“Justiça foi feita”, diz ex-delegado-geral sobre punição para colega
Adriano Garcia Geraldo diz que a imagem dele ficou prejudicada após briga com delegada da Omertà
O delegado Adriano Garcia Geraldo, que comandou a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul entre fevereiro de 2021 e fevereiro de 2022, quebrou o silêncio quase dois anos depois após reunião polêmica que rendeu PAD (Processo Administrativo Disciplinar) e punição à colega de profissão Daniella Kades, à época subordinada a ele. Para Geraldo, “a justiça foi feita” nesta terça-feira (25), quando resultado da apuração interna foi divulgado no Diário Oficial do Estado e o afastamento da delegada por um mês foi oficializado.
Kades respondeu por “insubordinação grave em serviço”, em processo instaurado pelo então corregedor-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Márcio Custódio. A delegada tomou suspensão de 30 dias – a ser cumprida entre 1º e 30 de agosto. Na reunião, no dia 1º de outubro de 2021, ela se recusou a citar nome de investigados após ser questionada pelo chefe, dizendo que “não confiava na polícia”.
“Desde 2021, estou sendo execrado pelo tribunal da internet e hoje, foi publicado o cumprimento da sanção administrativa decorrente de um PAD. Ficou demonstrada a responsabilização da delegada, que teve direito a ampla defesa, advogado, arrolou testemunhas, apresentou justificativas”, afirma o delegado.
O ex-comandante da Polícia Civil afirma que Daniella alegou ter sido pressionada a dar informação sigilosa na reunião, mas o argumento “não retrata a realidade”. Daniella Kades integrava a força-tarefa responsável pela prisão de Jamil Name e Jamil Name Filho, apontados dos líderes de máfia que lucrava com o jogo do bicho e cometia outros crimes, incluindo homicídios, como forma de manter o poder.
Geraldo admite que à época existia maior tensão dos delegados, de um modo geral, uma vez que a Operação Omertà descobriu tentáculos da organização criminosa investigada nas forças de segurança, mas afirma que ele não tinha motivo para querer extrair da delegada “informação privilegiada”.
A discussão foi gravada e o trecho divulgado da conversa não mostra o contexto, afirma o ex-delegado-geral. “Foi divulgado um trecho de 1 minuto e meio de uma reunião de mais de 40 minutos e se tem alguém que tem de saber o que está acontecendo, é delegado-geral. Era uma reunião para nivelar conhecimento e traçar estratégias de investigação”.
Para o delegado, a atitude da colega, que “quis se vitimizar”, fez parecer que ele tinha ligações com o jogo do bicho. “Eu não precisava de informações privilegiadas. Eu tinha um relatório de Inteligência anterior à data da reunião. A ideia era nivelar conhecimento com aquilo que eu já tinha, mas houve inversão de valores que prejudicou a minha imagem e minha história de 31 anos na polícia”.
A briga – Na gravação, a qual o Campo Grande News teve acesso em novembro de 2021, a conversa entre Kades e o delegado-geral começa com ele exigindo saber como estão as investigações em relação aos grupos que, supostamente, assumiram o negócio dos Name em Campo Grande.
Ele reclama que existem vários criminosos de fora do Estado em ação, que ele não tem conhecimento. A delegada, que participa diretamente da investigação, responde que a situação não é bem aquela. Kades diz que não há controle sobre a loteria ilegal de quadrilhas de fora de Mato Grosso do Sul, mas diz que não dará mais detalhes. “A gente sabe quem são as pessoas, só que eu não vou falar os nomes das pessoas”.
“Por quê?”, questiona Geraldo e ela responde: “porque eu não confio na polícia”. Daniella afirma que só confia nela mesma e grupo com quem está trabalhando e o chefe diz “lamentar”. “Se não vai por bem, vai na dor. Aí a gente impõe a hierarquia, porque é muito triste você dizer que não confia”, ameaça Adriano.
O delegado-geral continua alegando que não precisa provar sua honestidade para a colega e, neste momento, ela revela saber de uma conversa entre ele e os advogados que representavam a Pantanal Cap, empresa usada para lavar o dinheiro do jogo do bicho, conforme a Omertà. Ele rebate afirmando que a delegada não sabe o que é gerir uma polícia.
Procurada mais cedo pela reportagem, a delegada disse apenas que não recorreu da decisão administrativamente e, se for o caso, futuramente recorrerá na Justiça.
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