Por dia, Casa da Mulher Brasileira recebe 30 vítimas de violência
Casa da Mulher Brasileira completa 10 anos de atuação; unidade na Capital foi a 1ª do Brasil
Quando não chegam sozinhas, elas atravessam a porta principal na companhia de outra mulher. A violência não tem limite de idade, etnia e classe social, por isso, em poucas horas dentro da Casa da Mulher Brasileira, elas parecem tão diferentes, mas iguais ao mesmo tempo.
RESUMO
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A Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande acolhe vítimas de violência doméstica, oferecendo suporte completo, incluindo atendimento psicológico, delegacia de polícia, medidas protetivas, Defensoria Pública e alojamento de passagem. Com 745 casos registrados na capital em 2023, a unidade atende cerca de 30 mulheres por dia. A delegada adjunta Fernanda Piovano destaca a complexidade das razões que levam as mulheres a denunciar. A coordenadora Cleide Rodrigues da Costa relata histórias de superação. A Casa é pioneira no Brasil, com outras nove unidades no país.
Em Campo Grande, há uma década, na Rua Brasília, no Bairro Jardim Imá, a Casa da Mulher Brasileira acolhe vítimas em situação de violência. Nesta quinta-feira (6), conforme dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), os registros deste ano relacionados a violência doméstica chegam a 745. Isso só na Capital, pois no Estado inteiro esse tipo de crime totaliza 1.926 casos.
Em um plantão de 24 horas, pelo menos 30 mulheres chegam no endereço. Às segundas-feiras, o fluxo de vítimas aumenta nas dependências da Casa da Mulher Brasileira. Essa informação surpreende, já que nesta quinta-feira, só às 14h30, mais de 15 mulheres estavam aguardando atendimento.
Uma delas era bem jovem, nem parecia ter completado 18 anos. É só quando se levanta que é possível ver a barriga volumosa. Outras três mulheres, que parecem ser da mesma família, acompanham a que está grávida para a outra sala.
Há nove anos, a delegada adjunta Fernanda Piovano trabalha na Casa da Mulher Brasileira, que abriga não só a Deam, mas também a primeira Vara Especializada em Medidas Protetivas e Execução de Penas do País.
A delegada adjunta explica que as vítimas de violência doméstica encontram no mesmo lugar suporte completo. “Além de passar pelo atendimento psicológico, elas têm orientação pela delegacia de polícia e a medida protetiva já é aqui. Também tem atendimento da Defensoria Pública, alojamento de passagem e o Imol”, diz.
O alojamento de passagem é destinado para as mulheres que estão em situação de risco e não têm para onde ir. Durante 48 horas, elas podem permanecer no lugar se assim quiserem. “Depois, se precisar de mais tempo, são encaminhando para o setor psicossocial. É tudo aqui para que de uma vez elas consigam sair pelo menos amparadas. Então, elas sentem isso”, completa a delegada adjunta.
Para se sentirem seguras, até a presença de homens é proibida em determinadas áreas onde eles não podem circular e, se circulam, não demora para algum funcionário o levar para outro lugar. Um desses espaços voltados apenas para elas é o jardim que fica entre o caminho da recepção à Deam.
Ali foram plantadas diversas espécies de plantas, porém, só na outra ponta, além do jardim, estão enraizadas as árvores de ipê amarelo, vermelho e branco que Cleide Rodrigues da Costa plantou. Coordenadora da Casa da Mulher Brasileira, ela chegou um ano depois da inauguração em 2015, quando veio da SAS (Secretaria de Assistência Social).
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Apesar de lidar com diferentes tipos de histórias todos os dias e, a maioria delas permeada pela violência, Cleide relata o motivo de gostar do que faz. “Eu gosto de trabalhar com as mulheres vítimas de violência doméstica, trabalhar acolhendo, porque sou uma pessoa acolhedora. Às vezes você se depara com cada situação que mexe com o emocional”, diz.
Uma dessas situações é lembrada por ela durante a conversa desta tarde. “Conheci uma vítima que ficou no nosso alojamento e ela aqui dentro fez um curso. Passou um monte de tempo e fui em uma padaria e ela que estava lá. A padaria era dela e eu fiquei muito feliz”, afirma.
Cleide é só uma das várias mulheres que trabalham no lugar que tem 3.700 m² de edificação em um terreno de 12 mil m². Algumas vítimas demoram muito tempo para procurar a Casa da Mulher Brasileira pela primeira vez, enquanto outras recorrem ao espaço após a primeira situação de violência.
Esse tempo entre a primeira agressão e a denúncia, conforme a delegada adjunta Fernanda Piovano é bem relativo. “É bastante complexo, a violência em si, os motivos pelos quais a mulher não consegue sair, é tudo muito complexo e as justificativas podem ser as mais complexas. Mas, tem umas que veem pela primeira agressão, mas imagino que seja a minoria. Geralmente, elas vêm quando já vivenciaram o ciclo da violência”, pontua.
Telefones - A violência contra mulher é crime. Para denunciar, basta ligar no disque denúncia 180, da Central de Atendimento à Mulher. Se for urgência, ligue no 190 da Polícia Militar.
O telefone da Casa da Mulher Brasileira é (67) 2020-1300. O endereço é Rua Brasília, lote A, quadra 2, s/ nº - Jardim Imá.
Apesar de ser pioneira no País, a unidade em Campo Grande não é mais a única. Atualmente, há outras nove localizadas em Curitiba (PR), Fortaleza (CE), São Paulo (SP), Boa Vista (RR), Ceilândia (DF), São Luís (MA), Salvador (BA), Teresina (PI) e Ananindeua (PA), sendo que as três últimas foram inauguradas em 2023 e 2024.
Nesta noite, na Casa da Cultura, a Prefeitura de Campo Grande e a Secretaria Executiva da Mulher realizam cerimônia de comemoração aos 10 anos da Casa da Mulher Brasileira. Apesar de ter sido inaugurada no dia 3 de fevereiro, a celebração será neste dia 6.
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