O coração antigo era vida, mais importante que o cérebro
Em 1.908, arqueólogos descobriram a pintura rupestre de um mamute com um coração vermelho desenhado em seu peito, em El Pindal, uma caverna localizada em Astúrias, na Espanha. A pintura tem entre 14 e 20 mil anos. O artista que pintou o animal provavelmente sabia que a melhor maneira de matá-lo era acertando este órgão. Começava a longa caminhada do coração na história humana.
Tomar o pulso, os mesopotâmicos conheciam o coração.
Quando há aproximadamente 12 mil anos, os humanos começaram a viver em cidades, acreditavam que o coração era o órgão mais importante do corpo, a razão pela qual estavam vivos. Na “Epopéia de Gigalmesh”, o texto mais antigo que conhecemos, o herói dessa história tenta reviver um amigo, e encontra um coração que deixou de bater. Descobre que o amigo está morto tomando seu pulso inativo. É a primeira referência na história ao gesto de tomar o pulso. Os mesopotâmicos não conheciam bem a anatomia e a fisiologia humana porque um tabu religioso os impediam de realizar dissecações em humanos. No entanto, acreditavam que o coração era a localização do intelecto; o fígado, era da afetividade; o estômago, da engenhosidade e o útero da compaixão. O cérebro não aparece nas tabuinhas de argila dos mesopotâmicos, não tinha importância alguma.
O coração leve dos egípcios levava ao paraíso.
Os egípcios acreditavam que Anúbis, o deus dos mortos -representado com a cabeça de um chacal por esse animal vagar pelos cemitérios - era quem se encarregava de levar os defuntos a Duat, o inframundo. O morto era levado ante Osíris e perante um tribunal de 43 divindades, na Sala de Maat, era julgado por essa deusa da justiça. Ali pesavam o coração do falecido, em um prato da balança da justiça. No outro prato ficavam a pluma de Maat, uma pluma de avestruz que representava a verdade. Se o coração era leve, significava que a pessoa teve uma vida virtuosa e era levada para o “Campo de Juncos”, o paraíso celestial egípcio. Se era mais pesado que a pluma, seria devorado pela deusa Ammit, que tinha cabeça de crocodilo, corpo de leão e traseiro de hipopótamo. A alma deixava de existir. Como praticavam o embalsamamento, os egípcios, ao contrário dos mesopotâmicos, conheciam bem a anatomia humana. Todavia, valoravam o cérebro da mesma maneira, tão inútil que era jogado no lixo durante a mumificação. Já o coração, era o único órgão que permanecia no corpo do cadáver embalsamado.
O rei dos órgãos para os chineses.
Para os antigos chineses, o coração era o rei dos órgãos. Todos os órgãos deviam se sacrificar pelo coração. Dava a energia para ajudar a manter o equilíbrio humano. Proporcionava a paz e a harmonia corporal. Era a força que garantia o bem-estar físico, mental, emocional e espiritual. Existe um texto denominado “Huangdi Neijing”, o mais importante da medicina chinesa - até hoje - que coincide com as tabuinhas mesopotâmicas e com os escritos de Imhotep, o médico egípcio que virou deus por bem entender o coração. Para essas três culturas - as mais antigas do mundo - o coração era o órgão governante indiscutível e o fator que determinava a vida.
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