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Diversão

Do abandono à ocupação, vida noturna “resiste” na 14 de Julho

Rua atraiu atenção de novos empreendedores e gerou reflexões sobre o potencial do lazer noturno da Capital

Por Idaicy Solano | 26/12/2024 07:52
Rua 14 de Julho lotou ao ser interditada pela primeira vez (Foto: Gabi Cenciarelli)
Rua 14 de Julho lotou ao ser interditada pela primeira vez (Foto: Gabi Cenciarelli)

Sendo uma das ruas mais emblemáticas e históricas da cidade, em 2024, a 14 de Julho, antes sem vida após o horário comercial, viu suas salas desocupadas darem espaço a bares e pubs.

Desde fevereiro, a cidade acompanhou o projeto de ocupação da região começar a caminhar, e em questão de meses, o que eram apenas dois bares, se transformaram em vários, que unidos, lutam para manter a vida noturna da cidade ativa.

O movimento foi marcado por uma série de discussões, presença de policiamento, rixas com ambulantes, dilema sobre fechar ou não a rua e até projeto na prefeitura para instituir um corredor gastronômico no local.

Não dá para negar que a ocupação devolveu vida ao Centro de Campo Grande fora do horário comercial, além de também movimentar todo o pequeno comércio local. O desafio, no entanto, foi mostrar para a cidade o lado positivo da atividade comercial noturna, e encontrar soluções para os prós e contras.

Sucesso de público 

O crescente sucesso do comércio noturno da região atraiu a atenção de novos empreendedores, gerou polêmica e incômodos, além de provocar diversas especulações e reflexões sobre o potencial da vida noturna na capital. Com o aumento constante do público, a rua chegou a ser fechada nos finais de semana.

Com o aumento de investidores nos comércios, surgiram novas atrações para diversificar o entretenimento, como rodas de samba, pagode, música eletrônica e MPB, oferecendo opções além dos tradicionais bares sertanejos da cidade.

Em conversa com o Lado B, sobre a ocupação, o arquiteto e urbanista André Samambaia, defendeu que do ponto de vista de sua profissão, o potencial das cidades está na capacidade de propiciar encontros e potencializar trocas, tanto comerciais quanto de ideias.

"Uma cidade em que se sai de casa sozinho no carro até sua mesa de trabalho e depois retorna sem nenhuma troca nova é uma cidade estéril de ideias e potencialmente intolerante, porque as pessoas não convivem nem conhecem pessoas e formas de viver diferentes da sua", comentou.

Para André, o sucesso dos bares da 14 vem para mostrar que Campo Grande pode ser como muitas outras cidades que visitamos e invejamos a vida urbana. "Tem muita gente disposta a viver isso junto, é só questão de equacionar os impactos tendo em mente que a vida na cidade é fundamental e a sociedade e o poder público tem responsabilidade em fazer que isso prospere".

O crescente sucesso do comércio noturno da região atraiu a atenção de novos empreendedores, gerou polêmica e incômodos (Foto: Juliano Almeida)
O crescente sucesso do comércio noturno da região atraiu a atenção de novos empreendedores, gerou polêmica e incômodos (Foto: Juliano Almeida)

Início de um sonho  

Devido ao fluxo intenso nos bares da 14 de Julho, em agosto foi feito o primeiro teste para fechar a rua, o que ocorreu na sexta-feira do dia 23 do mesmo mês.

O impacto da medida foi imediato, e as duas quadras que foram fechadas, entre as ruas Marechal Rondon e Antônio Maria Coelho, lotaram. O movimento foi bem recebido por diversos grupos, incluindo comerciantes diurnos, que decidiram aproveitar para abrir até mais tarde, e novos empreendedores.

Deu tudo "errado"

Após penarem tanto pelo apoio da prefeitura para fechar a quadra, o que parecia o início de um sonho para os apoiadores da vida noturna da cidade, deu errado. Os bares voltaram a unir-se e pedir pelo fim da interdição da rua, alegando que a medida não havia culminando no resultado esperado. O pedido foi encaminhado em setembro, um mês após o fechamento da rua ser concedido.

Empresários x ambulantes 

A movimentação de pessoas na Rua 14 de Julho seguiu em crescimento, mas com ela, os problemas de organização do espaço também. O local começou a atrair a presença de ambulantes, o que acabou gerando incômodo aos empresários, que decidiram se posicionar e publicar uma nota coletiva contra a presença crescente de trabalhadores informais. Novamente alvo de assuntos, o local voltou a dividir opiniões dos frequentadores.

Corredor gastronômico 

Com o sucesso dos finais de semana de grande movimento, iniciou-se uma discussão na Prefeitura de Campo Grande sobre transformar a rua em um corredor gastronômico. O projeto chegou a ser aprovado pela Câmara de Vereadores e, na época, comerciantes e moradores ouvidos pela reportagem apontaram que só falar em projetos não bastava, e queriam ver ações efetivas, como melhorias na infraestrutura, policiamento e limpeza.

Dividindo opiniões, teve quem apoiasse o projeto como uma forma de salvar o Centro da cidade e o movimento dos comércios, e quem fosse contra, por receio da falta de infraestrutura.

Moradora da região central há mais de 20 anos, Elenita Cruz, de 47 anos, expressou ser a favor do corredor gastronômico, mas ressalta que acredita ser indispensável que a Prefeitura de Campo Grande também invista na infraestrutura para implementar o projeto. Para ela, o único ponto negativo é o lixo deixado no local após o funcionamento dos bares.

“A 14, por muito tempo, teve movimento só até a Cândido Mariano. Quando chegava finalzinho de tarde e final de semana, morria tudo isso daqui, aí depois que fizeram esses bares, o movimento tá vindo todinho pra cá, e com isso, a segurança melhorou bastante e eu me sinto mais tranquila”, relatou.

Em contrapartida, a moradora Nadia Lima, de 41 anos, declarou ser contra o projeto, pois na opinião dela, a Rua 14 de Julho “está longe de se tornar um corredor gastronômico”.

“Isso daqui virou uma bagunça a céu aberto, o morador não tem mais sossego nenhum. As músicas na rua são tão altas, que a gente não tem paz nem pra conversar dentro de casa. O corredor gastronômico que eu conheço como referência é a Bom Pastor, isso daqui nunca chegará perto de uma Bom Pastor”, opinou.

Dona de uma loja, também na 14 de Julho, Nadia reclamou que sempre precisa lavar a porta do estabelecimento, pois os frequentadores do bar costumam fazer xixi na calçada, o que deixa o lugar com mau cheiro.

Movimentação de pessoas na Rua 14 de Julho (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Movimentação de pessoas na Rua 14 de Julho (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Futuro da 14 de Julho 

O ano de 2024 marcou avanços importantes para a vida noturna em Campo Grande, embora a ideia ainda gere desconforto em muitas pessoas e esteja longe de se consolidar. O futuro desse cenário permanece incerto, mas é fundamental que, além do apoio indispensável do poder público, a população também se envolva, colaborando para garantir o sucesso e a harmonia, evitando atitudes como vandalismo, descarte inadequado de lixo e perturbação da ordem pública.

De acordo com a opinião de diversos frequentadores ouvidos pelo Lado B ao longo do ano, a prefeitura deve oferecer suporte contínuo, garantindo segurança, limpeza e, principalmente, mantendo um diálogo constante com a comunidade, especialmente com empresários e proprietários de estabelecimentos da área.

Só assim será possível atender às demandas da região, promovendo um crescimento sustentável da cultura local e fortalecendo o sentimento de pertencimento em uma área que, por muito tempo, foi negligenciada.

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