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Capital

Empresário preso por "golpe do pneu" já foi alvo da Polícia Federal

Garagem de carros de João era usada por organização criminosa para "branquear" recusos do tráfico de drogas

Por Lucia Morel | 08/03/2024 18:00
Pátio da antiga Fênix Automóveis, na avenida Bandeirantes, em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
Pátio da antiga Fênix Automóveis, na avenida Bandeirantes, em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

Investigado e alvo, junto com o filho, na Operação Fênix, da Polícia Federal, em maio de 2021, o empresário João Lopes de Freitas, que se apresenta como dono da Champions Pneus, ainda responde a processos da ação policial de três anos atrás. Em uma delas – única sem sigilo – ele e o herdeiro tiveram negada recuperação de veículos apreendidos da garagem que mantinham na avenida Bandeirantes, a Fênix, na época da operação.

Conforme as investigações da PF, a loja de carros usados era usada pela organização criminosa como entreposto para a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. Foram apreendidos no dia da ação ao menos 18 veículos, sendo que apenas cinco estavam na garagem, até então, em nome do filho de João, Alex da Silva Lopes Freitas.

No dia da operação, João falou com o Campo Grande News, depois de ser ouvido e liberado pela Polícia Federal. Ele disse que a única coisa que liga a antiga Fênix Automóveis à investigação de tráfico de drogas era uma caminhonete ano 2017, que já havia sido vendida, mas continuava no nome da loja.

Disse ainda que não conhecia ninguém da quadrilha denunciada na época e que apreenderam do local cinco “carros velhos” além de um Renault Duster, que estava na casa dele e uma moto de um dos funcionários.

Autos da Justiça Federal a que o Campo Grande News teve acesso, mostram entretanto, ao invés de apenas um, há pelo menos três veículos que foram adquiridos por terceiros na antiga loja  Fênix.

Em um deles, a suposta compradora de um Peugeot 207 HB XR disse ter pago R$ 16 mil pelo carro, mas sem apresentação de comprovante. “Ademais, a embargante não juntou nenhum documento que comprove sua capacidade econômica para adquirir o bem em questão”, cita decisão judicial que impediu a restituição.

Dos documentos que comprovavam a aquisição, havia apenas o contrato com a Fênix Automóveis, entretanto, “a aquisição e tradição do bem se dera há aproximadamente 1 ano, ou seja, em novembro de 2020. Indo além, o reconhecimento da assinatura do anterior proprietário do veículo somente foi realizada aos 28.10.2021, ou seja, mais de um ano após a alegada compra e após a deflagração da Operação Fênix, remanescendo o bem até os presentes dias registrado em nome da empresa investigada Fênix Automóveis Ltda”.

Dois veículos apreendidos pela PF na Operação Fênix, em 2021. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Dois veículos apreendidos pela PF na Operação Fênix, em 2021. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Outro caso em que o veículo estava na garagem de João e não foi restituído ao suposto comprador é de um Hyundai/Tucson, ano 2010/2011. Na decisão que impediu a restituição o juiz afirma que a Fênix Automóveis era responsável por movimentar recursos para “branquear” o dinheiro do tráfico.

O suposto comprador, inclusive, foi classificado como um dos principais laranjas da quadrilha, “ostentando o atual registro de 14 veículos em seu nome, o que é incompatível com sua realidade econômica como servidor público municipal de Campo Grande/MS (professor da rede de ensino)”, isso em setembro de 2021.

O terceiro veículo, um Uno Mille Way 2011/2012 foi restituído a casal que, conforme entendimento da Justiça, era terceiro de boa-fé e nada tinha a ver com a organização criminosa. O casal apresentou contrato de compra e venda celebrado com a Fênix Automóveis Ltda e boleto bancário de financiamento do veículo.

Em decisão de outubro de 2021, para o magistrado, não há “claros indícios que vinculem os embargantes à organização criminosa sob investigação. Lado outro, restou suficientemente  demonstrada a aquisição aparentemente legítima do veículo, sendo que apenas não fora providenciada a transferência da propriedade”.

Processo de alienação de bens dos acusados que tramita na Justiça Federal determinou em junho do ano passado o encaminhamento dos carros, caminhões, caminhonetes e motos a leilão, cujos recursos de venda serão revertidos à Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos). Ao todo, 15 veículos foram alienados.

Pelos dados do processo, João e o filho apelaram contra essa decisão, mas ainda não houve apreciação judicial do pedido. Também há em nome deles um pedido de acordo de não persecução cível junto ao MPF (Ministério Público Federal) em Mato Grosso do Sul.

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