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Capital

Inaugurado há dois meses, conjunto habitacional do Cidade de Deus é invadido

Ricardo Campos Jr. e Paula Vitorino | 24/02/2011 20:20

Na última segunda 13 casas foram arrombadas e ocupadas

Moradores acusam Emha de fraude em sorteio de casas. Foto: (João Garrigó)
Moradores acusam Emha de fraude em sorteio de casas. Foto: (João Garrigó)

Desde a última segunda-feira (21), famílias que alegam morar nas favelas da Cidade de Deus invadiram 13 casas do conjunto habitacional construído para beneficiar os moradores da região.

Eles acusam a Emha (Empresa Municipal de Habitação) de forjar o sorteio das primeiras 68 residências entregando imóveis para pessoas que não moravam no local.

A auxiliar de serviços gerais Silvana da Silva, 36 anos, é uma das moradoras que ocuparam as casas. Ela relata que foi uma das primeiras a chegar na área em 2004 originando a favela.

Ela diz que a promessa do conjunto foi retirar a população das moradias precárias. Foi exigido pela Emha um cadastro em 2009. Das 100 famílias, somente 80 levaram a documentação, segundo ela.

Em dezembro do ano passado foi dito aos moradores que a distribuição das 68 primeiras casas que ficaram prontas seria por meio de sorteio, segundo a auxiliar de serviços gerais. Foi então que começou a desconfiança.

“Eles chegaram com a urna já com os nomes. Era uma espécie de cesto. Das 80 famílias somente umas 10 ou 15 foram sorteadas. As outras sequer moravam no local”, diz Silvana.

“Depois do sorteio eu fui lá e vi a urna vazia. Só tinha 68 nomes dentro”, acusa Júlio César da Silva, 19 anos, um dos moradores.

A auxiliar de serviços gerais conta que ao reclamar com os organizadores foram informados que eles fariam parte da segunda etapa do programa, nas casas que estão em processo de construção financiadas pela Agehab (Agência de Habitação de Mato Grosso do Sul). “Só que nós fizemos o cadastro na Emha”, reclama Silvana.

Para completar a situação, a moradora diz ainda que um representante da Emha disse aos moradores que destruíssem os barracos, pois iriam para as residências num prazo de 3 dias, na época.

“Eles falaram que se não desmanchasse iam passar com a máquina”, lembra a dona de casa Meire da Silva, 29 anos.

Eles contam que tiveram que se readaptar, permanecendo de favor nas moradias de parentes e amigos. No início da semana, cansados da situação, eles disseram ocupar as habitações que continuavam vazias, mesmo depois de quase 3 meses passados do sorteio.

Resistência - Silvana diz que pela manhã um representante da Emha foi até o bairro e ordenou que desocupassem as moradias, segundo ela, alegando que não faziam parte daquela etapa do programa. Esse representante, de acordo com o relato da moradora, falou que amanhã um oficial de justiça iria procurá-los.

“Nós não vamos arredar o pé daqui. Só sairemos daqui mortos agora”, disse Júlio Cesar da Silva.

“Como é que vamos perder o benefício se a casa é nossa?”, questionou Silvana.

Ao todo, 13 casas foram invadidas pelas famílias. (Foto: João Garrigó)
Ao todo, 13 casas foram invadidas pelas famílias. (Foto: João Garrigó)

Resposta - Como resposta as acusações dos invasores, o presidente da Emha (Agência Municipal de Habitação), Paulo Matos, rebate dizendo que “todo o processo de sorteio e cadastro das famílias do Cidade de Deus foi feito de forma transparente. Todas as famílias beneficiadas eram moradoradoras de lá”.

De acordo com a Emha, o número total de famílias cadastradas no bairro é de 207 e o projeto consiste na construção de 362 residências. “Vai ter casa para todo mundo que foi cadastrado”.

Em março, mais 110 casas serão inauguradas e os nomes de seus proprietários sorteados. As demais residências devem ser entregues até o mês de agosto de 2011, segundo informações da Emha.

Mas Paulo ressalta que invasores e oportunistas não tem direito a casa. “Invasores e oportunistas nós não podemos aceitar. Desse jeito outros vão querer invadir e tirar o direito de quem realmente está cadastrado”.

De acordo com o presidente da agência, amanhã (25) será feito o pedido de reintegração de posse e os invasores terão de deixar o local.

“Não tem necessidade desse tipo de ação. Eles arrebentaram portas e janelas das casas recém inauguradas. Tem pessoas lá que não deixam a obra andar, constroem seus barracões em frente às obras pensando que agindo assim serão atendidos prioritariamente, mas não serão. Nossa equipe sempre está conversando, fazendo reuniões, mas as famílias também têm que colaborar”, esclarece.

Paulo também esclarece que as 13 casas invadidas ainda não tinham sido ocupadas por seus beneficiados porque os proprietários aguardavam a ligação de água e luz do local.

Segundo o presidente da agência, muitos beneficiados não possuem toda a documentação exigida pela Águas Guarirobas para a ligação da rede e outros têm débitos antigos com a empresa.

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