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Pela primeira vez em meio século sem fanfarras e plateia, 14 de Julho é silêncio

Rua mais movimentada da região central não teve o vai e vem dos clientes do comércio interrompido pelo colorido das apresentações

Anahi Zurutuza e Bruna Marques | 26/08/2020 08:34
Rua 14 de Julho só não estava completamente vazia nesta manhã porque um ou outro morador resolveu sair para ver como seria o primeiro 26 de agosto sem desfile (Foto: Kísie Ainoã)
Rua 14 de Julho só não estava completamente vazia nesta manhã porque um ou outro morador resolveu sair para ver como seria o primeiro 26 de agosto sem desfile (Foto: Kísie Ainoã)

Não há no arquivo histórico de Campo Grande registro de quando foi a primeira vez que campo-grandenses, de nascimento ou coração, saíram pela Rua 14 de Julho para homenagear a Capital. Mas, este será o primeiro 26 de Agosto em meio século que a rua mais movimentada da região central não terá o vai e vem dos clientes do comércio interrompido pelo colorido tradicional desfile cívico.

Morador do Centro, Rui Espinola Barbosa, de 56 anos, diz sentir falta até do barulho da montagem das arquibancadas (Foto: Kísie Ainoã)
Morador do Centro, Rui Espinola Barbosa, de 56 anos, diz sentir falta até do barulho da montagem das arquibancadas (Foto: Kísie Ainoã)

Em plena pandemia de um inimigo invisível, não seria possível promover aglomerações ou fazer que ao menos 25 mil pessoas, público das últimas apresentações, descumprissem o isolamento em casa para lotar arquibancadas.

Nesta quarta-feira, a 14 de Julho amanheceu em silêncio. "Não ouvir o barulho das arquibancadas sendo montadas no dia anterior, das ruas bloqueadas, até isso a gente sente falta", afirma o cirurgião dentista Rui Espinola Barbosa, de 56 anos, dos quais 39 vive na Capital.

“26 de Agosto e 7 de Setembro são memoráveis para Campo Grande, já desfilei quando era do Exército e a lembrança que tenho é de arquibancadas lotadas, muita alegria, era  diversão das pessoas”, completa o dentista, que mora no Centro há 3 anos.

A cuidadora de idosos, Maria Cláudia Santos, 67, é campo-grandense de nascimento. Criada pelos padrinhos, conta que eram eles que a levavam para assistir as bandas e fanfarras. Anos depois, ela repetiu a tradição com os cinco filhos. "Desde que me entendo por gente é a primeira vez que não tem. É triste, mas nós entendemos que não é o momento", lamenta.

Também moradora da região central, nesta quarta-feira, ela decidiu caminhar pela 14 de Julho. "Hoje até vim por aqui andando para ver como estava. A cidade está apagada, muito silêncio, sem movimento, nem parece que é dia de festa".

Registros – A Arca (Arquivo Histórico de Campo Grande) não tem registro do primeiro desfile de 26 de agosto, mas fotos dos acervos de moradores da Capital são prova de que as apresentações de escolas e associações, guiadas pela Banda Municipal, acontecem há pelo menos 50 anos.

Compositor, percussionista e fundador do Grupo Acaba, Moacir Lacerda, é dono de algumas dessas imagens e as tornou públicas, anos atrás, nas redes sociais. O fotógrafo Roberto Higa também.

Jovens desfilam em 26 de agosto de 1969 (Foto: Acervo Moacir Lacerda) 
Jovens desfilam em 26 de agosto de 1969 (Foto: Acervo Moacir Lacerda)


Foto tirada entre 1967 e 1970, já que o cartaz homenageia o então prefeito Plínio Barbosa Martins (Foto: Acervo Moacir Lacerda) 
Foto tirada entre 1967 e 1970, já que o cartaz homenageia o então prefeito Plínio Barbosa Martins (Foto: Acervo Moacir Lacerda)


Comemoração dos 83 anos de Campo Grande, em 1982 (Foto: Roberto Higa) 
Comemoração dos 83 anos de Campo Grande, em 1982 (Foto: Roberto Higa)

Nostalgia – Quem tem vaga cativa nos desfiles de 26 de Agosto também lamenta. Maestro da Banda Municipal, Antônio Marcos Ramires Bezerra, de 50 anos, participa do evento de comemoração ao aniversário da Capital desde os 7 anos de idade. “Me arrepio todo!”, afirma, e relembra que “o desfile era o ápice das comemorações, que começavam com a alvorada na Esplanada e de lá, a gente se deslocava para o desfile”.

Otimista, ele se nega a ver apenas o lado negativo de toda a situação e avalia que é preciso olhar para o que se pode aprender.

“Triste ou não, sei que estamos aprendendo, é tudo novidade. Talvez com tudo isso passemos a valorar outras coisas, ter outras referências”, afirmou em entrevista ao Campo Grande News no dia 2 de agosto.

Bezerra avalia que a tristeza existe pelas vidas perdidas com a pandemia. Diz, porém, ver necessidade de “refletir sobre isso, como tirar algum proveito de uma situação tão ruim, olhar pra frente e pensar que vai passar”.

Para quem tem amor pela tradição, o que o Campo Grande News não poderia deixar passar são as recordações.

Confira a galeria de imagens:

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