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As vacas e o meio ambiente: entre a realidade e a lenda

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 08/03/2025 07:00
As vacas e o meio ambiente: entre a realidade e a lenda

Resultado de recentes pesquisas demonstram que a produção extensiva, vaca no pasto, tem um impacto ambiental várias vezes menor que a criação intensiva. Para muitos especialistas, no entanto, os níveis de produção de vacas impõe um custo ambiental que é motivo de debate e controvérsia internacional. Alguns colocam as vacas no banco dos réus devido à deterioração ambiental.


As vacas e o meio ambiente: entre a realidade e a lenda

A pesquisa da Universidade de Oxford.

Em 2018, veio a bomba: as vacas destroem o meio ambiente. Uma pesquisa realizada pela renomada Universidade de Oxford, baseando-se em dados de 119 países, atribuiu à cadeia bovina um impacto desproporcional na emissão de gases estufa, no uso de água e da terra, e na contaminação ambiental. Os pecuaristas do mundo todo, junto com as empresas petrolíferas, passaram a ser tratados como criminosos ambientais. Conforme Oxford, teríamos de abandonar nossos bifões, virarmos vegetarianos.


As vacas e o meio ambiente: entre a realidade e a lenda

Compararam um quilo de carne com um de trigo.

Comparando globalmente um quilo de carne bovina e um quilo de trigo, os cientistas de Oxford concluíram que produzir carne implica emitir 63 vezes mais carbono, usar 83 vezes mais terra, desmatar 10 vezes mais áreas de matas nativas, utilizar 8,5 vezes mais água doce e contaminar 42 vezes mais o ambiente. Os números chocaram o mundo. São cifras que podem ter algum significado especial em países ou regiões nas quais a produção bovina compete por recursos escassos como a terra e a água com outros setores econômicos que também os demandam e, dada sua importância, se refletem em informes e debates internacionais. Todavia, estudando minuciosamente os dados de Oxford, complementados com recentes pesquisas, estabeleceu-se uma realidade um tanto diferente: as vacas criadas no pasto ocasionam quase nenhum problema ao meio ambiente, o verdadeiro vilão ambiental é o criador de vaca no modelo intensivo.


As vacas e o meio ambiente: entre a realidade e a lenda

A soma do carbono até o prato.

O método utilizado por Oxford não é o mesmo para outros produtos que geram problemas ambientais. O que eles fizeram foi somar a marca de carbono quantificada por tonelada de carne produzida. Isso significa que somaram o carbono emitido em cada elo da cadeia produtiva, desde a produção na fazenda passando pelo frigorífico, até o empacotamento, transporte e distribuição ao varejo. É óbvio que tal soma de carbono só poderia ser alta. Imaginem apenas o transporte de vacas e de carne em caminhões jogando fumaça de diesel pra todos os lados…


As vacas e o meio ambiente: entre a realidade e a lenda

A mitigação.

O problema tem outras facetas. Não abordarei nem o fato de que a proteína da vaca é nutricionalmente essencial para o desenvolvimento humano e que necessitamos de 454 gramas de feijão para igualar 85 gramas de um bom bife. O outro problema da contabilidade de Oxford foi de não colocar na equação a captura de carbono que ocorre na vegetação e no solo das fazendas. Eles só computaram as emissões de gases estufa. Esqueceram da mitigação, essa conta em que temos de subtrair a emissão da captura de carbono.


As vacas e o meio ambiente: entre a realidade e a lenda

O pum da vaca.

Outro problema metodológico é o metano emitido pelos bovinos. Se trata de um potente gás de efeito estufa com um poder de aquecimento global 30 vezes superior ao CO2. Não obstante, o metano tem uma persistência na atmosfera 100 vezes menor que o CO2 e o carbono que íntegra sua molécula não é de origem fóssil, e sim de uma reciclagem biológica. Os pastos absorvem carbono atmosférico mediante a fotossíntese e o gado, ao metabolizá-lo, o devolve à atmosfera como metano. Na prática, ainda que o gado emita metano, o balanço bruto de carbono é zero.


As vacas e o meio ambiente: entre a realidade e a lenda

Intensiva contra a extensiva.

Resultado de pesquisas recentes demonstram que, por hectare de criação bovina, a produção extensiva tem um impacto ambiental varias vezes menor que a intensiva. Na prática, ao não contaminar nem competir por terra e por água com outras atividades humanas, o impacto da bovinocultura perde relevância. Mais além do discurso, há outras realidades que devem ser consideradas em vez de julgadas de forma parcial.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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