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Capital

Preso por homicídios, "Corumbazinho" já incendiou 3 ônibus por ordem do PCC

Além das mortes, ele é acusado de enterrar os corpos em cemitério clandestino num brejo da Capital

Geisy Garnes | 01/10/2021 13:00
Josyel Aparecido, o “Corumbazinho”, acumula passagens desde 2012. (Foto: Redes Sociais)
Josyel Aparecido, o “Corumbazinho”, acumula passagens desde 2012. (Foto: Redes Sociais)

As investigações sobre a morte dos dois homens encontrados pela DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crime de Homicídio) em cemitério num brejo próximo ao Córrego Bálsamo, no Bairro Santo Eugênio, aos poucos, revelam uma rede de crimes cuja figura central é Josyel Aparecido Lemos da Silva, o “Corumbazinho”, de 24 anos, preso nesta terça-feira (28), em Campo Grande.

Apontado como o braço do PCC (Primeiro Comando da Capital) na região em que desovou os dois corpos tidos como desafetos, Josyel carrega em seu histórico crimes em nome da facção paulista desde a adolescência, além de um perfil vingativo e ciumento.

“Corumbazinho” tornou-se alvo de investigações da Delegacia de Homicídio após a denúncia do desaparecimento de Jhon Wellington Maciel dos Santos, conhecido como “Jhony Bala”, de 27 anos. Foi dele o segundo corpo retirado da área que a polícia acredita ser usada como cemitério clandestino pelo PCC.

No dia 5 de maio, Jhon Bala saiu de casa após receber uma ligação e nunca mais voltou. Foi morto com vários tiros na cabeça ao ser sentenciado pelo “Tribunal do Crime” da facção e teve o corpo enterrado pelos assassinos. Para a polícia, Josyel foi quem cumpriu a ordem de execução.

A ligação dele com a facção paulista é antiga. Desde os 15 anos, “Corumbazinho” acumula passagens pela polícia. O primeiro registro é de uma contravenção penal em 2012. Na época, ainda morava na cidade de Corumbá, o que  rendeu o apelido. A partir daí, a frequência com que se envolvia em crimes só aumentou.

Crimes de ameaça, roubo, tráfico de drogas, violência doméstica, posse ilegal de arma, dano e homicídio marcam a vida do rapaz. Em 2016, quando tinha 19 anos, foi personagem de um dos episódios de violência e vandalismo ordenados pelo PCC em Campo Grande: o ataque a três ônibus como retaliação ao curso de incursão rápida em presídios da Capital.

Para a polícia, “Corumbazinho” uniu-se a adolescentes para seguir instruções repassadas por Bruno de Mello Garcia, preso do Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, a Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande. No dia 14 de abril, cumpriram o plano, cercaram um ônibus no Bairro São Conrado, arremessaram pedras, jogaram combustível em todo veículo e também no motorista. Pouco antes de atearem fogo, no entanto, a vítima conseguiu acelerar e fugir.

Logo em seguida, os jovens atearam fogo e atiraram contra um segundo ônibus. Eles esperaram o veículo ser totalmente consumido pelas chamas e foram ao Jardim Campo Nobre, onde fizeram o mesmo com um ônibus particular. No caminho, ainda assaltaram uma mulher. A arma usada, conforme as investigações, era de “Corumbazinho”.

No mundo do tráfico – Na terça-feira (28), quando foi preso pelas equipes da Delegacia de Homicídios por ordem judicial da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Josyel foi flagrado com porções de pasta base de cocaína e por isso, também acabou detido por tráfico de drogas, junto com a atual companheira, de 19 anos.

No entanto, essa não é a primeira vez que Josyel é preso com cocaína. Em 2015, no Jardim Campo Alto, ele foi encontrado com 11 papelotes da droga e confessou para os policiais que revendia o entorpecente na região. Detalhou que comprou droga com um conhecido no Jardim Itamaracá e repassava cada "paradinha" por R$ 10.

Conforme apurado pela reportagem, atualmente, “Corumbazinho” comandava o tráfico no Santo Eugênio e tinha posição de poder no bairro, espalhando terror entre os moradores.

Equipes da polícia em buscas em brejo próximo ao Córrego Bálsamo. (Foto: Kísie Ainoã)
Equipes da polícia em buscas em brejo próximo ao Córrego Bálsamo. (Foto: Kísie Ainoã)

Violência e morte – Entre a longa ficha criminal, Josyel chegou a cumprir pena por bater na ex-namorada. Eles viveram juntos por quatro anos, mas o ciúme e a agressividade do suspeito prevaleceram. Por duas vezes, entre 2014 e 2015, a vítima procurou a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) para denunciar as agressões.

Depois disso, o relacionamento chegou ao fim, mas nem assim a jovem conseguiu escapar de “Corumbazinho”. Em 2017, depois de encontrar o ex-namorado na casa de uma amiga, acabou agredida a socos e golpes de capacete simplesmente por se negar a subir na moto com ele.

A violência no tratamento com a companheira se repete nos outros relacionamentos de Josyel. O namoro seguinte do rapaz foi com Vanessa Leandro Pereira de Lima, de 23 anos. Por ciúmes dela, matou pelo menos duas pessoas: João Vitor Paixão Lopes, de 17 anos, e a primeira vítima encontrada enterrada no cemitério, que ainda não foi oficialmente identificada.

João Vitor foi morto a tiros em junho do ano passado (Foto: Arquivo)
João Vitor foi morto a tiros em junho do ano passado (Foto: Arquivo)

Em 8 de junho de 2020, “Corumbazinho” atraiu o adolescente e ordenou que o pai, Lauro Antônio da Silva, o matasse a tiros.

Na época em que de fato os crimes aconteceram, ele convivia com Vanessa, mas o ciúme doentio fazia com que acreditasse que a companheira tinha amantes. Por isso, contratou João Vitor para vigiar ela. Combinou que em troca de informações sobre o dia a dia da mulher, pagaria porções de cocaína ao adolescente. Assim aconteceu por um tempo, mas um “mal-entendido” teria transformado o amigo em alvo.

Desconfiando que o próprio João estava envolvido com Vanessa, “Corumbazinho” organizou uma emboscada para matar o adolescente ao lado do pai Lauro Antônio, do comparsa Brenno Gonçalves Rodrigues e de outros dois adolescentes.

Segundo o Ministério Público, o autor dos disparos foi o pai de “Corumbazinho”, a mando do filho. Depois da execução, o corpo foi arrastado e deixado às margens do Bálsamo, de onde foi resgatado após três dias. Toda a história foi descoberta nas investigações da 5ª Delegacia de Polícia Civil, mas na Justiça, a denúncia não avançou e os três homens ganharam a liberdade em fevereiro deste ano.

A polícia descobriu recentemente que ciúmes de Vanessa também pode ter motivado o assassinato da primeira vítima encontrada enterrada no cemitério clandestino. Testemunhas foram ouvidas para comprovar a linha de investigação e a própria mulher acabou presa temporariamente por suspeita de envolvimento.

Vanessa não está mais com Josyel, mas como convivia com ele e sabia dos crimes cometidos na região, foi apontada como coautora do homicídio e está presa deste quarta-feira (29) por força de mandado de prisão temporária, que tem validade de 30 dias.

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