Matador confesso diz que foi torturado pela polícia com saco na cabeça
Número de pessoas que teriam sido mortas e enterradas por 'Nando' sobe de 10 para 12
Suspeito de ser o “dono” de um “cemitério particular”, onde teria enterrado pelo menos doze vítimas em apenas quatro anos, Luiz Alves Martins Filho, “o Nando”, 49 anos, disse em depoimento à Justiça que foi torturado pela polícia durante sua prisão, para confessar os crimes pelos quais está sendo investigado. Ele é apontado como chefe de um esquema de tráfico de drogas, que também envolvia exploração sexual e morte de viciados.
Na audiência de custódia, pela qual passou no início deste mês, o suspeito, indicado por policiais como uma pessoa "fria e sem remorso", pela forma como relata seus crimes, disse à juíza que “sofreu tortura durante sua prisão, sendo que os policiais colocaram um saco plástico em sua cabeça e ameaçaram colocar droga em sua casa.”
A juíza responsável pela audiência, Liliana de Oliveira Monteiro, pediu que a afirmação seja averiguada, diante da realização do exame de corpo de delito. No processo, não há informações se o suspeito fez ou não tal exame.
Frio e sem remorso - Apesar de dizer que foi “torturado para confessar”, de quinta (17) para sexta-feira (18), Nando já mostrou à polícia onde estavam enterradas três das doze vítimas supostamente mortas e enterradas por ele, todas de cabeça para baixo.
A polícia procura, pelo menos, mais nove mortos. Mas, o que de fato chamou a atenção dos policiais, é a frieza e crueldade com que o suspeito, que antes negava todas as acusações, nos depoimentos, conta seus crimes.
Conforme fonte ligada à investigação revelou ao Campo Grande News na semana passada, Nando não aparenta arrependimento em nenhum momento. Ele não se lembra com detalhes de cada crime, mas das vítimas que indicou as covas, diz se recordar das idades aproximadas.
O Campo Grande News acompanhou uma das buscas. Na sombra de uma árvore, o assassino confesso aponta a cova de cada uma de suas vítimas, pede água quando sente sede, depois descansa tranquilo dentro da viatura.
Mostrando tranquilidade, o homem indica a região onde depositou os cadáveres, de adolescentes e adultos, mortos no período de quatro anos. Um total de três, em menos de 24 horas.
Investigação - Nando continua preso, segundo a polícia, sendo remanejado frequentemente de delegacia em delegacia, por questões de segurança. Até agora, a polícia identificou 12 vítimas que teriam sido mortas por ele e seu grupo. Em duas semanas de operação, 15 pessoas foram presas, uma permanece foragida.
Além de Nando, entre os presos estão Diego Vieira Martins, Rudy Pereira da Silva, Jeová Ferreira Lima, Jeová Ferreira Lima Filho, Ariane de Souza Gonçalves, Vagner Vieira Garcia, Andreia Conceição Pereira. O nome do restante não foi divulgado.
Também foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão. Foi aprendida droga, uma arma de fogo e 70 galos de rinha.
Segundo a polícia, mais detalhes sobre as investigações serão apresentado em coletiva na próxima sexta-feira (25). Até lá, o caso segue em segredo.
Lei do silêncio - Na Rua em que Nando morava, no bairro Danúbio Azul - no leste de Campo Grande - vizinhos vivem recolhidos e preferem não conversar sobre o morador preso. Embora digam que não tiveram de alterar os hábitos, muita gente evita conversar com a reportagem. Os que falam dizem estar surpresos com a notícia de que “Nando” supostamente é um assassino em série que faz parte de uma quadrilha.
“Fiquei sabendo no dia que levaram ele. Era um rapaz aparentemente tranquilo, eu não imaginava que ele faria essas coisas”, afirmou outro morador, que também pediu para ter a identidade preservada.
E o silêncio dos moradores, quanto ao vizinho suspeito é compreensível. Aparentemente, Nando não queria ser incomodado. Na fachada de casa onde vivia, ele pintou os dizeres: “Não está a venda. Eu, Nando, comprei do Marcos”. Vizinhos dizem não saber o porquê do aviso.
Outro rapaz que topou dar entrevista mantendo o nome em sigilo tem parentes no bairro e diz que conhecia “Nando” de vista. “Foi uma surpresa para a gente, ninguém imaginava uma coisa dessas por aqui”.