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Capital

Há 3 anos, Ivete é dor e luto pelo filho e espera prisão de acusado de estupro

Raul Antunes de Brum, 18 anos, foi encontrado morto no dia 3 de outubro de 2021

Por Bruna Marques | 05/10/2024 10:30
Com cartazes e clamor, familiares e amigos se reuniram em protesto em frente ao Fórum, no dia 4 de novembro de 2021 (Foto: Arquivo/ Campo Grande News)
Com cartazes e clamor, familiares e amigos se reuniram em protesto em frente ao Fórum, no dia 4 de novembro de 2021 (Foto: Arquivo/ Campo Grande News)

Há três anos, a vida da pedagoga Ivete Bartziki Antunes, 44 anos, é dor e luto pela morte do filho Raul Antunes de Brum, 18 anos, vítima de estupro do mestre de capoeira Leandro Busanello de Araújo. Ele foi encontrado morto no dia 3 de outubro de 2021. Agora, sem resposta sobre o andamento do caso, a mulher pede por justiça e sonha com o dia que o homem será condenado e preso.

“Estamos esperando por justiça, fez três anos que ele faleceu e nada aconteceu. Até a polícia não dá um parecer. Ninguém até hoje ficou sabendo de nada, quando ele denunciou o abusador não chegou nada pra gente, ninguém ligou”, disse Ivete em entrevista ao Campo Grande News.

O corpo de Raul foi encontrado no dia 3 de outubro de 2021, embaixo de uma ponte da reserva ambiental do Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), ao lado do Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande. A área em que o corpo foi localizado é privada e de acesso proibido.

Na polícia, o caso foi tratado como morte a esclarecer, mas a principal suspeita é de que o jovem tenha tirado a própria vida. Os motivos que levaram o capoeirista ao ato foram divulgados na época pelos amigos e família nas redes sociais. Segundo os depoimentos, Raul revelou, em 2020, ter sido vítima de abusos sexuais do professor de capoeira com quem teve aula por vários anos.

Leandro já foi condenado, em 2020, por estupro de vulnerável – crime que teria sido cometido contra uma criança de 9 anos. A partir daí, outros alunos do mestre de capoeira, que comandava projetos sociais, passaram a “perceber” que também haviam sido vítimas.

“Fico triste, o cara já foi acusado, condenado e foi solto, está livre, meu filho ficou doente e cometeu o ato, imagina a cabeça do menino. No inquérito tá como suicídio. Ele pode até ter até tirado a vida dele, mas quem matou ele foi o cara, meu filho foi abusado e estava doente”, lamentou Ivete com tristeza.

Ivete afirmou ainda que Leandro continua dando aulas de capoeira. “Ele tá solto cometendo mais crimes e ninguém faz nada. Não foi só meu filho, tem mais jovens nessa situação e por que ele está solto? Fica essa pergunta”.

Conversando pela primeira vez com a imprensa sobre a morte do filho mais velho, que hoje, se estivesse vivo teria 21 anos, Ivete afirma: “Meu filho morreu lutando por justiça. Tinha projetos de vida, trabalhava no comércio e esse cara roubou os sonhos dele”, disse.

Convivendo com a dor de viver sem o filho, a pedagoga conta qual foi a última conversa sobre o futuro que teve com o filho. “Quando Raul morreu eu fazia faculdade de pedagogia, ele falava ‘não desiste mãe, termina’, mas eu não sabia que quem estava desistindo dos sonhos era ele. Essas foram as últimas palavras dele pra mim, na quinta-feira, na sexta ele já tinha sumido”, expôs.

Guilherme Santana, 23 anos, estagiário de assessoria de imprensa, amigo de Raul, falou sobre como e lidar com a perda do jovem e mesmo depois de tantos anos não ver a justiça sendo feito. “Durante os três anos reunimos mais provas, encorajamos outras vítimas a denunciar. Antes eram 12 agora já chega a 20, porém todos os casos estão no começo da investigação, processo muito demorado. Todas as vítimas que denunciaram seguem sem amparo judicial, sem instrução, sem apoio psicológico”, lamentou.

O jovem se revolta com a demora em ter respostas sobre o caso de estupro do amigo e por não ver Leandro preso. “Nossa luta não é mais só pelo Raul, mas também pelo primeiro garoto que foi vítima. Depois desses três anos entendemos como é demorado o processo judicial do Brasil, um caso extremamente sério e a justiça consegue esticar que desgasta as vítimas e os próprios advogados”.

Processo em andamento - Sobre as investigações do de Raul, a reportagem apurou que o caso não está mais com a DEPCA (Delegacia de Proteção à Infância e Adolescência), delegacia responsável por cuidar do crime na época. O processo está nas mãos do Poder Judiciário e segue em andamento.

Leandro foi denunciado pelos crimes de violação sexual mediante fraude, e de fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica. Nesse mesmo processo consta mais quatro vítimas.

No dia 06 de setembro deste ano houve audiência na VECA (Vara Especializada em Crimes contra a Criança e ao Adolescente). Ao final da sessão, o juiz abriu prazo para que as partes apresentem eventuais requerimentos que entenderem necessários. Se apresentarem, os autos devem voltar para o magistrado decidir sobre eles, se não apresentarem, os autos também devem voltar para a autoridade, mas para sentença. O prazo ainda está em aberto e será encerrado na próxima segunda-feira (7).

Corpo de Raul foi encontrado na área de reversa do CRAS (Foto: Arquivo/ Marcos Maluf)
Corpo de Raul foi encontrado na área de reversa do CRAS (Foto: Arquivo/ Marcos Maluf)

Protesto - A demora numa solução efetiva no caso motivou protesto na tarde do dia 4 de novembro de 2021, em frente ao Fórum, onde cerca de 50 pessoas se reuniram para cobrar celeridade nas investigações.

Na época, para quem estava na manifestação, a morosidade da Justiça desencoraja vítimas de abusos a relatarem os crimes e ainda, gera um sentimento de impunidade. Em fala aos manifestantes, um rapaz todo de preto lembrou que uma das frases constantes de Raul era: “alguém tem que parar esse cara”, referindo-se ao professor.

Para o primo de Raul e também vítima do professor, rapaz de 19 anos, a impunidade e a desesperança na Justiça foi o que fez o jovem tirar a própria vida. O jovem ficou com vergonha de expor o nome, mas conversou com a reportagem e acredita que Raul “não conseguiu lidar com o sofrimento provocado pelos danos do abuso”. Ele contou que começaram a fazer academia juntos aos 14 e 15 anos e que nenhum deles comentavam sobre a violência que sofriam um com o outro.

A gente não falava sobre isso, até que chegou um e falou, e outro, e outro e, de repente, foi um efeito dominó. Foi quando eu conversei com meu primo e percebemos que éramos vítimas”, relatou, lembrando que no dia 27 de novembro de 2020 foram até a DPCA denunciar o professor.

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