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Capital

Irmã centenária da Capital, Santa Casa terá museu com história salva do lixo

Enterrada nos anos de 1940, capsula do tempo foi esquecida e acabou no aterro de entulhos da Vila Nasser

Anahi Zurutuza | 26/08/2018 07:23
Irmã centenária da Capital, Santa Casa terá museu com história salva do lixo
Baú de concreto onde estava guardada na cápsula do tempo (Foto Saul Schramm)
Baú de concreto onde estava guardada na cápsula do tempo (Foto Saul Schramm)

O maior hospital filantrópico de Mato Grosso do Sul tem idade para ser irmão caçula da cidade que completa neste 26 de agosto 119 anos. Sabe-se muito da capacidade atendimento e da fama da Santa Casa de Campo Grande pelas vidas que ela salvou. Mas, pouco se tem conhecimento de como foi a infância e a adolescência da unidade, que começou a ser concebida em 1917.

Quase que parte do álbum dos primeiros anos de vida deste hospital foi parar no lixo. Mas, a Santa Casa, que tanto socorreu, teve os registro de um de seus anos salvos pela curiosidade de dois adolescentes.

Moradores da Vila Nasser – na região norte de Campo Grande –, os garotos brincavam num antigo aterro de entulhos do bairro quando acharam uma pedra grande de concreto com a data 21-9-1941.

Sem suportar não saber o segredo que o baú guardava, os meninos a cutucaram a caixa até que conseguiram abri-la. No interior daquele da arca, encontraram um invólucro de cobre que guardava documentos, jornais e moedas.

Jornais e moedas guardadas desde 1941 (Foto: Anahi Zurutuza)
Jornais e moedas guardadas desde 1941 (Foto: Anahi Zurutuza)
Assinaturas na ata de lançamento da pedra fundamental de um dos pavilhões (Foto: Anahi Zurutuza)
Assinaturas na ata de lançamento da pedra fundamental de um dos pavilhões (Foto: Anahi Zurutuza)

A cápsula do tempo foi descoberta em 2015, quando fazia 74 anos, e guardava a ata de lançamento da pedra fundamental da construção do pavilhão B, denominado na época Sanatório da Santa Casa, dentre outras provas de que a sociedade campo-grandense continuava contribuindo para que aquele hospital crescesse.

Enterrada nos anos de 1940, ela havia sido esquecida e foi levada para o aterro de entulhos, provavelmente, quando começaram as obras para a construção da maternidade do hospital, prédio que hoje abriga a Unidade do Trauma.

Edição do jornal O Progressista (Foto: Anahi Zurutuza)
Edição do jornal O Progressista (Foto: Anahi Zurutuza)

“Será lançada hoje, em uma cerimônia solene, a pedra fundamental do novo Pavilhão particular do Hospital da Sociedade Beneficente de Campo Grande, a nossa Santa Casa, como é carinhosa e justamente apelidada pela população. Marco importantíssimo na vida de nossa tradicional casa de caridade, representando o início de uma nova era na história da assistência médica campo-grandense", diz trecho do texto publicado do jornal O Progressista de 21 de setembro de 1941.

Da direita para a esquerda, Esacheu Nascimento, o diretor-presidente da Santa Casa, e Heitor Freire (Foto: Anahi Zurutuza)
Da direita para a esquerda, Esacheu Nascimento, o diretor-presidente da Santa Casa, e Heitor Freire (Foto: Anahi Zurutuza)

No baú, também estavam guardadas edições de jornais dos dias anteriores, que trazem o convite para a cerimônia e agradecimentos às doações em réis feitas por cidadãos da cidade.

Um exemplar de jornal editado pela livraria Castro Alves chama a atenção por uma curiosidade. O estabelecimento funcionava na Rua João Pessoa, a atual 14 de Julho. “Mudaram uma época, mas não houve aceitação da população e então decidiram devolver o nome original”, conta Heitor Freire, o curador o material encontrado na cápsula do tempo e membro da diretoria da Santa Casa.

A ata do lançamento da pedra fundamental é assinada por nomes até hoje conhecidos, como Vespasiano Martins, que foi prefeito de Campo Grande por três vezes, governador revolucionário e senador por Mato Grosso do Sul. Ainda aparecem na lista, Eduardo Olímpio Machado, Eduardo Santos Pereira e Bernardo Franco Baís.

Prédio que abrigará centro cultural (Foto: Saul Schramm)
Prédio que abrigará centro cultural (Foto: Saul Schramm)

Centro cultural – Foi da descoberta deste tantinho de história que havia parado no lixo que a direção da Santa Casa decidiu que mais nada se perderia. Surgiu então a ideia de criar na sede do 1º ambulatório, inaugurado em 1928 com entrada na Avenida Mato Grosso, um museu. A proposta foi amadurecida e evoluiu para o Centro Histórico e Cultural Camillo Boni, nome do arquiteto que projetou o prédio.

“Queremos que a cidade tenha mais um local para manifestações populares”, afirma Freire, que também toca o projeto. Além do museu, o centro cultural terá um teatro de pequeno porte.

Heitor Freire explica que foi preciso aprovar uma mudança no estatuto na Santa Casa para que a instituição possa ir em busca de recursos do Ministério da Cultura. A ideia é inaugurar o centro cultural até o fim do próximo ano.

Jardim da Santa Casa de Campo Grande, onde outra capsula do tempo foi enterrada, no ano passado (Foto: Saul Schramm)
Jardim da Santa Casa de Campo Grande, onde outra capsula do tempo foi enterrada, no ano passado (Foto: Saul Schramm)
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