ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
JULHO, SÁBADO  12    CAMPO GRANDE 27º

Capital

Na noite da Afonso Pena, efeito das drogas é risco para dependentes e motoristas

SAS diz que faz abordagens diárias, mas reforça que adesão a tratamento e abrigo é voluntária por lei

Por Gabi Cenciarelli | 12/07/2025 09:34


RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

A região central de Campo Grande registrou duas mortes por atropelamento em apenas 48 horas na Avenida Afonso Pena. As vítimas, que viviam em situação de rua, foram atingidas entre os dias 7 e 8 de janeiro, expondo um problema crônico de vulnerabilidade social na cidade. Motoristas relatam encontros frequentes com pessoas em situação de rua que atravessam a via de forma arriscada, especialmente durante a noite, muitas vezes sob efeito de entorpecentes. A Secretaria Municipal de Assistência Social afirma realizar abordagens 24 horas por dia, mas enfrenta dificuldades devido à adesão voluntária aos programas de acolhimento.

Na última semana, duas pessoas morreram atropeladas na região central de Campo Grande em um intervalo de apenas 48 horas. Os dois casos ocorreram na Avenida Afonso Pena, uma das mais movimentadas da cidade. Segundo testemunhas e trabalhadores da região, as vítimas viviam em situação de rua.

As mortes escancaram um problema antigo e visível, mas negligenciado: a presença cada vez maior de pessoas em vulnerabilidade social nas ruas, expostas ao vício em entorpecentes e à ausência de políticas públicas eficazes.

A reportagem esteve na Afonso Pena e flagrou o que se tornou rotina. À noite, surgem no meio da pista ou caminham entre os carros. Em imagens registradas pela equipe, muitos aparecem visivelmente alterados, com dificuldades de equilíbrio entre os veículos.

Na noite da Afonso Pena, efeito das drogas é risco para dependentes e motoristas
Gilmar Adão de Oliveira, taxista da região (Foto: Juliano Almeida)

Nas ruas – O taxista Gilmar Adão de Oliveira, que trabalha há 35 anos na região, afirma que os sustos fazem parte da rotina de quem dirige à noite pelo Centro. “Eles não têm noção do perigo. Não é que se jogam, mas andam no meio da rua como se nada estivesse acontecendo”, descreve.

“Isso aqui é crônico, acontece todo dia”, resume Gilmar. Para ele, as mortes não podem ser tratadas como fatalidades isoladas. “Isso é um problema de saúde pública. Quem anda por aqui à noite sabe. Agora imagina um motorista que passa só de vez em quando e se depara com alguém atravessando do nada. Não dá tempo de reagir.”

Professor há 30 anos, Jefferson Morinigo também aponta os riscos vividos diariamente por quem está nas ruas. “Eles não estão num lugar seguro. A partir do momento que você está na rua, já está exposto a perigo. Até nós, que temos um certo cuidado, já corremos risco — imagina eles”, afirma. Para ele, a situação piora ainda mais à noite. “Eles não têm o reflexo. Fica ainda mais complicado.”

Na noite da Afonso Pena, efeito das drogas é risco para dependentes e motoristas
Jefferson Morinigo em conversa com o Campo Grande News (Foto: Juliano Almeida)

Thiago Neto, estudante, conta que dirigir pelo centro durante a madrugada exige atenção redobrada. “Muitas vezes, não dá para ver. À noite, tudo escuro. Quando percebe, tem alguém no meio da rua. A solução vai ser dirigir com muita calma e atenção. Sempre passo buzinando pelo centro”, relata.

E o poder público? – Questionada sobre as políticas públicas para lidar com o problema, a SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) informou que Rosimar dos Santos, uma das vítimas desta semana, não estava em situação de rua no momento do acidente. Ele havia sido atendido pela rede pública em março, após chegar de Minas Gerais. Depois de um dia nas ruas, foi acolhido na Unidade de Acolhimento Institucional para Adultos (UAIFA I), onde recebeu apoio para reorganizar documentos, alugar uma kitnet na região central e acessar serviços jurídicos e sociais. Mesmo após se estabelecer, continuava sendo acompanhado por equipe da assistência social.

Na noite da Afonso Pena, efeito das drogas é risco para dependentes e motoristas
Morador de rua em meio a carros em trânsito do centro (Foto: Juliano Almeida)

A SAS afirma ainda que realiza abordagens 24 horas por dia em todas as regiões de Campo Grande, por meio do Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS). As ações são intensificadas em pontos com maior concentração de pessoas em situação de rua, como viadutos, pontes e praças. O atendimento é feito em parceria com órgãos como Sesau, Funsat, EMHA, Defensorias e Ministério Público. Em casos de dependência química, os usuários são encaminhados à rede de saúde, como CAPS e UPAs, mas muitos abandonam o tratamento. A secretaria reforça que, por lei, a adesão ao acolhimento é voluntária.

Mortes - Na madrugada de domingo (7), uma pessoa foi atropelada entre as avenidas Afonso Pena e Ernesto Geisel. Na noite de terça-feira (8), Rosimar Ferreira dos Santos, de 51 anos, foi atingido por uma caminhonete no cruzamento com a Rua 13 de Maio, em frente à Praça Ary Coelho. A cena se repete em diferentes pontos do Centro: moradores de rua pedindo dinheiro no semáforo, atravessando a via de forma perigosa, muitos visivelmente sob efeito de álcool ou drogas.

Na noite da Afonso Pena, efeito das drogas é risco para dependentes e motoristas
Morador de rua em meio a trânsito do centro (Foto: Juliano Almeida)

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias