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Capital

Sequestradores queriam R$ 200 mil e sem a quantia, planejaram matar comerciantes

Mentores do crime falavam com dupla de sequestradores ao celular no cárcere, mas ainda não foram identificados

Por Lucia Morel | 05/01/2024 16:19
Militares do Choque, ontem, em casa onde um dos assaltantes morreu. (Foto: Ana Beatriz Rodrigues)
Militares do Choque, ontem, em casa onde um dos assaltantes morreu. (Foto: Ana Beatriz Rodrigues)

Cárcere e extorsão que terminou com a morte de um dos sequestradores de três comerciantes ontem foi praticado para retirar R$ 200 mil da vítima, que é dona de cinco lojas de celulares em Campo Grande, sendo quatro no Camelódromo e uma no bairro Mata do Jacinto. Sem terem o dinheiro na hora, eles planejaram matar o comerciante e outros dois que foram com ele até o local do crime, no bairro Caiobá.

Em depoimento na Depac/Cepol (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário Cepol) ao delegado Felipe de Oliveira Paiva, o comerciante que foi alvo principal dos sequestradores contou que combinou de se encontrar no endereço onde foi feito refém com pessoa que já havia comercializado celulares com ele no mês passado.

Na ocasião, mulher de nome Maria levou os aparelhos até o Camelódromo e recebeu quantia de R$ 155 mil divididos entre a vítima e outro dono de loja de celulares e lhes foram entregues 189 equipamentos da marca Xiaomi (R$ 820,10 cada um). A mesma pessoa quis novamente em janeiro vender mais 600 aparelhos ao comerciante, mas agora seriam R$ 400 mil (R$ 666,00 cada um), sendo metade no momento da entrega.

Entretanto, para que os aparelhos fossem entregues, agora a vítima teria que ir até um local determinado por Maria, que acreditava ser a casa dela. O encontro foi marcado inicialmente para a noite do dia 3 de janeiro – um dia antes do crime –, mas segundo a vítima, ficou tarde e a entrega foi então remarcada para a manhã de ontem, dia 4 de janeiro.

Lá chegando, o comerciante estava com mais duas pessoas, também todos de 23 anos e que eram seus funcionários. Eles foram recebidos por homem de blusa listrada, posteriormente identificado como um dos presos, Valdir de Oliveira Lopes Filho, 23. A vítima relatou que não levou dinheiro para o local do crime porque iria tentar renegociar a entrada de R$ 200 mil, já que ainda não havia levantado o dinheiro.

Ao entrarem, foram rendidos pela pessoas que os atendeu e em seguida por um encapuzado, ambos armados. O trio foi levado a um quarto da casa, que é na verdade um salão de festas no bairro Caiobá, e a dupla passou a exigir o pagamento imediato dos R$ 200 mil acordados com a suposta Maria. Negando ter o dinheiro, o comerciante passou a ser agredido, assim como seus amigos.

Com medo, fez um Pix de R$ 16 mil aos criminosos, que caiu em nome de Tânia Regina Fecho Guimarães, não identificada como participante ou laranja, até o momento.

Clientes em lojas de celulares do Camelódromo. (Foto: Alex Machado)
Clientes em lojas de celulares do Camelódromo. (Foto: Alex Machado)

Mais envolvidos – O encapuzado, identificado posteriormente como sendo o sequestrador que acabou morto pelo Batalhão de Polícia Militar de Choque, Geovane Ferreira de Lima, 27 anos, fez ameças de morte às três vítimas, mas para isso, falava ao celular, em viva-voz e em reunião com mais pessoas. Essas davam comandos sobre o que fazer com o trio em cárcere.

Em seu depoimento, a vítima alvo contou que o encapuzado retirou o capuz e Valdir passou a falar no celular “em uma espécie de conferência com outras pessoas, acreditando ser mais de cinco pessoas; que essas pessoas davam comandos do que fazer, de agressões e exigiam dinheiro; que em certo momento, um indivíduo que parecia ser o líder (mentor) disse que era muito pouco dinheiro os R$ 16 mil e ordenou a morte do declarante e dos demais”, cita termo de depoimento.

Após isso, a dupla desligou o celular, saiu do quarto onde deixaram as vítimas amarradas e foram decidir como procederiam a morte delas. Os três rendidos conseguiram se desvencilhar das amarrações quando a dupla saiu do quarto.

Conforme o depoimento, depois disso, “o declarante e as demais vítimas conseguiram fechar a porta e travá-la com um sofá, momento em que os criminosos tentaram arrombar a porta e em seguida deram um disparo”. Os bandidos, Valdir e Geovane, não conseguiram abrir a porta e acabaram fugindo. Os telefones das vítimas estavam jogados pelo quarto onde estavam e então acionaram a polícia.

Os demais envolvidos no crime e que falavam ao celular com a dupla ainda não foram identificados, mas suspeita-se que podem tratar-se de criminosos que cumprem pena em presídio, em regime fechado. Já ontem, dia do crime e da morte de Geovane, Valdir e Kevelyn da Silva Araújo, 25 anos, foram presos.

Ela foi presa depois de ser identificada como a pessoa que alugou o espaço de festas para cometimento do crime. Ao delegado, ela negou saber que a área seria usado como local de cárcere e extorsão e alegou que esteve durante todo o dia 3 de janeiro no local com amigos. Foi ela quem levou a Polícia Militar até a casa de Valdir.

Aos policiais militares, ambos confessaram ter participado do esquema, mas na delegacia, durante o interrogatório, acabaram usando o direito de ficar em silêncio e de falar apenas em juízo.

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