Consenso entre quem vem de fora, arborização é "cartão postal" de Campo Grande
Preservação ambiental nas principais vias da Capital é vista como um bom ponto para embelezamento da cidade
Alguns acham que falta educação, outros criticam a vida noturna e há quem reclame do trânsito. Mas uma coisa parece ser consenso e é repetido várias vezes por quem gosta ou não de Campo Grande, por quem é ou não da cidade. Seja pelo senso comum, pelo discurso oficial das prefeituras, ou mesmo por dados e pesquisas, é impossível questionar que a Capital é arborizada, e muito bem, por sinal.
Para o estudante Gabriel Neri, de 19 anos, nascido em Brasília de Minas (MG), cidade que possui apenas 30 mil habitantes, mesmo que a Cidade Morena seja quase 30 vezes maior que sua cidade natal, é visível o quanto a cidade se destaca pela vegetação natural.
“As principais avenidas têm muitas árvores, a Mato Grosso, a Afonso Pena, a própria 14 de Julho. É uma cidade muito arborizada. A minha cidade natal tem mais morros e desníveis, aqui é uma cidade muito mais plana. E talvez por isso também, não vejo muitas árvores na minha cidade, mas aqui é bem presente".
Por um lado, Gabriel confessa que trata o tema com menos atenção. “Sendo bem sincero, eu não reparo muito nisso, mas é um detalhe interessante, aqui em Campo Grande é um dos pontos que se destaca". Por outro lado, a professora e coordenadora Márcia Neves, de 54 anos, entende que a arborização de Campo Grande faz parte do “cartão de visita”.
Márcia, que hoje mora em Jardim, a 233 quilômetros da Capital, mas nasceu em outro município no interior de Minas Gerais, diz que a quantidade de árvores torna a cidade não apenas sustentável, como também a embeleza. “Campo Grande é uma cidade bonita, arborizada, colorida", comenta.
"Quando você chega em uma cidade, o cartão de visita é vegetação, são as praças, os parques. A gente nota assim, se é arborizada, se tem a valorização da sombra, da árvore. Enfim, a conscientização dessa preservação", descreve.
Periferias - O titular da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana), Luís Eduardo Costa, afirma que Campo Grande tem cerca de 96% do perímetro urbano com arborização. Dentre algumas das medidas que têm sido feitas na atual gestão da pasta para garantir tal índice, está a preservação das reservas naturais, fiscalização, e um plano diretor sólido.
Nós temos legislação, temos um inventário arbóreo da cidade renovado sempre, um plano diretor que vai ser objeto de um novo estudo, inclusive”.
O estudante Gabriel Neri, que mora no Jardim Morenão, relata que ainda que seja nítida a presença de muitas árvores, sobretudo nas regiões mais centrais da cidade, a própria rua teve cinco árvores cortadas ao longo dos últimos anos.
Vale lembrar que a Semadur realiza o corte de algumas vegetações, bem como a recomendação para que os proprietários tomem essas medidas, de forma preventiva. No ano passado, gerou polêmica a remoção de falsa-figueira na Praça do Rádio Clube. "Tratamos das nossas árvores mais antigas, centenárias, octogenários. Temos manejo, uma série de situações também de planejamento e organização para garantir mais segurança", diz Costa.
O Campo Grande News analisou os últimos dados disponíveis sobre arborização, publicados em Plano Diretor municipal, referentes a última década. O resultado você confere abaixo (confira tabela na íntegra neste link). O Bairro Chácara dos Poderes concentrava nove árvores a cada 10 habitantes, maior índice em toda cidade.
O Jardim dos Estados, na região central, assim como o Núcleo Industrial, possuíam cerca de cinco árvores por 10 pessoas, enquanto os demais bairros têm, todos, no máximo, a proporção de uma árvore a cada duas pessoas.
Vale destacar que as regiões mais centrais concentravam maior parte das regiões arborizadas da cidade. Segundo esses números, o Bairro Caiobá possuía uma árvore mapeada pela prefeitura por 10 habitantes e tinha o pior indicador.
O secretário municipal garante também que bairros que não têm arborização adequada, estão na mira do poder público para que possuam mais árvores, sobretudo alguns mais afastados. “No viveiro de Campo Grande, produzimos mudas de árvores, inclusive, frutíferas, e os bairros que não estão bem arborizados, são bairros já objeto de arborização”.
