Mantida em cárcere por 22 anos, Cira morre de câncer após 16 meses livre
Vítima de cárcere por 22 anos, Cira da Silva, 46 anos, morreu de câncer ontem na Capital. Ladeada por três coroas de flores e por familiares, ela é velada na funerária Campo Grande, na rua 13 de Maio, na manhã desta terça-feira. Muito abatido, um irmão conta que a doença começou na perna e se alastrou pelo corpo. A família não quis dar entrevista.
O drama da mulher e dos quatros filhos veio à tona em dezembro de 2013, quando o pedreiro Ângelo da Guarda Borges foi preso acusado de manter toda a família em cárcere privado no bairro Aero Rancho.
A família, que vivia em situação desumana, não tinha água encanada, fazia as necessidades fisiológicas em um buraco no chão e tomava banho no quintal.
Segundo relatos, ele espancava a família todos os dias e dava apenas arroz para as crianças comerem, apesar de renda de R$ 4 mil. Dos quatro meninos, dois estudavam. O mais velho e o mais novo não saiam de casa. Fora dos muros altos da casa, as crianças se mostraram admiradas com coisas triviais, como pirulito, bala e biscoito recheado.
Resgatada, a família foi levada para um abrigo e depois foi para a casa do pai de Cira, no bairro São Francisco. Após um ano e quatro meses de liberdade, ela foi vitimada pela doença. Cira será sepultada no cemitério Santo Amaro.
Em janeiro de 2015, a Justiça concedeu livramento condicional para Ângelo da Guarda Borges. As condições são ter ocupação lícita, comparecer bimestralmente ao patronato penitenciário, não se ausentar da comarca, recolher-se à sua residência até 21h30, não se apresentar embriagado em local público e não praticar crime doloso.