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Dia dos Namorados: não aceite doces de estranhos

O envenenamento intencional e seus efeitos psicológicos na sociedade

Por Lia Rodrigues Alcaraz (*) | 12/06/2025 08:25

Nos últimos meses, o crescimento de casos de envenenamento intencional tem acendido um alerta preocupante no Brasil,  mais do que um ato de violência física, esse tipo de crime representa uma ameaça silenciosa, traiçoeira e profundamente impactante para o psicológico das vítimas, de suas famílias e da sociedade de forma generalizada. Recentemente o caso de uma adolescente de 17 anos que recebeu em sua casa um bilhete de um suposto admirador secreto que lhe enviou doces e que ao ingerir a mesma acabou falecendo, despertou muita comoção pública. A mesma gravou vídeo e mandou mensagem de voz para os amigos questionando quem poderia ser o suposto “admirador”. Outro caso bastante chocante foi de uma família inteira que foi envenenada em um almoço e que inclusive causou vítimas fatais em crianças da mesma família, casos que começaram a ser cada vez mais corriqueiros e chocantes pela frieza e premeditação intencional.

O envenenamento intencional se caracteriza como uma forma de agressão premeditada, muitas vezes praticada por alguém próximo à vítima. Por isso, os danos psicológicos causados vão além da dor física: envolvem sentimentos de violação, medo e desconfiança. A vítima não sofre apenas com as sequelas do veneno, mas com a perda de segurança e de estabilidade emocional, ao perceber que foi alvo de um plano cruel vindo, muitas vezes, de quem se esperava proteção ou afeto, sentimentos esses que ocorrem quando a vítima consegue não ser fatal, mas que ocorrem nos familiares e na sociedade como um todo, com o dia dos namorados chegando, isso se alarma cada vez mais, como ter a certeza que o presente misterioso é seguro?

O sentimento de insegurança cresce, principalmente quando o agressor  é alguém do convívio familiar, afetivo ou profissional, a vítima e sua rede de apoio passam a experimentar sentimentos de traição, insegurança e vulnerabilidade. Isso pode desencadear distúrbios psicológicos graves, como transtorno de ansiedade generalizada, estresse pós-traumático e até fobia social. A ideia de que o perigo pode estar dentro de casa ou no ambiente de trabalho altera drasticamente a forma como as pessoas se relacionam, gerando isolamento e sofrimento psíquico prolongado.

Com a ampla divulgação desses casos pelos meios de comunicação, forma-se um clima de paranoia coletiva, no qual ações simples como, aceitar uma bebida, comer um alimento oferecido por alguém ou tomar um remédio passam a ser vistas com desconfiança, não que essas ações fossem totalmente permitidas antes, como bem dizem as mães quando um filho(a) sai de casa sozinho pela primeira vez, "não aceite nada de estranhos”, "não beba nada que já estiver aberto”, frases bem comuns na vida de pais que estão educando os filhos para o convívio em sociedade sem a presença deles. No entanto, com todos esses casos noticiados, a preocupação é o ficar em estado de alerta constante, pois isso desgasta emocionalmente a população, aumentando os índices de transtornos mentais e diminuindo a qualidade de vida.

Devemos considerar tambem o impacto psicológico nas famílias e comunidades das vítimas fatais. A dor da perda, somada à brutalidade e à covardia envolvidas em um envenenamento, gera um sofrimento emocional intenso, muitas vezes agravado pela lentidão da justiça ou pela dificuldade em identificar o culpado. O luto nesses casos tende a ser mais traumático, e o sentimento de impunidade pode gerar revolta, frustração e descrença nas instituições sociais.

O aumento dos casos de envenenamento intencional revela uma faceta cruel da violência moderna, que atinge não apenas o corpo das vítimas, mas também a saúde psicológica da sociedade como um todo. Combater esse crime exige ações integradas que envolvam punição, prevenção e cuidado com a saúde mental, pois só assim será possível restaurar os vínculos sociais e garantir uma convivência mais segura e saudável.

(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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