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Interior

Palco de massacres, sul de MS teve 4 indígenas assassinados em 2022

Três indígenas com posição de liderança em suas comunidades foram executados e 1 morto pela PM

Helio de Freitas, de Dourados | 14/09/2022 15:02
Cortejo fúnebre de Vito Fernandes, morto pela Polícia Militar em junho deste ano (Foto: Helio de Freitas)
Cortejo fúnebre de Vito Fernandes, morto pela Polícia Militar em junho deste ano (Foto: Helio de Freitas)

A região sul é atualmente o epicentro da violência contra indígenas em Mato Grosso do Sul. Além dos crimes violentos praticados entre os próprios guarani-kaiowá, aumentou o número de assassinatos de pessoas com posição de liderança nas comunidades. As mortes estão relacionadas principalmente à luta pela retomada de territórios tradicionais.

De maio até agora, quatro indígenas foram assassinados nos municípios de Amambai e Coronel Sapucaia, onde existe conflito pela terra. Localizada a menos de 50 km do Paraguai, a área tem forte atuação do crime organizado e de pistoleiros que matam por dinheiro.

No dia 21 de maio, Alex Recarte Vasques Lopes, 18, foi assassinado com pelo menos cinco tiros e o corpo jogado no lado paraguaio da fronteira, nos arredores de Capitán Bado. O local em que o corpo foi encontrado fica a 10 km da Aldeia Taquaperi, onde o rapaz morava.

Segundo moradores, o rapaz e outros dois jovens guarani-kaiowá catavam lenha no entorno da aldeia quando teriam sido alvos de tiros. Os outros dois escaparam, mas Alex foi morto e o corpo jogado em território paraguaio.

Como protesto, os indígenas ocuparam a área onde Alex teria sido assassinado, denominada tekoha Jopara. Até agora o crime não foi esclarecido.

Também em protesto pela morte, indígenas da Aldeia Amambai ocuparam, ainda em maio, parte da Fazenda Borda da Mata, localizada nos fundos do tekoha Guapo'y. Os conflitos pela posse da área de arrastavam desde maio de 2021, segundo ocorrência registrada na Polícia Civil.

Guapo'y - No dia 24 de junho, equipes do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul entraram em confronto com índios que ocupavam a Borda da Mata. Pelo menos nove indígenas e três policiais ficaram feridos. O guarani-kaiowá Vito Fernandes, 42, foi morto a tiros pelos policiais.

A comunidade acusou a PM de promover despejo ilegal, já que não existia ordem judicial determinando a reintegração de posse da área e nem a presença da Polícia Federal. A Secretaria de Justiça e Segurança Pública de MS alegou ter agido devido a denúncias de crimes comuns, como tráfico de drogas e roubos.

Os indígenas reocuparam a fazenda três dias após a morte e permanecem no local por decisão da Justiça Federal. O corpo de Vito Fernandes foi enterrado dentro da área, no ponto onde ele caiu ferido. A morte também segue sem solução. A investigação foi conduzida pela Polícia Civil e acompanhada pela Polícia Federal.

Segundo a Superintendência da PF em MS, atualmente o inquérito está com o MPF (Ministério Público Federal), que poderá determinar a manutenção ou a mudança do resultado da investigação. A PF aguarda a manifestação do MPF para saber se terá de assumir o caso.

Emboscada – A terceira vítima da matança contra os povos indígenas de Mato Grosso do Sul foi o guarani-kaiowá Marcio Rosa Moreira, 40, morto a tiros ao ser atraído para trabalho em construção no perímetro urbano de Amambai, no dia 14 de julho.

Moradores da comunidade disseram ao Campo Grande News na época que Marcio fazia parte do grupo acampado na Fazenda Borda da Mata. Segundo eles, o homem foi assassinado por pistoleiros a mando de fazendeiros da região. A Polícia Civil descartou ligação com o conflito por terra, mas até agora o caso não foi resolvido.

Vitorino Sanches, morto ontem em Amambai (Foto: Reprodução)
Vitorino Sanches, morto ontem em Amambai (Foto: Reprodução)

Quarta vítima – O comerciante e agricultor indígena Vitorino Sanches, 60, é a mais recente vítima dos matadores. Ele foi executado com cinco tiros nas costas na tarde de ontem (13) no centro de Amambai.

No dia 1º de agosto deste ano, Vitorino havia escapado de emboscada montada por dois pistoleiros quando chegava na aldeia. Pelo menos 15 tiros foram disparados contra a caminhonete de Vitorino. Ele foi atingido por dois tiros, mas sem gravidade, e teve alta no dia seguinte.

Por volta de 16h30 de ontem, o comerciante caminhava pela calçada em direção a seu carro quando foi atacado. Os dois criminosos o esperavam encostados na moto. Quando passou por eles e ficou de costas, Vitorino foi atingido de curta distância. Ele chegou a ser levado ao hospital, mas morreu em seguida.

Apesar de não ter participado diretamente da retomada em junho, Vitorino Sanches apoiava a causa e chegou a fornecer alimentos para o grupo que reocupou a área após o massacre de junho deste ano.

Segundo fontes ouvidas pela reportagem, Vitorino também teve muita influência no processo eleitoral para escolher os novos líderes políticos da Aldeia Amambai.

A eleição foi antecipada após a comunidade destituir do cargo o então capitão João Gauto, acusado de apoiar os fazendeiros e de ter provocado o confronto de junho por mentir para a polícia sobre a presença de traficantes entre o grupo rival.

No dia 31 de julho – um dia antes do primeiro atentado contra Vitorino - Arsênio Vasques e a professora Lurdelice Moreira Nelson foram eleitos capitão e vice-capitã da aldeia. Moradores afirmam que o assassinato de ontem pode ser reflexo ainda da disputa eleitoral.

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