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Capital

Pedreiro que matava a pauladas chocou amigo na infância ao estraçalhar galo

“Na época, eu fiquei assustado. Eu gritava já morreu cara, já morreu", diz amigo sobre lembrança que guarda há 33 anos

Aline dos Santos | 20/05/2020 12:13
Cleber foi preso na sexta-feira, dia 15, e levou polícia a locais onde enterrou vítimas. (Foto: Henrique Kawaminami)
Cleber foi preso na sexta-feira, dia 15, e levou polícia a locais onde enterrou vítimas. (Foto: Henrique Kawaminami)

A cena, vista aos 12 anos, do amigo matando um galo com incessantes marteladas, seguida de muitos risos ao ver a cabeça da ave afundar na areia ainda impressiona um empresário de 45 anos.

Ele conta que o menino que empunhava o martelo violentamente contra o galo era Filé, apelido de infância de Cleber Souza de Carvalho, 43 anos, agora mais conhecido como o “pedreiro assassino”, que confessou ter matado sete pessoas com pauladas na cabeça.

 “Na época, eu fiquei assustado. Eu gritava já morreu cara, já morreu. O martelo afundando a cabeça na terra e ele começou  a rir. Isso ficou na minha cabeça”, afirma o empresário ao Campo Grande News, que pediu para não ter o nome divulgado.

O episódio no fim da década de 80 foi quando os amigos moravam em área de invasão, que viria a ser a Rua Júpiter, no bairro Alto Sumaré, região da Vila Planalto, em Campo Grande.

 Na entrevista, o homem de 45 anos conta que a mãe do amigo pediu para que eles pegassem (leia-se furtar) uma galinha no quintal do vizinho. Ele logo se animou diante da perspectiva de jantar na casa do colega e assistir televisão, eletrônico que ainda não tinha em seu lar.

“Joguei a bacia em cima do galo e o Filé puxou o pescoço para fora. Começou a bater o martelo, eu gritava que ele já tinha morrido, mas ele bateu na cabeça do galo até sumir na terra”, relata.

O empresário afirma que também matava galos, mas se surpreendeu  com a agressividade do amigo. Segundo ele, o normal era torcer o pescoço da ave.  O episódio ficou na memória e a vida seguiu para os amigos, que estudavam na escola Nelson Pinheiro e compartilhavam de uma infância sem muros ou cercas na área de invasão.

Na adolescência, o empresário conta que os amigos participaram de gangues e Cleber gostava de mostrar armas,  com fama de “resolve tudo” na brigas entre adolescentes. A amizade terminou quando o homem descobriu fraude no telefone da mãe, que sempre estava com sinal de ocupado e com contas em valores incompatíveis. Ele encontrou uma extensão irregular, uma fraude, e denunciou o amigo à polícia.

“Ele me ameaçou de morte. Mas era magro, pesava uns 50 quilos, e eu era mais forte. Mandei ele entrar na fila”, diz. O agora empresário foi trabalhar em uma firma de manutenção de ar-condicionado, começou a viajar constantemente e a amizade e a ameaça cessaram.

Agora, descobriu que o amigo de infância mata pessoas em série, não poupando nem mesmo o primo Flávio Pereira Cece, 39 anos. Os três moravam perto. “O Flávio era um garoto especial, sem maldade, perdeu o pai cedo”, diz. Ele conta que Flávio tinha um irmão, que teria saído de casa adolescente para trabalhar em fazenda e nunca mais foi visto.

O empresário também conta que conheceu Roberto Clariano, 48 anos, conhecido no bairro como Cenoura, e que, inclusive, depois do crime, o pedreiro procurava vizinhos da vítima para saber se tinham notícia do homem desaparecido.

Cruzes: Gráfico mostra onde corpos de sete vitimas foram enterrados por assassino. (Arte: Thiago Mendes)
Cruzes: Gráfico mostra onde corpos de sete vitimas foram enterrados por assassino. (Arte: Thiago Mendes)

Matou, enterrou e ficou com a casa – A trajetória de crimes do pedreiro Cleber Souza de Carvalho começou a ser desvendada neste mês de maio, após o assassinato do comerciante José Leonel Santos, 61 anos.

A vítima foi morta e enterrada em sua própria casa, na Vila Nasser. Após o crime Cleber e a família se mudaram para o imóvel, inclusive convidando os parentes para conhecerem o novo endereço.

O sumiço do comerciante chamou a atenção dos vizinhos. A esposa e a filha foram presas pela DEH (Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes de Homicídios).

Cleber foi preso no dia 15 e logo pela manhã começou a escavar os locais onde tinha enterrados as outras vítimas. A defesa do pedreiro vai alegar insanidade mental.

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