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Economia

Grupo parte para ‘test drive’ em megaestrada que vai tirar Bioceânica do papel

Última expedição ocorreu em 2017; agora a caravana verá rota estruturada, apesar de obras ainda em andamento

Por Jhefferson Gamarra | 22/11/2023 08:47


Veículo em comboio saindo de Campo Grande em 2017 (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Veículo em comboio saindo de Campo Grande em 2017 (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Após anos de negociações e projetos, empresários brasileiros estão perto de ganhar uma saída para o Pacífico com a concretização da Rila (Rota de Integração Latino-Americana), conhecida como Rota Bioceânica, iniciativa conjunta entre Brasil, Paraguai, Argentina e Chile que consiste em um corredor rodoviário de mais de 2.300 quilômetros, que vai ligar o Brasil ao polo portuário do norte do Chile.

Prevista para entrar em operação em 2025, o novo eixo logístico da América do Sul foi criado por várias obras em cada país, além do uso das estruturas já existentes, para interligar o corredor. A estimativa para quando o corredor estiver consolidado, sem problema aduaneiros, com boa estrutura de postos e hotéis, a Rota Bioceânica deverá injetar US$ 300 milhões ou R$ 1,476 bilhão por ano (na cotação atual) na economia de Mato Grosso do Sul.

Para fazer o ‘test drive’ da megaestrada, na próxima sexta-feira (24), caravana composta por empresários, imprensa, representantes de entidades do setor produtivo, do governo e de instituições de ensino e pesquisa sairá de Campo Grande rumo aos portos de Iquique e Antofagasta, no Chile, atravessando Paraguai e Argentina.

Esta será a 3ª expedição organizada pelo Setlog MS, que há dez anos encabeça o projeto que pretende dar mais competitividade ao exportar os produtos para os mercados asiáticos e que também contemplará todo o oeste da América do Norte. Neste ano, participarão do trajeto 110 pessoas em 35 camionetes.

“Vamos chegar e participar da maior feira de empresários do Chile, que acontece em Iquique, onde teremos muitos empresários chineses. Mato Grosso do Sul estará muito bem representado com esse grupo especial que está indo na expedição”, diz o presidente do Setlog MS (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul), Claudio Cavol.

Presidente Setlog, Claudio Cavol, durante lançamento da expedição em 2017 (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Presidente Setlog, Claudio Cavol, durante lançamento da expedição em 2017 (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Na última expedição realizada em 2017, o comboio levou apenas caminhonetes e desta vez, com o avanço das obras de pavimentação no Chaco paraguaio e a construção da ponte binacional, caminhão frigorífico carregado com proteína animal irá percorrer o trajeto até os portos chilenos, para tirar a prova real quanto à viabilidade da rota.

“Durante a expedição, vamos levar um caminhão frigorífico com carnes, que será pioneiro a ir para o Chile, saindo de Campo Grande vai chegar descarregar em Iquique. Isso vai demonstrar para transportadores, produtores, expositores, frigoríficos e indústria em geral, se há viabilidade em usar a rota ou não”, comenta Cavol.

Assim como nas outras edições, a UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), que coordena uma rede de universidades dos países que compõe a Rota Bioceânica, irá percorrer o trajeto até o Chile.

No final da expedição, o grupo de pesquisadores lançarão três livros com estudos técnicos que vão dar suporte para a implementação do corredor, com informações e políticas públicas para o governo e também para os empresários.

Caminhão-cegonha carregado de veículo trafega pela Cordilheira do Andes (foto: Arquivo)
Caminhão-cegonha carregado de veículo trafega pela Cordilheira do Andes (foto: Arquivo)

“Quando foi iniciado o Corredor Bioceânico, foram criadas três instâncias de trabalho: governo, empresários e universidades. Com isso, a UEMS foi convidada para coordenar uma rede de universidades, chamada de UNIRILA, que conta com cinco universidades do Brasil, uma do Paraguai, uma da Argentina e três do Chile. Agora, nessa expedição, vamos lançar três livros que é resultado dessa rede”. Então a rede universitária foi criada para fazer estudos técnicos que vão dar suporte para a implementação do Corredor Bioceânico, com informações e políticas publicas para o governo e também para os empresários”, ressaltou o professor Ruberval Franco Maciel, coordenador-geral do projeto UEMS na Rota Bioceânica/RILA.

Ainda no contexto de pesquisa, o projeto UEMS na Rota que reúne 138 pesquisadores e 68 bolsistas, das mais diferentes áreas do conhecimento, desenvolveu trabalhos sobre a Rota Biocênica voltado à saúde e cuidados dos caminhoneiros no trajeto até o Pacífico, além de outros trabalhos de pesquisa e extensão alinhados com o projeto bioceânico, que vão desde logística, transporte, inovação, saúde, turismo e agronegócio.

