Fugitivos, desordeiros e cachaceiros: os anos iniciais de C.G
No inócuo, uma epopeia. Duzentos bois de canga puxando onze carroças cortaram os rios Paranaíba, Sucuriú e Verde, além do rio Pardo, vindo das “Gerais”, de Monte Alegre. Aqui chegaram organizados por José Antônio Pereira, dois filhos e outros dois companheiros. Longos dias se passaram desde a largada dessa maratona de enormes sacrifícios. Pernoitavam acendendo fogueiras para espantar a enorme quantidade de onças e dormiam embaixo das carroças. Deslumbraram-se e não se contiveram com a beleza dos enormes campos que se perdiam de vista e veio a exclamação: “Que Campo Grande!”. Criavam o nome desta capital em 1.875.
Os primeiros ranchos.
Com a construção dos ranchos provisórios, próximos uns aos outros, à margem do Prosa, foi dado o inicio da povoação. Há um ótimo texto histórico que afirma que eles “souberam se defender dos silvícolas [ indígenas ], que sabiam agressivos”. É história única. Não temos confirmação alguma de que existiram embates entre os pioneiros e indígenas. A impressão que fica é a de que eventualmente eles apareciam entre os brancos e nada mais.
Absoluta falta de gente.
Esta terra, como todas as demais do Mato Grosso do Sul, não tinha seres humanos. Era mato puro. Raríssimos indígenas. Nenhum banco e nem negro. A única exceção é a terra entre Aquidauana e Miranda, por lá existiram contingentes razoáveis de indígenas. Tal como hoje, havia absoluta falta de gente. Esse sempre foi o maior problema para o desenvolvimento e progresso deste imenso território.
O primeiro armazém.
Por catorze anos durou o lento desenvolvimento de Campo Grande. Começaram a chegar mais caravanas que vinham de Nioaque para casamentos. Existia um rego-de-água tirado da rua Maracajú onde construíram, incrivelmente de tijolos, a “casa comercia de Felisberto Carvalho“. Era nesse lugar onde se encontravam boiadeiros vindos de Uberaba. Muitos deles tinham escapado das cadeias mineiras. Aqui havia gente valente e rústica. Desordeiros, acostumados às brigas, esquentados pelo frequente uso da cachaça, que provocavam tremendos tiroteios, não raramente matando muitos.
O local preferido dos jovens das fazendas da Vacaria.
Campo Grande foi formada por esse conjunto de gentes vindas das “Gerais”, de Nioaque e de jovens da Vacaria - a extensa área que vai de Jardim a N.Andradina. Uma das características marcantes desse pioneiros era a valente disputa pelas raríssimas donzelas. Gente forte, disputavam as moças com coragem.
A “captura” matava em um dia o equivalente a um ano.
Não havia policiamento. Nem sombra de alguma ordem no vilarejo. A lei era a do 38, quem atirasse melhor, vencia a contenda. Esse clima de insegurança levou os familiares e amigos do José Antônio Pereira e morar nas fazendas mais distantes do povoado. É o piro dia do ano era quando chegava a “captura”, o policiamento vindo de Nioaque ou de Miranda. Cometiam mais crimes em um só dia que o povo local cometia em um ano. Era um dia de morte. Foi a época mais difícil por que passou Campo Grande.
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