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Interior

Comerciantes sobem o tom, falam em guerra civil e chamam prefeito de “covarde”

Em outro dia de protesto, empresários pressionam Alan Guedes a reabrir comércio

Helio de Freitas, de Dourados | 30/03/2021 13:13
Grupo reunido em frente ao prédio onde fica rádio de deputado (Foto: Adilson Domingos)
Grupo reunido em frente ao prédio onde fica rádio de deputado (Foto: Adilson Domingos)

No segundo dia consecutivo de protestos contra o fechamento do comércio, empresários de Dourados (a 233 km de Campo Grande) subiram o tom nesta terça-feira (30) e chamaram o prefeito Alan Guedes (PP) de “covarde” por seguir o decreto estadual assinado pelo governador Reinaldo Azambuja para tentar conter a proliferação da covid-19.

Os mais radicais, declaradamente apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, chegaram a falar em “guerra civil” e em “fazer alguma coisa por contra própria” caso a prefeitura mantenha lojas fechadas e o toque de recolher das 20h às 5h durante a semana e das 16h às 5h aos sábados e domingos.

Na noite de ontem (29), grupo que tinha entre os líderes a empresária da noite Isa Jane Marcondes, dona de tradicional bordel da cidade, protestou em frente à casa do prefeito para pressionar Alan Guedes a recebê-los hoje de manhã.

Por volta de 9h desta terça, os manifestantes se reuniram na sede da prefeitura, na Rua Coronel Ponciano, onde fica o gabinete do prefeito. Comissão formada por Isa Marcondes, Mauricio Barreto, Alex Osório e Lucas Telles foi recebida por Alan Guedes. Do lado de fora, teve comerciante que chegou a falar em “pegar em armas” para forçar a reabertura do comércio.

Na reunião, o prefeito explicou que o momento da pandemia é crítico. Segundo ele, houve alinhamento com o decreto estadual e com a recomendação do Ministério Público, defendendo a adoção das medidas para tentar conter a disseminação do vírus.

Só nas últimas 24 horas, cinco douradenses morreram em decorrência da covid-19 e o município atingiu hoje 318 óbitos em um ano de pandemia. A cidade tem hoje 131 infectados pelo coronavírus internados, sendo 73 em leitos clínicos e 58 em UTI. São 1.726 pessoas com o vírus ainda ativo.

Alan Guedes afirmou aos comerciantes que se o decreto estadual (em vigor até o dia 4) não for renovado, a prefeitura passa a ter autonomia para definir suas próprias regras e poderá flexibilizar as medidas em relação a alguns setores, tendo como contrapartida o aumento da fiscalização.

O prefeito repetiu aos comerciantes que trabalha para aumentar os leitos de UTI, o que ajudaria a flexibilizar as medidas sanitárias. Segundo a prefeitura, cinco novos leitos devem entrar em operação hoje em hospital particular e outros 30 estão previstos para serem ativados na rede pública até a semana que vem.

Guerra civil – Após a reunião com o prefeito, alguns manifestantes foram para a frente do edifício Adelina Rigotti, na Avenida Weimar Gonçalves Torres, onde funciona a rádio 94 FM, de propriedade do deputado estadual Marçal Filho (PSDB). O objetivo era cobrar o apoio do parlamentar à campanha pela reabertura imediata do comércio.

Marçal estava no ar com seu programa diário e entrevistou ao vivo dois manifestantes, Caio Rocha, que declarou ser dono de restaurante e empregador de 18 trabalhadores, e João Escobar, dono de conveniência.

“Temos um prefeito covarde que está preferindo seguir o decreto estadual, que está fazendo o que o Ministério Público quer, em vez de ficar do lado da população”, disparou Caio Rocha.

João Escobar repetiu a palavra “covarde” para se referir ao prefeito e disse que a população está perto de iniciar guerra civil por causa das medidas de restrição. “Se nada for feito, nós vamos fazer, já estamos juntando um grupo aí para fazer alguma coisa”, disse Escobar.

Ele também acusou a prefeitura de “não fazer nada”, mesmo com todo o dinheiro repassado ao município pelo Governo Federal para combater a pandemia. “Dinheiro veio, o presidente Bolsonaro já falou”.

Ontem, o vereador Fabio Luis (Republicanos) protocolou requerimento com sete assinaturas para instalar CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o gasto do dinheiro repassado pelo Governo Federal para enfrentar a pandemia em Dourados.

A pressão contra governadores e prefeitos para que expliquem o destino dos recursos foi defendida pelo próprio Bolsonaro em discursos e nas suas redes sociais.

O prefeito Alan Guedes ainda não se manifestou sobre as críticas feitas na emissora de rádio. A assessoria informou que a prefeitura já pediu cópia da entrevista, para decidir qual medida vai tomar.

Comerciantes durante protesto na sede da prefeitura, hoje de manhã (Foto: Adilson Domingos)
Comerciantes durante protesto na sede da prefeitura, hoje de manhã (Foto: Adilson Domingos)


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