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Economia

Consumo de carne em queda empurrou preço para baixo, do produtor ao consumidor

Dados mais recentes do IPCA mostram índice negativo no valor dos cortes bovinos, com redução média de 10,15%

Lucia Morel e Ana Beatriz Rodrigues | 14/09/2023 18:39
Freezer lotado com carne em mercado no bairro Tiradentes. (Foto: Osmar Daniel Veiga)
Freezer lotado com carne em mercado no bairro Tiradentes. (Foto: Osmar Daniel Veiga)

O baixo consumo de carne fez o preço do item cair desde o produtor até o consumidor. Chama atenção nos dados mais recentes do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) o índice negativo no valor dos cortes bovinos, com redução média de 10,15% desde janeiro. Em 12 meses, o percentual é de -10,79%.

O corte que teve maior queda foi a costela, que no ano reduziu 15,67%. Em seguida, o músculo caiu 11,70% e a capa de filé 10,40%. Veja nesta página o índice de redução de outros cortes.

Conforme o vice-presidente do Sicadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul), Sérgio Capuci, o único movimento visível para essa redução de preços é o baixo consumo de carne pela população. Por outro lado, a oferta se manteve alta no pasto e no abate, mas sem a compra, os produtores e frigoríficos foram obrigados a baixar o preço. A informação é corroborada pelo presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Guilherme Bumlai.

“Caiu o consumo de carne per capita no Brasil e provavelmente por questão econômica mesmo, não vejo como questão ideológica não. Porque obviamente, há uma questão econômica de baixo poder aquisitivo da população”, comentou Capuci.

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Bumlai, por sua vez, afirma que “há muitos animais sendo ofertados e uma diminuição no consumo, mas de alguma forma esse consumo já deveria ter aumentado um pouco, mas isso ainda não é uma realidade”. Ele avalia que o varejo (açougues e mercados) não reduziram tanto o preço da carne na mesma medida em que ele caiu para o produtor e para os frigoríficos.

“O produtor repassa, em média, o quilo da carne a R$ 13,00 pro frigorífico e para o consumidor chega a R$ 30,00. Dava pra estar mais barato isso aí, pelo menos uns 10%”, avalia. Caso isso ocorresse, segundo ele, o consumo já teria aumentado e os preços estariam mais equilibrados. Bumlai reclama que ano passado, a arroba do boi chegou a R$ 300,00, mas agora está em R$ 210,00, queda de 30%. Entretanto, o preço ao consumidor caiu bem menos que isso, cerca de 10%.

Mesmo assim, Mato Grosso do Sul é o estado onde a arroba está mais cara entre os demais produtores, porque houve a capacidade de reduzir o número de abates em relação a Rondônia ou São Paulo, por exemplo. Neles, a arroba está em média R$ 200,00, segundo o vice-presidente do Sicadems.

Por conta disso, há movimentação de produtores para redução ainda maior no número de abates para tentar reduzir as perdas e não haver mais baixas no preço. “Há uma movimentação para a redução no número de abates, porque a saída é reduzir oferta do produto e sabemos também que há margem para que o preço da carne na ponta (açougues e mercados) reduza”, cita o presidente da Acrissul.

Corte de carne sendo preparado para compra. (Foto: Osmar Daniel Veiga)
Corte de carne sendo preparado para compra. (Foto: Osmar Daniel Veiga)

Por fim, Capuci comenta que ninguém previu que a queda no preço, principalmente ao produtor, seria tão grande. “É muito difícil prever, ninguém imaginava cair tanto assim. Mesmo os melhores analistas de mercado acertaram essa queda tão brusca assim, acho que porque o problema maior mesmo é o baixo consumo por falta de poder aquisitivo”, avalia.

Nos açougues – O eletricista de automóvel Waldecir Dias da Silva, de 60 anos, afirma que sentiu no bolso a queda no preço da carne. “Teve uma queda sim, o meu bolso percebeu, e olha que eu não compro aqui direto. Às vezes compro em outros açougues e percebi que baixou lá também”, afirmou. Ele estava em açougue no bairro Tiradentes, assim como os demais ouvidos abaixo.

Conforme o consumidor, houve diferença entre R$ 10,00 e R$ 12,00 para menos dependendo do  corte. “Na paleta e no coxão mole deu pra perceber”, citou, reforçando que “antes, quando o preço da carne tava alto, eu dava um jeitinho com o frango e linguiça, tinha que usar a criatividade”, riu.

A vendedora e dona de casa Lavínia Lima, 25 anos, disse que tem se alimentado mais com frango ultimamente justamente porque a carne estava muito cara. “O preço não está muito barato, mas em comparação do que era há uns meses atrás, já está mais acessível pro churrasco do fim de semana”, sustenta.

Por fim, dona de açougue e dona de casa, Dayana Solano, de 42, comentou que a dica para a dona de casa é pesquisar preço e tentar comprar a carne mais barata. “Tipo às segundas, a oferta é agulha moída, que é boa pra pra fazer com batatinha e dá pra economizar”, disse. Os cortes mais caros, como para bife, “tem o coxão duro, então o segredo é ir pesquisando e calculando”.

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