“Tá nervoso por quê?”, perguntou peão antes de descarregar arma contra Lanzarini
Genro de Dirceu Lanzarini, testemunha do assassinato, afirma em julgamento que funcionário atirou de repente
“Tá nervoso por quê?”. Essa foi a única pergunta feita por Luis Fernandes, conhecido como “Paraguaio”, de 55 anos, réu pela morte do ex-prefeito de Amambai, Dirceu Lanzarini, antes de descarregar revólver contra o patrão, conforme relato feito por Kesley Aparecido Vieira Matricardi, de 34 anos, genro da vítima, durante júri, na manhã desta sexta-feira (30).
Kesley, que também levou tiros no dia do assassinato, estava junto com o sogro em fazenda que pertence à família, na manhã daquele do dia do assassinato. Era uma segunda-feira, ele e Lanzarini descarregaram carga de sementes e veneno para a lavoura e deixavam a propriedade quando avistaram Luis Fernandes na porteira.
O genro afirma que estava na direção da caminhonete S10, enquanto o sogro ocupava o banco do passageiro. Os dois pararam o veículo ao lado de “Paraguaio” e Dirceu Lanzarini perguntou ao empregado porque ele e outros funcionários não trabalhavam semeando naquela manhã. “Escuta, aconteceu alguma coisa, porque não estão trabalhando?”, questionou o patrão, segundo testemunhou o genro.
Foi neste momento que Luis Fernandes perguntou por que Lanzarini estava nervoso, sacou arma e disparou contra a caminhonete. “Foi muito rápido, eu ouvi os tiros, de dois a três. Ele atirou e eu arranquei com o carro. Depois, vagamente, ouvi um ou dois tiros”, narrou Kesley aos jurados.
O genro do ex-prefeito relata que entrou na propriedade do vizinho buzinando para pedir socorro, mas como não havia ninguém, deu meia volta, pegou a rodovia e foi parar no posto da PM (Polícia Militar) na entrada do município de Amambai. Foi em seguida dirigindo, com o sogro agonizando ao lado, até o quartel do Corpo de Bombeiros. “Achei que ia morrer na rodovia”, comentou a vítima de tentativa de homicídio.
Kesley também contou que só soube da morte do sogro quando já recebia tratamento em hospital de Dourados e que só sobreviveu ao atentado por um milagre. “Médico disse que eu podia ter tirar outra certidão de nascimento”.
Questionado sobre desavenças anteriores entre patrão e funcionário, Kesley negou que já tivesse presenciado Dirceu maltratando algum empregado, disse não ter informações sobre atrasos nos pagamentos dos trabalhadores ou negou ter jogado a caminhonete para cima de Luis Fernandes, conforme relato de outra testemunha. “Até hoje não entendo porque isso aconteceu. Não tinha briga, não tinha rancor. Ele era um bom funcionário”.
O crime – No dia 24 de fevereiro do ano passado, Dirceu Lanzarini, que exercia cargo de secretário especial da Casa Civil, no Governo de Mato Grosso do Sul, foi atingido na cabeça e morreu horas depois em Dourados. Kesley foi ferido no braço e de raspão no pescoço, mas sobreviveu.
Para o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), responsável pela acusação, o homicídio e a tentativa de assassinato foram praticados mediante recurso que dificultou a defesa das vítimas, tendo o Luis Fernandes agido repentinamente contra pessoas desarmadas, que estavam no interior do veículo. O motivo dos crimes, segundo a denúncia, é fútil, porque ele agiu quando conversavam sobre trabalho referente ao plantio e outros serviços.
O júri de “Paraguaio” começou por volta das 9h desta sexta-feira e não tem hora para acabar. Até às 12h30, o réu ainda não havia sido ouvido. Preso, ele participa do julgamento, realizado no Fórum de Amambai, por videoconferência.