da UTR(Usina de Triagem de Resíduos), apesar de aprovada, ainda não foi finalizada. (Foto: Marcos Ermínio)

A decisão da Justiça de proibir o acesso dos catadores à “área de transição” do lixão de Campo Grande a partir de 28 de fevereiro, já assusta quem depende da coleta de recicláveis para sustentar a família. Divulgada na última quinta-feira (18), a decisão chegou para os catadores como uma ameaça a única fonte de renda para mais de 440 famílias, por isso eles prometem resistir e protestar.

Pai de seis filhos e catador há 17 anos, Julianderson Castro Afonso, 31 anos, diz que recebe cerca de R$ 600, por semana, com a coleta de recicláveis no lixão. Para ele, o fechamento da “área de transição” intervém no direito de trabalho autônomo que os catadores possuem. “Eles querem que a gente vá trabalhar na UTR (Usina de Triagem de Resíduos), mas lá não cabe todo mundo. Além disso, eu nunca vou ganhar lá o mesmo tanto que ganho trabalhando sozinho”, diz.

A reclamação de “pouco espaço para muitos”, segundo os catadores, é porque na UTR só há espaço para 200 trabalhadores, enquanto que já existem cadastrados cerca de 700. O local tem capacidade para reciclar 150 toneladas de material por dia.

Outro catador, Marcio de Lima Gomes, 37 anos, reclama que a construção da UTR, apesar de aprovada, ainda não foi finalizada. “Eles querem dizer que já está pronta, mas não está. Também falta capacitação a todos os catadores, como está previsto na lei.Esse juiz que acatou o pedido de fechamento não conhece a nossa realidade”, afirma o trabalhador.

A decisão é do juiz em substituição legal na 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, Marcelo Ivo de Oliveira. Conforme o magistrado, a liminar, concedida em ação civil proposta pela Defensoria Pública em dezembro de 2012, que permitia o acesso ao aterro sanitário Dom Antônio Barbosa foi deferida pelo tempo que durasse o atraso na construção da UTR (Usina de Triagem de Resíduos).

Lista mostra mais de 700 trabalhadores cadastrados, mas UTR só comporta 200, segundo catadores. (Foto Marcos Ermínio)
Lista mostra mais de 700 trabalhadores cadastrados, mas UTR só comporta 200, segundo catadores. (Foto Marcos Ermínio)

Contudo, como a obra foi 100% concluída e a área de transição será fechada, será proibido o acesso dos catadores. Em caso de descumprimento, a multa diária será de R$ 10 mil. Caso necessário, o juiz autorizou reforço policia para cumprimento da medida. A decisão é datada de 18 de fevereiro.

Fechado no fim de 2012, após 28 anos em operação, o lixão foi reaberto por força de decisão judicial em janeiro de 2013. O pedido partiu da Defensoria Pública, que alegou que as pessoas ficaram sem fonte de renda. Com a reabertura, foi definida uma área de transição, com descarte dos resíduos ante de ser encaminhado ao aterro. A UTR foi inaugurada em agosto do ano passado.

No total, a CG Solurb investiu R$ 4,5 milhões para concluir as obras, que haviam sido paralisadas na gestão do ex-prefeito Nelson Trad Filho, em 2007.

“Acontece que jamais vai caber todo mundo lá e tem gente que vai ficar sem o único ganha pão. E quem for vai trabalhar do mesmo tanto, para ganhar menos”, diz Márcio.

Manifesto - Os catadores prometem ir a Defensoria Pública amanhã (22) de manhã, para entrar com um recurso contra a decisão. De lá, eles dizem que vão à Prefeitura pedir o apoio do prefeito ao não fechamento do lixão e, em seguida, afirmam que vão reunir e um grupo de catadores e protestar no aterro. “Já impedimos o fechamento uma vez, se precisar vamos fazer de tudo pra impedir de novo. Ninguém aqui quer passar fome”, afirma Julianderson.

O Campo Grande News tentou falar com um representante da CG Solub, mas as ligações não foram atendidas.

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