Artista que fez Preto Velho em praça já esculpiu Jesus e santo de 2 metros
No quintal de casa, Gentil tem estátua de São Francisco com mais de 50 anos
No quintal simples, cheio de esculturas e lembranças, repousa a alma criativa de Gentil da Silva Menezes, de 82 anos. Foi o sul-mato-grossense quem esculpiu a conhecida estátua de Preto Velho na praça de mesmo nome, um dos símbolos da umbanda em Campo Grande.
Mas não foi só isso. O mesmo homem que moldou a imagem de Preto Velho, também deu forma à Nossa Senhora de Fátima, um São Francisco de Assis de 2 metros, e até uma estátua de Jesus Cristo. Porque para o artista, fé não tem rótulo. Tem força e intenção. “Tudo que eu faço é com fé em Deus. Seja o santo que for”, comenta.
Para ele, a escultura de Preto Velho na praça não foi apenas um trabalho, foi um momento de entrega e libertação de qualquer preconceito ou intolerância. “A esposa do prefeito junto com o pessoal da Federação Espírita me procurou e eu aceitei fazer. Foi difícil, cansativo, mas eu fiz e fiz com gosto.”

A estátua virou ponto de referência, símbolo de resistência e fé, mas, segundo o autor da obra, precisa de reparos. “Hoje não tenho mais condições, mas se pudesse, restauraria ela”, comenta.
Nascido na região de Rachedinho, Gentil tem mistura na fé e na família. É filho de português com indígena e neto de italianos. Talvez essa pluralidade explique por que consegue fazer com a mesma devoção uma entidade da umbanda e uma padroeira do catolicismo. “Eu gosto de tudo que é do bem. A imagem é só o jeito que a fé encontra de se mostrar”, acredita.
Além da imagem na praça, o artista já fez obras religiosas que estão no Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, uma imagem de Nossa Senhora de Fátima no Club Estoril e um Cristo na entrada de uma fazenda na região de Rochedo. Em homenagem a um velho conhecido no Bairro Serradinho, ele fez o segundo Preto Velho da carreira.

“Era um homem bom, me considerava como filho. Fiz uma estátua para ele e entreguei enquanto ainda estava vivo. Ele ficou feliz da vida. Foi Um Preto Velho em Homenagem a ele”, lembra.
Gentil não estudou Belas Artes, mas fez da vida o seu ateliê. Começou como carpinteiro, trabalhou na construção civil e fundou sua própria firma. Na empresa, construiu máquinas e estruturas de prédios, até descobrir que podia transformar cimento em escultura.
“Se você quiser, eu faço sua réplica. Eu não uso forma, faço no olho mesmo”, diz. No currículo, além das imagens religiosas, ele já deu forma a bichos, miniaturas de fazendas, pinturas e coisas que ele nem se lembra mais.
“Eu ando esquecendo muito das coisas”, admite. Mas quando o assunto é sua obra, o quintal de casa fala por ele. Em meio ao pátio da casa, moringas de 1,80 metro, esculturas de aves, onças, sapos e casinhas de João de Barro mostram a extensão do talento do artista.
Por causa das dores nas costas e da limitação física, o artista não pôde seguir esculpindo, mas Gentil faz questão de guardar com carinho cada obra. Algumas delas, com décadas de história.
“Meu São Francisco de Assis tem mais de 50 anos e tem significado grande pra mim. Ele é meu mestre. Por todas as casas que eu passei, ele sempre seguiu comigo. Já falei pros meus filhos que quando eu morrer, quero ele na cabeceira do meu túmulo”, relata.
Hoje, aos 82, Gentil não tem pressa nem metas. Ele vive entre as obras que criou, conversa com as que não foram buscadas por quem encomendou e sorri ao lembrar das histórias. “Aqui é minha casa. E aqui está minha fé”, finaliza.
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