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Capital

"Meu sonho é acordar e ver de novo", diz tatuador atingido por soda cáustica

Tatuador recebeu alta médica e já está em casa; ele gravou vídeo agradecendo mensagens de apoio

Dayene Paz | 03/03/2023 18:11



"Meu sonho é acordar e ver de novo. Eu sonhei que estava vendo". A frase cheia de esperança é do tatuador Leandro Coelho, de 30 anos, que perdeu a visão após ser atingido no rosto por soda cáustica, no dia 22 de fevereiro, pela ex-esposa que não aceitava o fim do relacionamento. Agora em casa, após receber alta hospitalar, ele afirma que ainda está confuso com tudo que aconteceu e tenta se adaptar à nova rotina.

"É uma nova história, uma nova vida, uma nova fase", diz Leandro ao comentar que está recebendo apoio dos familiares. Ele chegou a gravar um vídeo agradecendo as mensagens positivas. "Quero agradecer a todos pelas mensagens de motivação", diz.

Por telefone, ele contou sobre o relacionamento de cinco anos, que terminou após crises de ciúmes e até agressões. Antes daquele 22 de fevereiro, Sônia Obelar, de 41 anos, e Leandro já estavam separados há quase cinco meses. "Mas ela me ligava todos os dias, até que eu bloqueei e aconteceu isso", lamenta.

O casamento teve idas e voltas, até Leandro colocar um ponto final. "A gente voltou de novo, mas eu disse que era a última vez. Eu estava com o pé machucado e em uma discussão, ela me agrediu e eu me defendi. Ela tinha essas atitudes de me agredir, muito ciúmes, foi então que eu decidi sair de casa".

Durante cerca de um mês, o casal ainda trocava mensagens por causa das consultas médicas que Leandro estava passando. "Ela me ajudava com essa parte, mas depois que resolvi não falei mais. Ela acabou entrando em depressão, me ligou falando que precisava de dinheiro e comer. Quando falou isso, eu não aguentei", disse.

Leandro afirma que foi "ver com os próprios olhos" e constatou que a ex-esposa estava doente. "Ajudei ela, deixei um dinheiro, querendo ou não ela foi minha parceira e tentei ajudar. Mas ela começou a me ligar, mandar mensagem, queria me ver". O tatuador alertou que a ex estava confundindo e não iria reatar o casamento. "Eu falava que não podia, que não era para ela confundir", pontua.

Foi então que Sônia passou a perseguir o tatuador. "Quando bloqueei ficou vindo aqui na esquina de casa, até debaixo de chuva. Eu parei duas vezes para ver o que estava fazendo e da última ela estava com a jarra", lembra. Leandro diz que estava preocupado ao vê-la na esquina várias vezes e, por esse motivo, parava a moto.

Sônia, indiciada pela polícia por perseguição e lesão corporal gravíssima. (Foto: Facebook)
Sônia, indiciada pela polícia por perseguição e lesão corporal gravíssima. (Foto: Facebook)

Naquele dia, ele voltava da academia. "Estava sentada e eu parei a moto, porque me assustei com o jeito que ela estava. Então ela levantou com uma jarra e eu perguntei: 'você está com gasolina?'. Ela me respondeu que era óleo para fazer massagem no pé, porque eu sempre fazia massagem com óleo".

Ao virar para a ex, Leandro foi atingido pelo produto corrosivo. "Não tive tempo para correr, na hora que eu virei ela lançou aquela jarra. Não teve tempo de conversar, de falar muita coisa, foi muito rápido", descreve.

Com o rosto ardendo, Leandro foi perdendo a visão. "Virei para o lado contrário para não virar no mesmo lado dela, porque achei iria voltar e me matar. Via picos de luz da rua, fui perdendo a visão e quando eu vi o vulto de um morador pedi ajuda", conta. "Ele segurou a moto e eu não estava vendo mais nada", complementa.

Leandro foi socorrido pelos bombeiros e levado à Santa Casa, mas não esperava a pior notícia. "Achei que ia enxergar. Agora, vou ter que me adaptar com aquilo que conseguir. Eu tinha uma profissão boa, estava em um patamar bom e com estrutura. Hoje não consigo mais trabalhar", desabafa.

Sobre Sônia, Leandro diz que espera justiça, mas que em algum momento irá perdoá-la. "A gente não espera nunca a maldade. Por mais que brigamos e discutimos, não tinha a necessidade de causar tudo isso, querer destruir minha vida para eu não poder trabalhar, o sonho dela era que eu parasse de trabalhar. Agora eu não tenho como perdoar, mas é necessário", pontua.



Leandro ainda comenta que consegue ver que há luz no ambiente. "Os médicos disseram que não vai evoluir muito, a queimadura foi muito profunda nas córneas, mas ainda sonho que vou voltar a enxergar".

A ex-esposa, Sônia Obelar, foi intimada para prestar depoimento no início da tarde desta sexta-feira (3), mas não apareceu na 5ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande, onde o caso é investigado. Ela foi indiciada por perseguição e lesão corporal gravíssima.

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