Em dia que a saudade aperta, Natal em abrigo traz alívio em meio ao vazio
Quarta-feira de Natal (25) foi cheio de atividades e reuniões para quem está em situação de rua na Capital
O dia na Uaifa 1 (Unidade de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias) foi com várias ações para quem não tem a oportunidade de estar em uma casa com a família. A quarta-feira foi chuvosa e acolhedora para cerca de 80 pessoas em situação de rua. Muitos deles estavam emocionados e relataram o vazio em uma das datas mais tradicionais para estar com os entes queridos.
Também conhecido como antigo Cetremi (Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante e População de Rua), o local fica na Rua Jornalista Marcos Fernandes Hugo Rodrigues, S/N - bairro Jardim Veraneio. Lá, foi possível encontrar pessoas do Nordeste, Sudeste, da região do Planalto Central e do interior de Mato Grosso do Sul.
Junior de Almeida Souza, de 30 anos, frequenta a Uaifa há cerca de dois anos. Ele nasceu em Senhor do Bonfim (BA). O dia foi muito especial para o baiano, com festa, doação de roupas e kit de higiene. "Foi bom passar esse Natal aqui", afirmou.
Ele explica que ficou em situação de rua após uma separação. Junior ficou sem recursos para poder alugar uma casa, mas não reclama da estrutura da Uaifa. Sobre o Natal, lamenta não estar em família.
Para ser bem sincero, o Natal foi vazio, porque estou longe da família e eu queria estar perto, mas fazer o quê? Infelizmente, algumas consequências dos meus atos me fizeram vir parar aqui. Então, agora é só enfrentar, né?"
A história de Giovan Moreira de Silva, de 46 anos, envolve vários lugares do Brasil. Nascido em Águas Belas (PE), cresceu em São Paulo capital, já morou em Cosmópolis (interior paulista) e veio para Campo Grande. Ele conta que trabalhou em uma fazenda e acabou se perdendo.
Sobre o atendimento, ele elogiou que o Natal foi maravilhoso, "nota 10". Ele está há menos de dois dias no local. Giovan se perdeu após ser roubado e perder os contatos. Ele não se recorda do nome da fazenda em que trabalhava.
Eu estou me sentindo um pouco triste, por causa da família, que está longe. Mas eu não estou tão sozinho, porque tenho companheiros aqui e com a programação de Natal, me senti mais confortável", descreveu o sentimento.
Vindo do interior, mais precisamente de Jardim, Nilton Cesar Rios, de 54 anos, destacou o dia como sendo muito especial. Ele relembrou que teve um café da manhã especial com muita comida, depois um excelente almoço. "A gente fica muito feliz de ser bem tratado em lugares assim".
Ele é pintor e já trabalhou como servente em obras. A chegada em Campo Grande foi em 2016, há oito anos. Nilton não tem mais pai e nem mãe. Seus irmãos estão espalhados em Maracaju, Sidrolândia e Ponta Porã. Eles não se reúnem há três anos.
Sem vergonha de dizer o motivo de estar em situação de rua, explicou que foi por conta de uma recaída com a bebida. "Tive uma recaída com a cachaça e não consegui mais pagar o aluguel".
O cuidador da Uaifa, Danilo Bohre Silva, explica que ações assim são fundamentais para reintegração a quem está em vulnerabilidade. "Eles não têm acesso à família, não têm acesso a uma conversa, falta carinho da vida deles. Então, assim, eu acho que fazendo isso aí entra uma questão importante deles se colocar de novo na sociedade".
Nascido em Ceilândia (região administrativa do Distrito Federal), João Paulo Tavares de Oliveira tem 42 anos. Ele está acolhido pela Uaifa e ajuda na cozinha. A família dele está no Mato Grosso e ele frequenta o espaço no Jardim Veraneio há três meses.
Ele conta que "o Cetremi tem dado oportunidade para muitas pessoas realizarem serviços, como confraternizações. Acabamos tendo a chance de nos reunir entre os irmãos, praticar altruísmo, deixar de lado o egoísmo e pensar no bem-estar do próximo, sem priorizar os próprios interesses".
Recados de Natal - Cada um dos entrevistados teve a oportunidade de deixar um recado de Natal. Confira abaixo cada um:
Giovan: "Dou um feliz Natal para todas as famílias, para todas as mães, para todos os pais e filhos. E quero desejar feliz Natal para a minha família, que eu estou muito longe. Eu queria estar perto nesse momento".
Junior: "Quero mandar um abraço pra minha mãe, pro meu pai, né? Minha família inteira aí. E desejo um feliz Natal a todos".
Nilton: "Quero desejar feliz Natal para minha filha. Que ela esteja bem, que continue sendo a pessoa que sempre foi. Ela nunca me decepcionou, tem duas faculdades, trabalha como fisioterapeuta e dá aula de pilates. Fico muito feliz por ela".
João: "Quero dizer para a minha família que sinto falta deles, mas que, graças a Deus, estou bem. Fui muito bem acolhido aqui. Tenho recebido muito carinho e amor das pessoas, e me sinto grato por estar aqui, ajudando e também sendo reconhecido pelo apoio que ofereço. Então, minha família não precisa se preocupar, porque estou muito bem aqui. Estamos em família, graças a Deus".
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