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Capital

Promotor diz que policial federal trabalhava para os 2 lados e pede condenação

Gerson Eduardo de Araújo afirmou que Jamil Name filho considerava Everaldo Monteiro seu espião

Por Ana Paula Chuva e Dayene Paz | 18/09/2024 13:44
Gerson Eduardo afirmou que provas mostram ligação de Everaldo com Jamilzinho (Foto: Henrique Kawaminami)
Gerson Eduardo afirmou que provas mostram ligação de Everaldo com Jamilzinho (Foto: Henrique Kawaminami)

Finalizando a tese da acusação, o promotor Gerson Eduardo de Araújo do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) declarou que elogios feitos ao policial federal Everaldo Monteiro são vergonha para a instituição que ele trabalha e que ele “trabalha para os dois lados”, ou seja, tanto para a PF quanto para a organização criminosa responsável pelo homicídio de Marcel Hernandes Colombo, o “Playboy da Mansão”.

A fala de Gerson começou pouco antes do meio-dia e terminou por volta das 12h45. O promotor começou falando sobre os elogios feitos a Everaldo na terça-feira (17). Ele afirma que, para a vergonha da instituição, o policial trabalha para os dois lados e como nome dele surgiu no processo que investigou o assassinato de Marcel e já havia sido falado em plenário.

“Pesquisas feitas por desafetos de Jamil Name Filho estavam no arsenal. O que esses nomes faziam em um arsenal de guerra? Essas pessoas não estavam ali para receber flores. Eram inimigas do Jamil Name Filho. Com login e senha, pesquisas restritas. Registros de ligações feitas e recebidas por um número de telefone em determinado período com sinal para saber a localização dessas pessoas e essa informação sigilosa estava no pen-drive junto com as armas”, afirmou Gerson.

Ele ainda destaca que Everaldo em nenhum momento negou, e sim admitiu, ter feito as pesquisas antes da apreensão e que não houve manipulação nenhuma nas provas. “Isso é grave, estamos falando de pessoas pesquisadas que tinha desavenças com o líder da organização criminosa. E ele fala que elas estavam ali por estarem vinculadas com o tráfico de drogas. Não há uma prova mínima nesse sentido”, disso o promotor alegando se tratarem de pessoas de bem.

O promotor continua falando que no dia dos fatos, a atribuição de Everaldo era a escolta de presos, plantão de superintendência, conduções coercitivas para audiências e eventual composição em operações e em diligências de inquéritos de baixa complexidade. “E ele vem com essa história de que informante deu essa informação para ele. E como que o pen-drive rosa que ele admite ser dele foi parar no arsenal?”.

A versão dada pelo policial federal era de que o equipamento foi furtado enquanto ele estava em um barzinho. Mas Jamilzinho alega que Everaldo frequentava sua casa e que o pen-drive deve ter caído em uma dessas visitas e, então, uma de suas funcionárias acabou recolhendo.

Promotor enfatizou que policial federal trabalha també para o crime organizado (Foto: Henrique Kawaminami)
Promotor enfatizou que policial federal trabalha també para o crime organizado (Foto: Henrique Kawaminami)

“E como foi parar no arsenal, se ele fala que o arsenal não é dele? Isso demonstra justamente o motivo pelo qual Everaldo está aqui sentado no banco dos réus. Ele prestava informações sigilosas aos líderes dessa organização criminosa que estava julgando no dia de hoje”, declara Gerson.

O promotor segue seu discurso falando sobre as pessoas com quem Jamilzinho tinha desavenças. Gerson cita o advogado Antônio Augusto Souza Coelho, radicado em São Paulo e especialista em direito empresarial e do agronegócio que era alvo de “ódio alimentado” pela família Name por conta de desacordo em negociação de terras que pertenciam à Associação das Famílias para Unificação da Paz Mundial.

“Antônio Augusto foi pesquisado. Ele tinha uma disputa envolvendo milhões com o Jamil Name Filho. Isso foi dito por desembargador que frequentava a casa dos Name. E essa rixa era tão grande que em determinado dia teve um jantar e houve uma briga por conta disso. O advogado, no mesmo dia, pegou avião e foi para São Paulo onde ficou internado. O desembargador, então, declarou que Jamilzinho não deixaria isso barato”, relata o promotor.

