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Interior

Semana nem acabou e já teve mortes em bar, pele arrancada e esquartejamento

Ação de justiceiros e guerra entre criminosos ampliam violência em fronteira do crime

Helio de Freitas, de Dourados | 30/07/2021 16:20
Bilhete anunciando próximas vítimas ao lado de corpo esquartejado em Ponta Porã (Foto: Direto das Ruas)
Bilhete anunciando próximas vítimas ao lado de corpo esquartejado em Ponta Porã (Foto: Direto das Ruas)

A semana ainda não terminou, mas já entrou para a história como uma das mais sangrentas e macabras da fronteira seca entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai. Entre a noite de segunda-feira (26) e a tarde de ontem (29), quatro pessoas foram executadas na linha internacional formada por Pedro Juan Caballero, do lado paraguaio e Ponta Porã, do lado brasileiro.

O número de mortes não é novidade, pois já teve dia com essa quantidade de assassinatos no intervalo de poucas horas. O que chama mais a atenção, é o requinte macabro adotado em duas execuções.

Um adolescente de 17 anos teve parte da pele arrancada com faca e outro jovem, de 18 anos, foi esquartejado. Quem conhece o submundo do crime, diz que arrancar partes dos corpos das vítimas, decepar a cabeça e os membros, além de mandar recado, serve para aterrorizar os inimigos.

Fontes ouvidas pelo Campo Grande News afirmam que as mortes desta semana não estão ligadas e ocorreram, possivelmente, por motivos bem diferentes.

“Justiceiros” – Duas execuções são atribuídas ao suposto grupo de extermínio “Justiceiros da Fronteira”, que há anos matam suspeitos de furtos e assaltos na fronteira e deixam bilhetes assumindo os assassinatos.

Entretanto, há quem duvide até mesmo da existência desse grupo e acredita que os matadores usam esse recurso para dificultar a investigação. Não se sabe se a estratégia funciona, mas as estatísticas mostram que são raríssimos os crimes de pistolagem esclarecidos nas duas cidades.

Teria sido obra dos “justiceiros” o assassinato de Luis Mateo Martinez Armoa, 21, o “Matheus Elefante”, que também tinha documento brasileiro com o nome de Luiz Matheus Maldonado.

Conhecido assaltante da fronteira e jurado de morte nos dois lados da linha internacional, ele foi metralhado com pelo menos 30 tiros quando comemorava o aniversário da namorada com grupo de amigos no bar La Choperia, segunda-feira à noite.

A aniversariante, Anabel Centurión Mancuello, também foi atingida e morreu no dia em que completava 22 anos de idade. Ela não era alvo dos tiros, mas foi atingida por “efeito colateral”.

Sob o corpo de Matheus, foi deixado bilhete assinado pelos “justiceiros”. No dia anterior, três comparsas de Matheus foram presos em Pedro Juan Caballero. Até agora, não há informação se a morte teve ligação com as prisões.

Sem pele – Também foi assumida pelo suposto grupo de extermínio, a execução do adolescente paraguaio Derlis Alonso Cardozo, 17. Sequestrado da casa de uma amiga, em Pedro Juan Caballero na noite de terça-feira (27), ele foi encontrado morto na manhã seguinte.

Derlis teve parte da pele do peito, do pescoço e do rosto arrancada com faca. Ao lado do corpo, também havia bilhete dos “justiceiros” prometendo morte aos ladrões da fronteira. Os sequestradores que levaram o rapaz, segundo testemunhas, eram brasileiros.

A mãe do adolescente, Gricelda Cardozo, disse que o filho trabalhava em uma oficina mecânica e não tinha ligação com crimes. Ela acredita que o rapaz tenha sido morto por engano.

Curiosamente, no mesmo dia em que o corpo do adolescente foi encontrado, a Polícia Nacional prendeu em Pedro Juan Caballero, Derlis Samudio Ojeda, 19, supostamente da mesma quadrilha de Matheus Elefante. Teria sido, de fato, a morte de Derlis Alonso um engano? Policiais paraguaios não se manifestaram sobre o caso.

Eduardo Alvarenga, esquartejado na fronteira (Foto: Reprodução)
Eduardo Alvarenga, esquartejado na fronteira (Foto: Reprodução)

Briga do tráfico – Apesar do bilhete deixado ao lado do corpo, fontes ouvidas pela reportagem não atribuem aos “justiceiros” o assassinato de Eduardo Gonzalez Alvarenga, 18, ocorrido ontem em Ponta Porã.

Sequestrado por homens armados com fuzis e pistolas por volta de 16h na Rua Sertãozinho, no bairro Universitário, Eduardo foi esquartejado, e seus restos mortais jogados no rodoanel da cidade. O carro usado no sequestro, um Toyota Corolla preto, foi encontrado em chamas perto da BR-463, na saída para Dourados.

"Atenção Celso Gonçalves e Leandro Gonçalves (Surubim) vocês são os próximos”, dizia mensagem escrita em uma folha A4 colada com fita adesiva a um pedaço de papelão deixado ao lado do corpo esquartejado. Não havia assinatura, como nos bilhetes deixados pelos “justiceiros”.

O Campo Grande News apurou que a execução de Eduardo faz parte da briga entre quadrilhas rivais baseadas na linha internacional entre Sanja Pytã (Paraguai) e Sanga Puitã (MS) – dois povoados localizados na margem da BR-463, no trecho entre Dourados e Ponta Porã.

Apesar de aparência pacata, o vilarejo é base de quadrilhas de traficantes de drogas e de armas que travam guerra pelo controle das atividades criminosas. Nos últimos meses, várias pessoas desses grupos foram executadas.

Celso Gonçalves, que fugiu do presídio de Ponta Porã no dia 2 deste mês, está na lista para ser morto (Foto: Arquivo)
Celso Gonçalves, que fugiu do presídio de Ponta Porã no dia 2 deste mês, está na lista para ser morto (Foto: Arquivo)

Eduardo seria da quadrilha do pistoleiro Ronaldo Gonçalves Martinez, 32, condenado por homicídio e atualmente cumprindo pena em Campo Grande. Ele foi preso em 2011 na Capital, acusado de pelo menos quatro assassinatos em Ponta Porã.

Celso Gonçalves, um dos citados no bilhete como os próximos a serem mortos, seria Celso Gonçalves Sanguina, sobrinho de Ronaldo. No dia 2 deste mês, Celso e um comparsa, Nédio Marques Brito Filho, fugiram do Estabelecimento Penal de Ponta Porã depois de renderem uma funcionária. Uma caminhonete os esperavam do lado de fora. Nenhum deles foi recapturado.

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