Trânsito da Capital “troca de mãos”, mas continua sem fiscalização na rua
São 80 guardas para fiscalizar cidade com frota de quase 700 mil veículos
Em novembro do ano passado, o trânsito de Campo Grande trocou de mãos. A fiscalização saiu da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), cujos agentes eram conhecidos como “amarelinhos”, para a GCM (Guarda Civil Metropolitana). Mas essa alteração não mudou uma realidade: as ruas continuam sem fiscalização. Ao passo que os acidentes fatais aumentaram.
RESUMO
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Trânsito de Campo Grande continua sem fiscalização efetiva após troca de responsabilidade. Em novembro de 2024, a GCM assumiu a fiscalização de trânsito da Agetran, mas a presença nas ruas continua escassa. Acidentes fatais aumentaram: 25 mortes entre janeiro e maio de 2025, contra 21 no mesmo período de 2024. Reportagem percorreu diversas vias da capital, sem encontrar guardas municipais. Secretário de Segurança afirma que 80 agentes e sete veículos são suficientes para fiscalizar a frota de quase 700 mil veículos. Dados sobre multas e investimentos em sinalização não foram disponibilizados pela Agetran. Mudança na fiscalização foi justificada por dificuldades administrativas e financeiras.
De acordo com dados da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), 21 pessoas morreram no trânsito da Capital em 2024, entre janeiro e maio. Neste ano, no mesmo período, 25 pessoas perderam a vida em acidentes.
A reportagem percorreu a cidade em busca de fiscalização do trânsito. O tour incluiu vias centrais – como Dom Aquino, Calógeras, Afonso Pena, 14 de Julho, Rui Barbosa, Padre João Crippa, Mato Grosso, Pedro Celestino, Antônio Maria Coelho, 13 de Maio – e bairros. Mas nada de guarda civil metropolitano fiscalizando o trânsito.
Conforme o secretário especial de Segurança e Defesa Social, Anderson Gonzaga da Silva Assis, são 80 agentes alocados para fiscalização do trânsito de Campo Grande. Apesar de a cidade ter frota de 679.761 veículos, ele considera o efetivo adequado.
A GCM tem sete veículos para a fiscalização, porém, segundo Gonzaga, também são utilizados veículos da Agetran e a fiscalização ainda inclui parceria com Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito) e BPtran (Batalhão de Polícia Militar de Trânsito). A reportagem ainda questionou o aumento de acidentes na cidade, mas o secretário não respondeu.
E as multas? – Apesar de já estarmos em junho de 2025, o portal da Agetran sobre multas apresenta dados somente de janeiro a agosto do ano passado. A reportagem solicitou os números atualizados, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.
Em oito meses do ano passado, foram 184.819 multas. O portal de estatística da agência aponta que elas resultaram em R$ 30.265.064,29. Do total, somente 4,6% foi para obras de sinalização viária: R$ 1.393.761,23.

O Campo Grande News ainda solicitou à Agetran quantas multas foram aplicadas em 2025 pela Guarda Civil Metropolitana, questionou por que somente R$ 1,3 milhão foi destinado para sinalização viária e se há previsão de modernização nos sistemas de fiscalização, como o uso de câmeras e radares, ou maior integração com a tecnologia. Mas não houve resposta.
Em 26 de novembro de 2024, a Agetran alegou que a mudança foi por dificuldades administrativas e financeiras enfrentadas pela gestão, incluindo a falta de concursos públicos para o setor desde 2010 e a necessidade de se adequar ao Termo de Ajustamento de Conduta, firmado com o TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado).
Cadê o guarda? - Quanto maior a experiência, maior a decepção com as condições do trânsito na cidade. O mototaxista Wilson, com 15 anos de profissão, reforça a percepção de descaso. “Muito de vez em quando você vê alguém da Guarda Municipal. Falta fiscalização, sim.”
O que não falta é infração que deveria ser coibida, diz. "A gente vê muito motorista de carro com telefone na mão e eles não se preocupam nem com segurança deles próprios", reclama
Fábio Lucas, vendedor de 44 anos, aponta que a fiscalização muda completamente fora da área mais movimentada da cidade. “Nos bairros já é mais descegado, mais esquecido”, critica. Para ele, a falta de respeito entre motoristas e o mau estado das vias contribuem para um trânsito violento e caro. “Estoura roda, suspensão… e ninguém dá jeito.”

O aposentado Hamilton Peixeira, que dirige há mais de 50 anos, não mede palavras: “O trânsito em Campo Grande tá uma m.... Ninguém respeita ninguém.” Para ele, os motociclistas estão entre os mais problemáticos. “Não tem fiscalização para eles, não. Só pra gente.” Hamilton diz que nunca viu tantos acidentes como agora e atribui o aumento ao abandono do poder público. “Falta guarda, falta tudo. E sobra desrespeito.”
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