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Capital

Greve piora angústia de paciente com câncer que esperava iniciar tratamento hoje

Quem estava com consulta marcada volta para casa sem previsão de atendimento no Hospital de Câncer

Caroline Maldonado | 27/02/2023 13:04
Paciente com encaminhamento para consulta em mãos (Foto: Marcos Maluf)
Paciente com encaminhamento para consulta em mãos (Foto: Marcos Maluf)

O tempo de espera pelo primeiro atendimento já é, por si só, um desafio a mais aos pacientes recém-diagnosticados com câncer. Quando, finalmente, chega o dia da consulta é o começo de uma jornada de combate à doença. É por isso que, mesmo sabendo da paralisação dos médicos do HCAA (Hospital de Câncer Alfredo Abrão) no atendimento a novos pacientes, a diarista Patrícia Angélica da Silva Mendonça, de 52 anos, esteve na manhã desta segunda-feira (27) no hospital, dia em que seria sua consulta.

Ela queria, ao menos, uma perspectiva de quando seria chamada, mas não conseguiu e terá que esperar a ligação do hospital. Enquanto espera, a diarista tem que lidar com as dores fortes na cabeça e, pior do que isso, a angústia de saber que a doença que já atingiu vários parentes pode estar se agravando rapidamente com o passar dos dias.

Patrícia enfrenta também a depressão e já retirou um tumor de pele no rosto, no ano passado, em hospital de Andradina (SP), onde morava para cuidar da mãe, falecida há dois anos, vítima de câncer.

Em Campo Grande, ela passou pelo posto de saúde e agora tem que dar entrada no HCAA para iniciar tratamento, pois as dores voltaram piores e a biópsia indicou que a doença ainda existe.

“Ontem me deu angústia, porque meu rosto está inchado, meus olhos e a cabeça doem muito e essa noite não consegui dormir a noite toda. Fiquei triste, porque não sei o que está acontecendo. Meu olho esquerdo fica colado quando acordo, tenho que abrir com a mão. Minha mãe teve essa doença e minha avó também faleceu com câncer de pele”, conta Patrícia.

Como ela, várias pessoas foram ao hospital hoje, quarto dia útil de greve, e voltaram para casa sem a primeira consulta. “Estava lotado lá. Estão atendendo quem já estava. Quem era primeira vez foi embora”, relata.

Ela recebeu a informação de que pode ser chamada assim que a greve terminar ou pode ser encaminhada para outro local. “Fiquei preocupada com isso, porque quero fazer o tratamento lá”, diz.

A preocupação maior dela é com o tempo passando. Não poder arcar com um tratamento na rede privada deixa a diarista sem outra saída, senão esperar.

Para passar o tempo e ajudar, Patrícia faz toucas com material que vem de Andradina e doa para pacientes de lá. Ela gostaria muito de fazer para crianças de Campo Grande, se recebesse doações de material daqui.

Patrícia Angélica da Silva Mendonça e toucas feitas para doação às crianças com câncer (Foto: Marcos Maluf)
Patrícia Angélica da Silva Mendonça e toucas feitas para doação às crianças com câncer (Foto: Marcos Maluf)

“A gente fica com receio, fica com medo. Eu não sentia essa dor e tenho medo, porque é rápido essa doença. Não tenho condições de procurar médico particular”, lamenta Patrícia.

Paralisação - A consulta de Patrícia e de outros pacientes só será remarcada quando o hospital conseguir resolver junto à Prefeitura de Campo Grande e ao Governo de Mato Grosso do Sul o impasse sobre o pagamento pelos serviços prestados ao SUS (Sistema Único de Saúde).

Com 422 funcionários e 75 médicos, o HCAA atende 70% dos pacientes com câncer de Mato Grosso do Sul, alega deficit de R$ 770 mil por mês e espera que o Governo do Estado e a Prefeitura de Campo Grande aumentem o repasse para dar conta dos trabalhos. O hospital atende 99% dos pacientes do SUS. Se a greve durar um mês, deixarão de ser realizadas em torno de 1.000 consultas e 300 cirurgias eletivas.

Serviços que continuam - Desde quarta-feira (22), o PAM (Pronto Atendimento Médico) continua atendendo normalmente. Estão sendo realizados somente os atendimentos de urgência e emergência realizados no PAM (Pronto Atendimento do HCAA), que funciona 24 horas.

Os médicos mantêm também o trabalho de cirurgias de urgências e emergências, atendimentos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e os tratamentos nos setores de quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia já em andamento.

Reivindicação - Os médicos cobram a regularização dos pagamentos e dos vínculos/contratos dos integrantes do corpo clínico e regularização dos serviços de patologia e exames de imagens (ressonância magnética e cintilografia óssea), essenciais aos diagnósticos e segmentos de tratamentos.

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