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Capital

Sete meses após posse de Bernal, população diz que saúde até piorou

Aliny Mary Dias | 31/07/2013 10:33
No posto do bairro Silvia Regina, a espera de um exame é de até 1 ano (Foto: Pedro Peralta)
No posto do bairro Silvia Regina, a espera de um exame é de até 1 ano (Foto: Pedro Peralta)

Há 8 anos vendendo salgados em frente ao posto de saúde do bairro Silvia Regina, Maria Célia, 61 anos, é a testemunha da indignação e reclamações de usuários que esperam há meses para marcar exames na rede pública de saúde. Há 12 meses ela se tornou uma das personagens do descaso porque não consegue fazer uma endoscopia e um raio-x da coluna.

“A gente marca, eles colocam a data para daqui um mês, mas chega no outro mês e adiam. Eu estou há um ano esperando um raio-x da coluna e uma endoscopia, eu sinto tanta dor que nem acredito que vou fazer esses exames um dia”, conta a vendedora de salgados.

Maria, que é considerada o “muro de lamentações” de muitos moradores do bairro, conta que as reclamações sobre falta de médico, estrutura precária, atraso nos consultas e mau atendimento são diárias. Nem a posse do prefeito Alcides Bernal (PP), que teve a solução do problema da saúde pública como principal bandeira de campanha, amenizou a situação. Já se passaram sete meses e o drama continua na cidade.

“Todos os dias a gente escuta gente reclamando de tudo, mas desde janeiro a coisa piorou. Antes até que andava, agora ninguém consegue fazer um exame e as consultas demoram mais de mês”, desabafa.

Se para quem sente dor a demora na realização dos exames é complicada, imagina para quem está à beira de perder o benefício do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) porque não pode provar que possui problemas no joelho.

Representante Comercial teve raio-x adiado mais de 6 vezes (Foto: Pedro Peralta)
Representante Comercial teve raio-x adiado mais de 6 vezes (Foto: Pedro Peralta)
Maria Célia vende salgados em frente de posto e espera para fazer exames (Foto: Pedro Peralta)
Maria Célia vende salgados em frente de posto e espera para fazer exames (Foto: Pedro Peralta)

Devaldo Guimarães, 44 anos, é pai de três filhos e trabalhava como representante comercial até março deste ano, quando sofreu um acidente de moto. Ele ficou internado e precisou fazer uma cirurgia no joelho direito, pinos e astes de aço foram colocados na perna para que o osso pudesse ser reposicionado.

Com carteira registrada e de cama, Devaldo conseguiu receber o auxílio-doença do INSS no valor de um salário mínimo. As perícias são feitas a cada mês e os problemas começaram há dois meses, quando o médico do instituto falou para Devaldo que na próxima pericia ele teria problemas pela falta do raio-x.

“O raio-x foi marcado em março para ser feito no dia 4 de abril, mas em todas as outras seis datas que remarcaram eu não consegui fazer o exame. Eles falam que a máquina está quebrada e que eu preciso me virar”, explica o representante comercial.

A última marcação ocorreu na manhã desta quarta-feira (31) quando Devaldo procurou o posto Eleonora Quevedo do bairro Silvia Regina e teve uma nova data estipulada: 2 de agosto. “Eu tenho certeza que não vou conseguir fazer e vou acabar perdendo o meu benefício do INSS”.

Sem poder trabalhar e com três filhos para cuidar, Devaldo não têm condições de fazer o exame pela rede particular. “Eu já fui atrás e custa R$ 60, se eu pagar fico sem comida para dar para os meus filhos”, explica.

Andreia aguarda marcação de exames para pai e mãe que são hipertensos (Foto: Pedro Peralta)
Andreia aguarda marcação de exames para pai e mãe que são hipertensos (Foto: Pedro Peralta)

Descaso e atraso na marcação de exames também é a rotina de Andreia Rodrigues dos Santos, 32 anos, moradora do bairro Nova Campo Grande. A vendedora está há três meses na tentativa de marcar uma coloscopia e uma endoscopia para o pai de 72 anos, que sofre de pressão alta.

“Eu já procurei todos os lugares e só nos falam que vai ser no outro mês. Meu pai sente dor e não sabemos se ele tem alguma coisa grave”, explica.

A mulher também depende do posto de saúde do bairro para conseguir uma consulta para mãe e para ela, já que as duas são hipertensas. “Esse posto ficou seis meses sem clínico geral e o médico que está aqui mal olha na nossa cara na hora da consulta. Eu não sei mais o que fazer, me sinto humilhada com esse descaso”.

O sentimento de humilhação também é compartilhado por Tamires Gomes Barbosa, 22 anos. A jovem é mãe de dois filhos de 4 e 5 anos e, além da falta de pediatra no posto de saúde do bairro Serradinho, ela aguarda há seis meses para colocação de um Diu (Dispositivo Intrauterino).

“Já cheguei com a milha filha passando mal aqui e não tinha pediatra. Tive que levar ela de bicicleta para a Santa Casa. Para ginecologista é outra dor de cabeça, quando tem médico o que atrasa são os exames”, desabafa.

Na última epidemia de dengue que assolou Campo Grande, o primeiro lugar que a doméstica procurou foi o posto de saúde. Sem atendimento e com a falta de clínico geral, Tamires chegou a uma atitude extrema.

“Eu e meu marido estávamos com dengue, eu liguei para o Samu e perguntei pro médico como eu deveria me tratar. Ele me deu as orientações e eu me curei em casa, foi a única saída pra gente não morrer”, conta.

Tamires chegou a fazer tratamento de dengue em casa por falta de médicos (Foto: Pedro Peralta)
Tamires chegou a fazer tratamento de dengue em casa por falta de médicos (Foto: Pedro Peralta)

Promessa – As críticas sobre a situação do sistema municipal de saúde durante a gestão de Nelson Trad Filho (PMDB) foram as principais armas, na época de campanha, do então candidato Alcides Bernal (PP). Ele prometia solucionar o problema da falta de médicos, do atraso na marcação de exames e até instalar sistema para marcar "consulta na farmácia da esquina".

Após tomar posse, o prefeito criou o programa Saúde em Ação com uma unidade móvel que possui oito médicos. A proposta do programa é que o veículo vá até os postos de saúde que apresentem problemas de superlotação.

Outra ação colocada em prática por Bernal é o “Fila Zero” programa que faz mutirões para exames de especialidades como endocrinologia, oftalmologia, psiquiatria e neurologia.

Apesar dos discursos e anúncios públicos de que a saúde pública da Capital vive uma nova realidade, os moradores que dependem dos postos para consultas, exames e tratamentos disparam críticas contra a administração. “É um absurdo, na hora da gente votar eles fazem promessas, mas nas horas que mais precisamos nos abandonam. A saúde de Campo Grande está sucateada e vivemos um descaso”, completa Devaldo.

A assessoria da Secretaria Municipal de Saúde foi procurada, mas não retornou, até o encerramento desta matéria, com as informações sobre as medidas tomadas por Bernal.

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