Expedição em 2017 mostrou os desafios de estruturar rota sem asfalto. (Foto: Arquivo)
Expedição em 2017 mostrou os desafios de estruturar rota sem asfalto. (Foto: Arquivo)

Agilidade e empecilhos - A previsão é de que a saída de carga de Campo Grande para a China passe de mais de 50 dias hoje para pouco mais de 20 se feita via Iquique, no norte do Chile. O principal beneficiado com o Corredor Bioceânico será o Centro-Oeste, com a promessa de que poderá exportar de forma mais competitiva e ter seu mercado integrado ao restante da região. Estima-se que enviar um contêiner para a China pelo Corredor Bioceânico será aproximadamente 30% mais barato do que pela atual rota, saindo do Porto de Santos.

O transporte de grãos in natura, como soja e milho, principais produtos exportados por Mato Grosso do Sul, através do Corredor Bioceânico, enfrentará grande impasse devido a duas principais razões. Primeiramente, em 2019, o Ministério de Obras Públicas do Paraguai revogou a autorização para a entrada de caminhões bitrem do Brasil no país. A decisão prévia permitia apenas a circulação de caminhões brasileiros transportando soja pelo corredor graneleiro, desde a cidade de Pedro Juan Caballero, fronteira com Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, até o porto de Concepción, cerca de 215 quilômetros adiante.

Trecho da expedição no Deserto do Atacama (Foto: Silvio Andrade/Arquivo)
Trecho da expedição no Deserto do Atacama (Foto: Silvio Andrade/Arquivo)

A segunda questão diz respeito ao peso dos caminhões que transportam grãos brasileiros, equipados com sete eixos e capazes de transportar até 57 toneladas de peso bruto. Esses veículos não seriam capazes de atravessar a Cordilheira dos Andes, trecho montanhoso com inúmeras curvas e pontos perigosos. A configuração de peso desses caminhões de grãos não seria adequada para atravessar esse terreno de difícil tráfego.

Devido a essas problemáticas, o presidente do sindicato de transportes enfatizou que mesmo após a rota consolidada seria inviável o transporte de grãos in natura, dando oportunidade apenas para produtos industrializados que são transportados em veículos menores.

“O setor de logística está permanentemente em conversa com o governo Paraguai para que isso seja resolvido. Mas também sabemos mesmo que se for liberado, o bitrem ele não sobe na Cordilheira dos Andes, que é um caminhão muito longo e difícil, que precisaria de motor mais potente porque o peso é muito grande. A rota vai ser destinada a produtos com valor agregado maior, como industrializados e acabados, não os primários como é o caso da soja. Todo produto agrícola sem industrializar não terá oportunidade de sair por essa rota”, explicou Cavol.

Campo Grande News participou em 2017 e também embarca na aventura que começa na próxima sexta-feira. (Foto: Arquivo)
Campo Grande News participou em 2017 e também embarca na aventura que começa na próxima sexta-feira. (Foto: Arquivo)

Progresso – As obras para tornar a rota viável estão em curso. A Ponte da Bioceânica, conectando o Paraguai em Carmelo Peralta ao Brasil em Porto Murtinho, já passa de um terço de sua execução. Além disso, há o avanço na pavimentação de 600 quilômetros no Paraguai, divididos em três fases, com uma já concluída e outra em processo de licitação.

O empreendimento está sendo conduzido pelo Consórcio PYBRA, composto pelas empresas paraguaias Tecnoedil Ltda e pelas brasileiras Paulitec e Cidades Ltda. A previsão é de conclusão no primeiro semestre de 2025. A ponte terá 1.294 metros de comprimento e vão livre de 354 metros sobre o rio, mantendo a calha principal a 30 metros de altura para não interferir na navegabilidade da hidrovia.

Andamento das obras da ponte que ligará Porto Murtinho a Carmelo Peralta (Foto: Toninho Ruiz)
Andamento das obras da ponte que ligará Porto Murtinho a Carmelo Peralta (Foto: Toninho Ruiz)

A Usina Binacional Itaipú, do lado paraguaio, financia a obra, estimada em cerca de 100 milhões de dólares. Quando finalizada, essa passagem internacional fará parte da rota com destino aos portos chilenos de Mejillones, Antofagasta, Tocopilla e Iquique.

No lado brasileiro, o grande desafio está na construção das vias de acesso à ponte em Porto Murtinho, através da BR-267. Os recursos para viabilizar essa obra foram incluídos no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do Governo Federal. Em setembro, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) abriu a licitação para contratar uma empresa ou consórcio responsável pelo projeto e execução das vias de acesso à Ponte da Bioceânica.

De acordo com o edital, esses acessos terão aproximadamente 13,1 quilômetros, começando no quilômetro 678 da BR-267. O prazo estipulado para a execução dos projetos e obras é de 26 meses.

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