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Capital

"Tinham que dar uma nova chance", diz família de jovem de 23 anos, morto pela PM

Geovany Alves Farias foi baleado após fugir de abordagem policial e invadir uma casa, segundo a Polícia

Por Cassia Modena e Geniffer Valeriano | 13/06/2024 13:31
Primo, mãe, irmã, padrasto e avó materna de Giovany esperando a liberação do corpo em frente ao Imol (Foto: Paulo Francis)
Primo, mãe, irmã, padrasto e avó materna de Giovany esperando a liberação do corpo em frente ao Imol (Foto: Paulo Francis)

"Era um menino cheio de sonhos, estava conseguindo realizar alguns e ele poderia ser o que fosse que estão falando dele, mas tinham que dar nova chance para ele voltar à sociedade como era antes", diz Esteferson Fernandes, 29.

O depoimento é do primo de Geovany Alves Farias, jovem de 23 anos que morreu na tarde de ontem (12) após ser baleado por policial militar em uma casa do Bairro Jardim Arco Íris, em Campo Grande.

Esteferson e a esposa Luciany Reis, 25, além da mãe, padrasto, avó materna e a irmã adolescente de Giovany, aguardavam a liberação do corpo na manhã de hoje (13). Ele saiu do Imol (Instituto Médico e Odontológico Legal) e foi levado para ser preparado para o velório por volta das 11h30.

A mãe, Tayane Silva Reis, 39, esperava por isso desde ontem à tarde. Passou parte da noite em frente ao local. "Fiquei aqui sem dormir, sem comer. Eu só quero ver meu filho", disse.

Tayane, a mãe, ficou em frente ao Imol aguardando liberação do corpo (Foto: Paulo Francis)
Tayane, a mãe, ficou em frente ao Imol aguardando liberação do corpo (Foto: Paulo Francis)

O padrasto Isaías Meira, 45, reclamou sobre a demora para liberar o corpo do enteado. "Já temos o sofrimento da perda, agora temos o da demora também. Está a Deus dará. Falaram para aguardar, mas até que horas?", perguntou pouco antes do carro da funerária sair do Imol.

No CRS - Isaías também conta o que viu e ouviu no CRS (Centro Regional de Saúde) Nova Bahia, onde Giovany foi levado após ser atingido pelos tiros.

Segundo o padrasto, havia uma faixa em volta do rosto. "Perguntei por que ele estava com aquilo e responderam que é porque a mandíbula estava quebrada. Vimos sangue no nariz também. Levantamos o lençol e vimos duas perfurações [de tiro] no peito e no braço", relata.

Mãe e prima de Giovany, em frente ao Imol (Foto: Paulo Francis)
Mãe e prima de Giovany, em frente ao Imol (Foto: Paulo Francis)

À reportagem, o homem disse achar que o enteado foi agredido pelos policiais antes de morrer. Ele também diz "estranhar" a família não ter recebido nenhum boletim de ocorrência sobre o caso e, no lugar, apenas um documento apontando quais foram os crimes cometidos por Giovany.

O que diz o delegado - Delegado de polícia, Reges de Almeida cuida do caso. Ele narrou que a PM (Polícia Militar) fazia rondas no Jardim Arco Íris, quando Geovany foi visto na garupa de uma motocicleta. O jovem saltou do veículo e começou a fugir à pé pulando muros de casas na Rua do Vermelho, até chegar na Rua do Branco, onde invadiu uma residência.

Ainda de acordo com Almeida, o jovem atirou contra os policiais enquanto fugia. "A arma dele é uma pistola 380, que foi apreendida, assim como a usada pelo policial militar. Ele não fez nenhum disparo na casa, mas há munições que passarão por perícia. O rapaz que estava com ele na moto será intimado para prestar esclarecimentos", disse.

Casa onde o suspeito foi baleado, no Jardim Arco Íris (Foto: Alex Machado)
Casa onde o suspeito foi baleado, no Jardim Arco Íris (Foto: Alex Machado)

O homem que pilotava a moto não tem passagens na polícia, afirmou o delegado. Mas Giovany tinha por tentativa de feminicídio, tráfico de drogas e lesão corporal. Porções de drogas e uma balança de precisão foram encontradas na casa onde o jovem morava, conforme informou a PM.

A mãe contesta a versão de que o filho estava armado. "Ele não estava com arma nenhuma, foi pego de short e só com o celular. Depois que pegaram ele, pediram para desbloquear o celular e porque ele não quis desbloquear, bateram nele, ele ficou com o maxilar quebrado", diz.

"O Giovany me ligou minutos antes [de ser morto], eu estava no meu serviço e ele disse assim: 'mãe, a polícia está atrás de mim. Eu estou escondido aqui no quintal da vizinha'. A vizinha ficou com dó e emprestou o celular", relata também Tayane.

Nova chance - Esteferson expõe o próprio exemplo para falar que matar o primo não deveria ser uma opção para a polícia, mesmo em legítima defesa.

"Eu também era um desses, eu sou a prova viva. Eu fui preso, mas não fui morto, procurei o estudo. Tem que dar uma nova chance da pessoa se reintegrar e não matá-la. Giovany era um sonhador e muito carinhoso. No último sábado, ele estava junto da gente e até parece que foi despedida", diz o primo.

A mãe conta que o filho estava pagando as parcelas de uma motocicleta e que eles haviam se falado por mensagem sobre o financiamento de uma casa. Ela chora e lamenta a partida de Giovany.

"Se ele fez alguma coisa, levasse preso, batesse e levasse para pagar alguma coisa que tivesse feito. Mataram, deram dois tiros no peito, isso é uma injustiça muito grande. Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém", fala Tayane.

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