Gerson cita também a ameaça feita a Francisco Neri, que tinha relações com Antônio Augusto, também pesquisado por Everaldo e recebeu ligação do advogado de Jamilzinho para depor em seu favor. “Mandou capanga lá na fazenda. Puxou a arma para minha esposa e eu não estava lá. Minha esposa perdeu o filho por causa disso. O que vai acontecer agora? Vão acabar, exterminar, acabar com minha família?”, parte do depoimento do homem lido pelo promotor.

“Everaldo frequentava a casa dos Name. Tinha contato com os líderes da organização criminosa. Policial altamente capacitado, por isso, a organização captou um sujeito desse. Agora uma pessoa altamente preparada, conhecedor do crime no Estado se envolveria com pessoas que controlaram por anos o jogo do bicho?”, questiona o promotor.

O representante do Gaeco ainda declara que é só fazer pesquisas para que a sociedade entenda o que há por trás do jogo bicho. “Corrupção, pistolagem, um monte de crime bárbaro. Furtaram meu pen-drive e num azar do caramba foi parar no arsenal. Arsenal que a Justiça já deu condenação”, relatou.

Durante a operação Omertà, o celular de Everaldo foi apreendido e nomes de outras pessoas estavam nas pesquisas como do assessor de senador em Rondônia que teria dado um golpe em Jamilzinho, junto com outro homem. No arsenal ainda foi encontrado um “boné espião”, com vídeo onde Jamil Name Filho aparece dando uma “dura” em um dos dois.

Além disso, outra informação importante foi encontrada no celular do policial federal. “Um dia antes da operação Omertà, uma pessoa de vulgo Canguru ligou para Everaldo e disse que o Jamilzinho queria falar com ele. O número de telefone era do Jamil Name Pai, e Canguru era o nome que ele mesmo se deu quando foi preso”, continua Gerson.

Isso, segundo o promotor, comprova o vínculo de Everaldo com os líderes da organização criminosa “mais perigosa de Mato Grosso do Sul”. Na queda dos dados telemáticos de Everaldo foram descobertos diversos diálogos dele com Jamilzinho, que o chamava de “Clóvis”, apelido reconhecido pelo próprio policial federal, e ele chamando Jamil de “Bob”.

O promotor ainda cita conversas com o policial usando outros codinomes. E que todas as pesquisas encontradas no pen-drive foram achadas também no e-mail dele que protegia as informações. “Everaldo orienta como fazer para que Jamilzinho tenha acesso ao e-mail da ex-esposa. Temos aqui comprovadas que Everaldo tinha relações com os líderes da organização criminosa. Ele sabia com quem estava lidando. Ele também fornecia dados sensíveis para o Jamil Name Filho”.

“Tem relações dele com gente perigosa da fronteira. Ganhando celular, passagem para a família inteira ir para Fortaleza, enfim, está comprovado nos dados telemáticos que ele fazia pesquisas de interesse do Jamil Name Filho e que se valia de colegas em uma estrutura paralela para adquirir informações sigilosas”, explica o promotor.

Gerson cita também um áudio que ele envia para alguém que o nome seria de Marcel Hernandes Colombo, ele afirma que era para um delegado morto e que nenhuma testemunha confirmou isso. “Ele estava ali solicitando que alguém fizesse pesquisas de Marcelo Colombo e esse áudio foi dez dias antes do assassinato. Ele tinha uma Abin paralela”, pontua.

Por fim, o promotor fala novamente do bilhete com informações que só integrantes da organização criminosa saberiam e finaliza pedindo a condenação dos réus. “Informações verossímeis. Dão conta de que ele sim, tem responsabilidade na ocultação dessa arma e o Ministério Público pede a condenação dos réus nos termos da denúncia”, finalizou Gerson. Na sequência, a sessão foi suspensa para o almoço.

Marcelo Rios e Rafael Antunes sentados no banco dos réus durante acusação (Foto: Henrique Kawaminami)
Marcelo Rios e Rafael Antunes sentados no banco dos réus durante acusação (Foto: Henrique Kawaminami)

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