“Seria muito importante a população perceber a necessidade e importância da arborização, não só para questão sensorial, que é a árvore, mas para todos benefícios de saúde que ela traz, inclusive, até do clima”, diz Costa.
Preservação - A titular da SUFGA (Superintendência de Fiscalização e Gestão Ambiental), Gisseli Ramalho Giraldelli dos Santos, comenta que entre alguns dos fatores ambientais está a retenção de águas das chuvas, que garante maior drenagem da cidade, por exemplo. “Proporcionam sombra fresca para aplacar o calor, refrigerando e aumentando a umidade relativa do ar, absorvem poeira e gases tóxicos, funcionam como barreira para a propagação de ruídos e mal odores, protegem os recursos hídricos, fornecem abrigo e alimentos à fauna e embelezam a paisagem urbana”, comenta.
A arquiteta Milena Ayala, de 23 anos, ressalta que a cidade está por dois anos consecutivos, na lista de cidades mais arborizadas não apenas do Brasil, como também de todo o planeta. “Existe um programa fundado pela ONU, chamado Fundação Arbor Day, que reconhece cidades ao redor do mundo que se comprometem a manter florestas urbanas”.
“Reconheço e percebo bastante a questão da arborização de espaços, cidades, ambientes, porque trabalho com arquitetura e sustentabilidade. Nesse sentido, considero Campo Grande arborizada, principalmente por se tratar de uma capital”, diz Milena.
A profissional de setor da construção civil destaca que esse quesito melhora o conforto térmico e ambiental que os habitantes têm. “Sem preservação, florestas e vegetação, o nosso clima, nosso solo, são afetados. Nossa vida é afetada, de certa forma”.
Para Ayala, é importante falar sobre arborização por conta de muitos lugares que têm registrado baixos índices de vegetação em áreas urbanas. Na última avaliação feita pela ONU (Organização das Nações Unidas), divulgada em maio deste ano, somente São José dos Campos e São Carlos, ambas no estado paulista, tiveram desempenho semelhante.
Vemos capitais com muitas construções e pouca arborização, e isso é preocupante, principalmente, em questão de conforto térmico”.
Nascida em Aquidauana, a 135 quilômetros de Campo Grande, Milena exemplifica que sua cidade natal, ainda que tenha boa quantidade de árvores, possui alguns problemas relacionados a seu planejamento urbano. “A cidade é desfavorecida na questão de ventilação e de temperatura, os ventos não são predominantes. É uma cidade muito abafada, mas muitas casas são construídas em direção oposta ao sol. Em determinados horários do dia, acontece uma insolação que deixa o ambiente mais quente do que fora da residência”.
Fiscalização - Mas se tantas pessoas reconhecem o valor, sobretudo estético, desses recursos naturais, o que falta para que haja maior conscientização, a fim de evitar, por exemplo, infrações ambientais que acarretam na perda de árvores ou na dificuldade para que floresçam?
Para a superintendente, a maior dificuldade é a falta de conhecimento da sociedade da importância que a arborização urbana tem para a vida das pessoas, que pode ser feita, inclusive, em começar a respeitar a árvore como um “ser vivo”. “Práticas como podas mal executadas, destopo, corte de raízes, entre outras ainda não são percebidas pelas pessoas como maus tratos e, na verdade, é isso que são”.
De acordo com o PDAU (Plano Diretor de Arborização Urbana), que seria o principal instrumento que a prefeitura tem para a proteção das árvores, áreas públicas e particulares têm de seguir determinados critérios pré-estabelecidos. Caso não haja cumprimento, a Semadur pode atender denúncias, fiscalizar irregularidades e até multar.
A "compensação ambiental" é um conceito muito utilizado na cidade, que obriga que a realização de obras gere ações compensatórias por parte dos executores. "Essas compensações são realizadas por meio de plantios, doação de serviços e insumos necessários à manutenção das florestas urbanas ou por meio pecuniário, sendo os recursos de compensação destinados ao Fundo Municipal de Meio Ambiente para serem utilizados em programas e projetos ambientais".
Dos Santos diz que ao longo dos últimos 15 anos em que tem sido servidora pública, ela entende que houve aumento na conscientização, ainda que continue a existir irregularidades. “Aumentou muito o interesse das pessoas em plantar, a efetiva fiscalização ajudou muito nesse processo. É claro que ainda não conseguimos coibir tanto a ponto de exterminar esse tipo de ação lesiva ao meio ambiente, mas vendo os avanços que Campo Grande já teve nesse sentido”, finaliza.