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Cidades

Sobreviventes contam desespero durante atentado à bomba em ônibus

Aline dos Santos e Paula Vitorino | 06/06/2011 11:30

“Vi o fogo no meu corpo e tentei apagar com as mãos”

Vítima de atentado, o motorista Laércio sofreu queimaduras de 2º e 3º grau. (Foto: João Garrigó)
Vítima de atentado, o motorista Laércio sofreu queimaduras de 2º e 3º grau. (Foto: João Garrigó)

Da cintura para cima, o motorista Laércio Xavier Correia tem apenas olhos, boca e nariz livre de ataduras. O restante do corpo foi tomado por queimaduras após o ônibus escolar que dirigia ter sofrido um atentado.

Na noite da última sexta-feira, pedras e um coquetel molotov (espécie de bomba caseira) foram arremessados contra o veículo, que retornava de Miranda para a aldeia Cachoeirinha.

Internado na Santa Casa de Campo Grande, ele conta que avistou um homem de jaqueta correndo perto do ônibus. “Vi a chama, a explosão e pulei pela janela”, relata, sobre os momentos de terror. Laércio foi o mais atingido pelas chamas, sofrendo queimaduras de 2º e 3º grau.

Sentada atrás do banco do motorista, a estudante terena Lurdivane Pires traz no corpo as marcas do atentado. “Vi o fogo no meu corpo e tentei apagar com as mãos. Fui para a janela e pedi socorro”, relata.

Somente seus pés ficaram a salvo das chamas. “Antes de acontecer o ataque, vi uma fogueira na beira da estrada. Pensei que fosse fogo no pasto. Nunca imaginei que seria uma coisa dessas”, conta.

Também internada na Santa Casa, Rosana de Oliveira Martins diz não se lembrar do que aconteceu. “Nem sei como sai do ônibus, quando vi já estava no hospital”. Em meio à confusão, a estudante bateu a cabeça. Ela teve queimaduras nas mãos.

Marido de Rosana, Edvaldo Francisco Martins, de 29 anos, acompanha a esposa no hospital. Ele cota que a bomba caseira foi jogada na frente do veículo, justamente onde havia a única porta do veículo. “Não dava para sair. O pessoal começou a desesperar. Quebravam as janelas e saíam desesperados”, recorda Edvaldo.

Para ele, o ataque está relacionado à disputa de terras com fazendeiros. “A gente sempre sofre ameaças”, salienta.

O adolescente Edson Vieira Leite, de 15 anos, também ficou ferido e foi trazido para Campo Grande. O ônibus transportava 30 alunos indígenas que cursam o Ensino Médio em Miranda.

Hoje, a Polícia Civil vai ouvir testemunhas e cogita a hipótese de transferir o caso para a PF (Polícia Federal).

Só os pés de Lurdivane escaparam a salvo das chamas. (Foto: João Garrigó)
Só os pés de Lurdivane escaparam a salvo das chamas. (Foto: João Garrigó)
Rosto com queimaduras depois do atentado. (Foto: João Garrigó)
Rosto com queimaduras depois do atentado. (Foto: João Garrigó)

Conflito - Os índios lutam pela ampliação da aldeia Cachoeirinha. A portaria do Ministério da Justiça reconhecendo a área indígena é de 2007. Desde então, há uma guerra judicial e diversas ocupações em busca da posse das terras.

No ano passado, o procedimento administrativo de demarcação foi parcialmente suspenso por decisão liminar proferida pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

A Funai (Fundação Nacional do Índio) chegou a depositar R$ 1,3 milhão em juízo, referente ao valor das benfeitorias. Mas os proprietários não aceitaram o acordo e recorreram. Uma das propriedades em disputa é a fazenda Petrópolis, que pertence à família do ex-governador Pedro Pedrossian.

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