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A inteligência artificial pode "emburrecer" as pessoas?

Por Lia Rodrigues Alcaraz (*) | 26/08/2025 14:05
A inteligência artificial pode "emburrecer" as pessoas?
(Foto: Reprodução/Freepik)

O avanço da inteligência artificial trouxe inúmeros benefícios para a sociedade, entre eles a praticidade no acesso à informação. O uso de ferramentas como o ChatGPT, o Google, entre outras tantas, permite respostas imediatas a perguntas simples e complexas, oferecendo recursos que vão desde o auxílio em pesquisas até a elaboração de textos. No entanto, surge a preocupação de que esse acesso rápido e facilitado possa contribuir para um processo de “emburrecimento”, caso os usuários passem a depender da tecnologia sem desenvolver suas próprias habilidades de estudo, análise e reflexão.

É inegável que o aprendizado exige esforço cognitivo. Ler, interpretar e refletir sobre um tema demanda tempo e dedicação, e é justamente esse processo que fortalece a capacidade crítica do indivíduo. Ao recorrer a respostas prontas sem questionamento, há o risco de se criar uma passividade intelectual, na qual o sujeito consome conteúdo, mas não constrói conhecimento. Esse fenômeno já foi observado em outras revoluções tecnológicas, como com a chegada da televisão, quando se achava que as pessoas teriam problemas oculares, e com a popularização da calculadora, que diminuiu o hábito de cálculos mentais. Tais exemplos foram sempre regados a conceitos catastróficos, muitas vezes formulados apenas devido ao grande medo da mudança.

No entanto, a inteligência artificial não deve ser vista apenas como ameaça. Assim como a calculadora não extinguiu a matemática, o ChatGPT e outras tecnologias artificiais não eliminam a necessidade de estudo e não dão informações suficientes para fazer uma boa pesquisa. O que define seu impacto é a forma como as ferramentas são utilizadas; se usadas como apoio, podem facilitar o aprendizado, resumindo conteúdos complexos, organizando ideias e ampliando o acesso ao conhecimento. Pois, se pararmos para pensar, antes de existirem as ferramentas, pesquisava-se na internet e, antes ainda, nas bibliotecas, mas a pesquisa sempre existiu, e o que se alterou com o tempo foi o local da pesquisa. Nesse sentido, cabe ao usuário e também às instituições educacionais orientar o uso responsável, incentivando que a tecnologia seja um ponto de partida para a pesquisa, e não um substituto completo da reflexão.

Devemos então pensar que, embora exista o risco de um “emburrecimento” decorrente da dependência sem medidas das inteligências artificiais, a responsabilidade está no modo de uso e que, quando utilizada como complemento ao estudo, a tecnologia pode enriquecer o processo de aprendizagem, tornando o acesso ao saber mais acessível e democrático.

(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) em 2011, especialista em orientação analítica em 2015 e neuropsicóloga em formação em 2024. Trabalha como psicóloga clínica na Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul) e em consultório.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.