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Em Pauta

A evolução explica o cérebro dos antiroda e antivacina

Mário Sérgio Lorenzetto | 08/07/2021 07:00
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O primeiro passo foi notar que coisas redondas rolam morro abaixo melhor que coisas com protuberâncias. O segundo foi perceber que, se criassem uma ferramenta para esculpir algo e torná-lo mais redondo, esse objeto rolaria melhor. O terceiro foi mostrar a um amigo suas novas coisas redondas que rolam, momento no qual ele pensou em juntar quatro coisas redondas para fazer uma carroça. O quarto passo foi construir uma frota de carruagens cerimoniais, de forma que a plebe visualizasse a glória do reinado da era em que inventaram a roda. Um reinado benevolente, porém implacável com seus adversários. Mas, pasmem, há um provável quinto passo nessa história: o surgimento dos antiroda, aqueles que não aceitavam essas coisas redondas andando nas ruas.


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A primeira roda surgiu na Mesopotâmia.

Na verdade, a roda foi inventada bem tarde, quando a humanidade já passara milhares de anos se virando sem ela. A primeira roda na história arqueológica, que apareceu há cerca de 5 mil anos, na Mesopotâmia (aquele pedaço de terra que hoje é a Turquia, a Síria e o Iraque), nem era usada para transporte: era uma roda de oleiro. E essa roda, por incrível que pareça, não teve opositores. Foi só depois de centenas de anos que alguém teve a brilhante ideia de colocar a roda de oleiro em baixo de uma prancha e criar a carroça.


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A criação da vacina na China.

Sim, a vacina é chinesa. Os primeiros vestígios do uso de vacinas, com a introdução de vírus atenuados no corpo das pessoas, estão relacionadas ao combate da varíola, na China do século X d.C.. Os chineses trituravam cascas de feridas de gente com varíola e assopravam esse pó, com o vírus morto, no rosto das pessoas sãs. Da China, para a Turquia foi um pulo mas os turcos acrescentaram uma novidade: raspavam o braço das pessoas e colocavam o pó obtido com a mesma prática chinesa. E foi vendo os turcos vacinando que uma madame inglesa, de nome Lady Mara Montagu, teve a ideia de realizar essa prática na Inglaterra. Nas terras da rainha, a vacina ganhou forte e truculenta oposição, são os avós dos atuais antivacina.


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O cérebro dos antiroda e antivacina.

Apesar do cérebro humano ser impressionante, ele também é bastante esquisito e propenso a criar problemas horríveis no pior momento possível. Temos o hábito de tomar péssimas decisões, acreditar em coisas ridículas, ignorar fatos que estão bem debaixo de nosso nariz e bolar planos que não fazem sentido algum. Nossa mente é capaz de criar cidades e a teoria da relatividade, mas, pelo visto, é capaz de criar movimentos contra as rodas e contra as vacinas.


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A evolução explica.

O problema é que a evolução não é um,processo inteligente. É, no mínimo, um processo persistentemente burro. A única coisa que importa para a evolução é que você sobreviva por tempo suficiente para passar seus genes adiante. Tesão é boa alimentação, são o suficiente. Se você conseguir fazer isso, missão cumprida. Pode continuar lutando contra a roda e contra a vacina que seu tatatatataraneto não saberá. Da mesma forma, a evolução não valoriza a cautela. Ela, em hipótese alguma diz: "vacinar e andar sobre rodas é meio chato, mas temos de agir assim". Só quer saber de sexo e alimentação. Joga um monte de organismos famintos e cheios de tesão em um mundo perigoso e inclemente. E fica observando quem fracassa menos. Já começaram a exigir motos com rodas quadradas? As motos, como a cloroquina e os discursos antivacina, se tornaram um símbolo no Brasil.

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