UFMS gasta R$ 1,5 milhão por mês, não põe fim ao clima de insegurança
Os esforços da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) para conter os registros de crimes dentro do campus de Campo Grande não diminuíram a insegurança dos estudantes. Mesmo com o investimento mensal de R$ 1,5 milhão para reforço na vigilância interna, andar em grupos e desviar de áreas desertas e com pouca iluminação ainda faz parte da rotina dos acadêmicos.
A instituição optou por cercar com grades toda a extensão do campus, além da implantação de guaritas com vigilantes terceirizados e instalação de câmeras e central de videomonitoramento – soluções aprovadas por parte dos alunos, mas que ainda são consideradas ineficazes.
As medidas foram motivadas por um caso de violência sexual que aconteceu dentro do campus, em 2011. Uma estudante de Química foi estuprada em plena luz do dia, na ponte que dá acesso ao Lago do Amor. Menos de 24 horas depois, outro aluno foi baleado na perna ao reagir ao um assalto, desta vez próximo à piscina.
A ocorrência do estupro mudou a rotina de alunos e servidores. A Preae (Pró-Reitoria de Extensão Cultura e Assuntos Estudantis), após reunião com o Conselho de Segurança a universidade, recomendou a restrição nos horários de circulação em determinados pontos, a construção de postos de vigilância, o cercamento do campus, e o fechamento de atalhos –, a ponte que dá acesso ao Hospital Universitário, por exemplo, não pode ser utilizada.
Hoje, 12 câmeras monitoram a área externa do campus - para o ano que vem, a UFMS espera que o número atinja 100 – e 30 vigilantes circulam a pé, de carro ou moto, além de outros dois que ficam de plantão nas guaritas de segunda a sexta-feira, entre 6 da manhã meia-noite.
No entanto, o aparato de segurança não foi suficiente para tornar a universidade um ambiente totalmente seguro, na percepção dos estudantes. “Para quem tem aulas que vão até depois das 22 horas é muito perigoso. A noite é um breu, e dá medo, ainda mais para a gente, que é mulher”, afirma Maria Eduarda Alves, 18 anos, do 2º semestre de Pedagogia.
O jeito é circular sempre em grupo, ou na base da carona. “Quando venho de carro, sempre dou carona para as meninas até o ponto de ônibus ou para ir de um departamento até outro. Não custa nada e é mais seguro”, conta Jéssica da Silva, do 3º ano de Biologia.
Outra solução foi implantar uma linha de ônibus interna, que circula das 6h às 22h45, de segunda a sexta-feira, e aos sábados, das 6h45 as 11h45 para transportar alunos às salas de aula.
“Sem tudo isso estava pior. Pode não ser o ideal, mas já é um primeiro passo, e a gente espera que melhore”, acrescenta Jéssica.
Um dos vigilantes da UFMS, que preferiu não se identificar, reforça a tese de que os acadêmicos passaram a se sentir mais protegidos. “Qualquer coisa que aconteça, os alunos vêm correndo até nós. Antes, eram ocorrências mais graves, de assaltos, hoje, são no máximo pequenos furtos, de peças de motos, coisas assim”, aponta.
“Grade para inglês ver” – Por outro lado, parte dos alunos é terminantemente contra o cercamento da universidade. Para eles, a UFMS apresenta questões mais urgentes, e os acadêmicos questionam a “coincidência” da implantação das grades e guaritas com a realização do “Ocupa UFMS”, promovido em agosto deste ano, quando um grupo de 40 alunos invadiu a reitoria por mudanças na assistência estudantil da universidade.
“É grade para inglês ver. A reitora cercou isso aqui só para evitar novas invasões e reuniões dos acadêmicos. A universidade passa por tantos problemas de infraestrutura que não são resolvidos, mas tem dinheiro para cercar. É um gasto desnecessário”, opina Matheus Carneiro, acadêmico de Engenharia Elétrica e membro do DCE (Diretório Central Acadêmico), da gestão que assume em 2014.
“Para mim, gradear o campus é o primeiro ponto que leva a acreditar que a reitora não está interessada em ouvir os estudantes para saber onde investir o dinheiro”, reforça Stefanie Santana, do 3º ano de Medicina Veterinária.
Além das medidas implantadas desde 2011, a UFMS acrescenta a criação da Comissão Permanente de Segurança (CPS), em setembro deste ano, e do Sipa (www.sipas.ufms.br/sigos), ferramenta online disponibilizada para que os próprios estudantes contribuam com o mapeamento das informações sobre incidentes e problemas de infraestrutura nos campus.