Alimento armazenado: quanto tempo é seguro deixar na geladeira?
Na geladeira, bactérias e fungos trabalham silenciosamente para decompor o que já saiu da natureza
No fundo da geladeira, ao lado dos potes empilhados e das sobras de comida, existe uma batalha invisível acontecendo. De um lado, nós, que queremos manter a comida boa por mais tempo. Do outro, bactérias e fungos, os micro-organismos que trabalham silenciosamente para decompor o que já saiu da natureza. Mas, afinal, quanto tempo os alimentos podem ficar na geladeira?
“É uma competição direta. A partir do momento que o alimento é retirado da fonte, ele já começa a se decompor”, explica o biólogo e professor universitário Ricardo Martins Santos.
Na prática, isso significa que todo alimento que sai da árvore, da terra ou do campo, está sujeito a um processo automático de deterioração. “Os decompositores devolvem à natureza o que os produtores vão precisar para recomeçar a cadeia alimentar”, resume o professor.
A natureza, afinal, não desperdiça nada, mas a nossa geladeira precisa estar preparada para retardar essa devolução.
Entre os métodos físicos que ajudam a conter os micro-organismos, como fervura, pasteurização e radiação, o resfriamento é um dos mais comuns no nosso cotidiano. “A geladeira atua reduzindo o metabolismo dos micro-organismos, impedindo que eles se multipliquem rapidamente e deteriorem o alimento”, esclarece.
É por isso que um leite fora da geladeira azeda em horas, mas resiste por muito mais tempo sob refrigeração.
Mas até quando é seguro guardar aquela comida de ontem? A resposta ideal seria: prepare e consuma na hora. “A geladeira tem a função de manter, por pouco tempo, os alimentos nas mesmas condições de temperatura recomendadas pela indústria”, explica o biólogo. Ou seja, ela é uma aliada, mas não faz milagres.
Ainda assim, a realidade do cotidiano exige praticidade. “Na nossa rotina, a gente já prepara o almoço de hoje pensando na janta e até no almoço de amanhã. E tudo bem, desde que a geladeira esteja regulada corretamente”, explica. O ideal, segundo ele, é manter a temperatura entre 4°C e 10°C. Se tudo estiver em ordem, a comida pode ser consumida até 5 dias após o preparo, sem que cause grandes prejuízos à saúde.
“Não existe um prazo definido nem mesmo pelo Ministério da Saúde, porque isso depende do funcionamento da geladeira de cada casa”, pontua Ricardo. “Se a geladeira estiver mal regulada ou com o termostato descalibrado, o alimento pode estragar bem antes”, pontua.
Para não depender exclusivamente do calendário, o professor recomenda atenção total aos sentidos. O odor é um dos primeiros sinais. “Mudou o cheiro característico, é sinal de crescimento de micro-organismos”, afirma.
Depois, é hora de olhar. Mudanças na coloração ou na textura também indicam que a comida já não está segura. “É o corpo dizendo que não está mais adequado ao consumo”, lembra.
Ignorar esses sinais pode causar mais do que arrependimento. As principais consequências do consumo de alimentos contaminados são as doenças entéricas, aquelas que atingem o intestino. “O principal sintoma é a diarreia, mas dependendo do organismo e da gravidade da contaminação, pode se agravar”, alerta.
Dicas práticas para conservar melhor os alimentos:
- Regule sua geladeira: mantenha entre 4°C e 10°C. Chame um técnico de tempos em tempos para manutenção.
- Evite sobrecarregar o refrigerador: geladeiras muito cheias não refrigeram de forma uniforme.
- Observe sempre cheiro, cor e textura: qualquer alteração é sinal de alerta.
- Use potes tampados e higienizados: isso reduz o contato com o ar e evita contaminações cruzadas.
- Não espere o alimento esfriar completamente para guardar: quanto antes for à geladeira, melhor.
- Evite reaquecer repetidamente a mesma comida: isso reduz a segurança e o valor nutricional.
O cuidado começa em casa - Para Ricardo, cuidar da comida é também cuidar da saúde, e a geladeira, quando bem usada, é uma aliada nesse processo. “Mas ela só cumpre seu papel se a gente fizer a nossa parte também. Manter limpo, observar os sinais e respeitar o tempo da comida”, finaliza.