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Capital

Um ano depois, o Natal sem Maikon, o menino que o lixão matou em Campo Grande

Viviane Oliveira | 22/12/2012 09:59
Lucilene e dos recortes de jornal sobre a morte do filho. (Foto: Luciano Muta)
Lucilene e dos recortes de jornal sobre a morte do filho. (Foto: Luciano Muta)
A única foto que a mãe tem do garoto, o do meio entre as crianças. Foto: Luciano Muta
A única foto que a mãe tem do garoto, o do meio entre as crianças. Foto: Luciano Muta

Na próxima sexta-feira dia (28) faz um ano que Maikon Correa de Andrade, 9 anos, morreu soterrado no lixão, no bairro Dom Antônio Barbosa, saída para Sidrolândia. No primeiro Natal sem o filho, a mãe, Lucilene Correa, 39 anos, revelou ao Campo Grande News, na mesma casa simples onde vivia com o menino e onde preserva o que era dele, um desejo de fim de ano que comove a qualquer um: ela quer arrumar o túmulo da criança, que foi sepultada no cemitério Cruzeiro.

No dia da tragédia, Maikon estava junto com um amigo, de 12 anos, num lugar chamado de barranco, dentro da montanha de lixo, quando houve o desmoronamento em direção as crianças. Maikon foi soterrado pela montanha de lixo. O corpo dele só foi localizado depois de 20h de buscas em meio a toneladas e toneladas de lixo, chorume e degradação.

Bem mais magra, mulher de poucas palavras e com semblante triste, Lucilene, que mora com a mãe e os quatro filhos, de 15, 12, 5 e 4 anos, começa a chorar ao relembrar dos momentos de tristeza, desespero e angústia que passou no pior dia de sua vida.

Até hoje Lucilene guarda os jornais com as notícias sobre a morte do filho, cartazes que ganhou dos colegas de Maikon durante uma manifestação no bairro e uma única foto do garoto, que restou após um dos cômodos da casa de 5 peças pegar fogo.

Durante este ano a mãe disse que sentiu raiva, dor, revolta pelo trágico fim do filho. Maikon entrou de bicicleta no lixão e saiu morto. “Lembro como se fosse hoje, era uma tarde de quarta-feira eu estava assistindo televisão deitada em um sofá e Maikon no outro, quando o colega dele veio chamá-lo para soltar pipa. Ele me abraçou me deu um beijo, falou que me amava, saiu dizendo que iria brincar aqui por perto e nunca mais voltou”, diz uma mãe de olhar triste.

Maikon foi para o lixão, entrou pelo portão da frente e no local não havia nenhum guarda para barrar a entrada de crianças no local. Pouco depois da fatalidade, o colega de Maikon, que estava no lixão com ele, foi até a casa da família e disse o que havia acontecido. Sem querer acreditar, Lucilene foi até o local de carona com um amigo, de bicicleta. No caminho perguntava para os catadores se era verdade que uma montanha de lixo havia caído em cima de uma criança.

“Mesmo as pessoas dizendo que sim, eu não acreditava. Só acreditei quando cheguei lá e vi a movimentação do Corpo de Bombeiros, mesmo assim tinha a esperança de que ele tivesse em algum lugar escondido”, desabafa.

Quando acharam o corpo, o mundo de Lucilene e do pai do garoto, Reginaldo Pereira de Andrade, 33 anos, desabou. A mulher que já havia desmaiado várias vezes não conseguia se manter-se. O pai chorou num canto, abraçado a outro filho. “Eu sinto até hoje de não ter visto o corpo do meu filho. Devido às condições do corpo, o caixão ficou lacrado e uma foto dele foi colocada na tampa”, lembra.

O menino era muito apegado aos irmãos. A caçula, de 4 anos, afirma a mãe, chama pelo garoto e pergunta que dia ele vai voltar. “Eu respondo que ele está com o papai do céu, mas não tem jeito ela continua perguntando dele”, relata.

Moradora na rua Seiko Yonamine, no bairro Lageado, a mulher desvia o caminho para não passar em frente ao lixão, porém afirma que ficou com o coração apertado ao saber do confronto entre a Polícia e os catadores de material recicláveis na última terça-feira (18), quando o local amanheceu fechado pela Prefeitura Municipal. “Também já tirei meu sustento dali e sei como é”, disse, acrescentando que há 15 anos trabalhou por um ano como catadora.

Este ano será o primeiro Natal que Lucilene vai passar sem o filho. Em poucas palavras ela fala que o maior desejo é arrumar a cova do filho no cemitério, e de um sonho impossível. “Eu queria era trazer o meu filho de volta”, finaliza.

Um ano atrás, Lucilene no lixão, com a foto do filho, acompanha as buscas pelo corpo. (Foto: João Garrigó)
Um ano atrás, Lucilene no lixão, com a foto do filho, acompanha as buscas pelo corpo. (Foto: João Garrigó)
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