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Interior

Guarani-kaiowá rezam contra genocídio e pela paz amanhã na estrada de Guaiviry

Paula Maciulevicius | 29/11/2011 16:14

Manifestação é realizada 13 dias depois do que os guarani-kaiowá relatam como atentado

A estimativa é de que 500 guarani-kaiowá participem da reza, que vai percorrer 8 quilômetros. (Foto: João Garrigó)
A estimativa é de que 500 guarani-kaiowá participem da reza, que vai percorrer 8 quilômetros. (Foto: João Garrigó)

Os guarani-kaiowá rezam contra genocídio e pela paz nesta quarta-feira na estrada do acampamento Guaiviry, em Aral Moreira, cujo líder, Nísio Gomes, está desaparecido desde o dia 18. Os indígenas já começam as rezas hoje nas aldeias e amanhã 500 deles devem seguir do antigo posto de combustíveis Taji.

A manifestação é realizada 13 dias depois do que os guarani-kaiowá relatam como atentado. Quando na manhã do dia 18, pelo menos 40 pistoleiros teriam entrado no acampamento, atirado e levado o líder indígena Nísio Gomes, de 59 anos.

Os índios vão seguir em reza por 8 quilômetros, pedindo a transformação dos seres humanos. Segundo explicou o antropólogo Tonico Benites e membro da Assembleia Geral dos Povos Indígenas, as orações são para que o homem não pratique mais atos crueis contra ele mesmo.

Apesar da força das crenças, a marcha não tem apenas o cunho religioso, é também para pedir investigação rigorosa e a efetiva prisão dos criminosos que realizaram o crime.

A expectativa é de que 80 lideranças indígenas se concentrem “resfriando” um ambiente que segundo eles, é tão “carregado”. “Resfriar o ar, terra, espaço, afastar o espírito maléfico do momento”, coloca Tonico.

A marcha está prevista para começar entre 7h e 8h e conta com apoio de entidades do movimento indígena regional e nacional como Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Arpinsul (Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul), Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Associaçao Kaguateca Marçal de Souza, Movimento dos Professores Guarani Kaiowá, Aty Guasu Jovem, Aty Guasu das Mulheres e acadêmicos indígenas.

Povo Guarani - Os Guarani-Kaiowá são hoje o mais numeroso povo indígena do país, com mais de 45 mil pessoas que vivem confinados em 42 mil hectares de terra.

Segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), a situação de miséria em boa parte das terras do grupo gera um ambiente de violência. Nos últimos oito anos, segundo recente relatório divulgado pelo Conselho houve 250 assassinatos entre indígenas do Mato Grosso do Sul, mais do que todas as mortes ocorridas no resto do país. O grupo também sofre com altos índices de suicídio entre os jovens, e desnutrição entre as crianças.

Entre as mortes, há várias lideranças que, como Nísio, lutavam pela demarcação de suas terras. Nos últimos anos, em Paranhos, no Tekoha Ypo'i, foram mortos Jenivaldo Vera, Rolindo Vera, em 2009 e Teodoro Ricarte em setembro deste ano.

Em Coronel Sapucaia, no Tekoha Kurusu Amba, morreram desde 2007 Ortiz Lopes, Xurite Lopes, Osvaldo Lopes e Osmair Martins. Em 2006, em Antonio João, na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, foi morto Dorvalino Rocha. Em 2003, em Juti, na T.I. Takuara, Marcos Verón. A lista não para desde 1983, quando foi assassinado Marçal de Souza.

Segundo a Constituição de 1988, o processo de demarcação das terras indígenas no país deveria ter sido terminado em 1993. Entretanto, as pressões políticas dos fazendeiros retardaram o processo em MS.

No final de 2007, a Funai assinou acordo com o Ministério Público Federal para apressar a demarcação e, em função disso, seis grupos de trabalho para identificação e delimitação de terras indígenas foram lançados em julho de 2008. O fato gerou forte reação dos fazendeiros do estado e, desde 2009, uma série de episódios violentos tem acontecido.

Além de lutar pelas novas demarcações, os Guarani-Kaiowá também aguardam o desfecho de processos antigos, hoje barrados por processos judiciais. É o caso de Terras Indígenas como Takuara, Nhanderu Marangatu, Arroio Korá, Guyraroka, Jatay Vary, Potrero Guasu e outras.

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